Capítulo 220: Psiquiatra

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POV Luna

Aquela expressão, apática, distante. Ela já não estava ali, provavelmente se esforçava para manter os olhos abertos.

— Cristal! Consegue me ouvir? — As batidas aceleradas do coração dela me deixavam ansiosa. — Fala comigo, já acabou, está segura.

O olhar dela estava atônito, ela já não estava consciente. Consequentemente, o rosto dela se choca contra o meu ombro, a pego no colo e percebo que Gabi encontrou um pano limpo para estancar o sangramento de Ivete.

— Como ela está? — Ivete questiona com uma voz de dor.

— Desacordada, vamos sair daqui logo antes que alguém nos veja ou reforços cheguem. — Ordeno enquanto a minha racionalidade ainda era capaz de controlar as minhas emoções e sentidos.

Gabi recolhe as bolsas de dinheiro enquanto Ivete pressionava o pano encharcado de sangue contra o ombro e eu coloco Cristal no banco do passageiro. Ajudo Gabi a recolher as armas dos policiais e todos os itens que nos possam ser úteis, não demoramos para guardar tudo no porta-malas do carro. Entro no banco do motorista e Ivete e Gabi ficam juntas nos bancos de trás, acelero até a vinícola sem me importar com sinais ou qualquer radar no caminho. Ouço Gabi conversar com alguém no rádio e configuro o meu para a frequência da facção.

Rádio ligado

(Renata): fala devagar Gabi, a sua voz está falhando!

(Gabi): a Amanda está na vinícola? — Ela falava silabadamente para que as meninas compreendessem.

(Maju): se não me engano, Priscilão é a única na vinícola agora. Por quê? Alguém se machucou?

(Alicia): a chefinha está bem?

(Gabi): Ivete está com uma bala alojada no ombro.

(Priscilão): não encontrei ela na casa, deve estar no hospital ainda. — A voz dela estava ofegante como se corresse por todos os cômodos da mansão.

(Renata): estou ligando para a Júlia, elas devem estar juntas.

(Maju): Ivete está desacordada? Não é melhor irem direto para o hospital?

(Ivete): estou acordada meninas, relaxem que vaso ruim não quebra. — Ela solta uma risada dolorida.

(Priscilão): elas acabaram de sair de um roubo, com um carro recheado de armas, dinheiro suspeito e chegam no hospital com uma bala alojada no ombro. Vão ser presas antes mesmo de passarem pela recepção. Ivete, consegue aguentar quanto tempo?

(Ivete): olha, vou ser bem sincera, a dor já estou acostumada. Não é a primeira vez, nem será a última, mas o sangramento me preocupa um pouco. Umas duas horas ainda aguento.

(Gabi): ela está exagerando, se não tirarmos a bala e fazer a sutura, ela vai desmaiar em menos de 40 minutos e entrar em choque hipovolêmico.

(Renata): Amanda está a caminho da vinícola, já avisei sobre a situação, estou com ela no celular, disse para pressionar o ferimento e manter a Ivete deitada.

(Luna): avisa a doutora que a Cristal desmaiou, ela não está machucada, mas acredito que a tensão deve ter gatilhado alguma crise nela.

(Priscilão): estão a quanto tempo da vinícola?

(Luna): menos de 10 minutos.

(Priscilão): vou preparar um quarto para a doutora realizar a remoção da bala da Ivete.

(Maju): Alicia, Lúcio e eu estamos a caminho da vinícola, alguns meninos estão nos seguindo, disseram que precisam conversar conosco, já pedi para não entrarem até resolvermos a situação da Ivete.

Rádio desligado.

Evitava olhar para Cristal enquanto dirigia para não perder o foco, mas inconscientemente conferia se ela ainda estava desacordada. Queria entrar nos sonhos dela, descobrir o que se passava na cabeça dela, entender como podia ajudar.

Rádio ligado

(Gabi): chegamos, alguma notícia da doutora?

(Renata): ela desligou, mas disse que está a alguns minutos da vinícola e que era para colocar a Cristal no quarto principal para que a psiquiatra dela avalie o caso enquanto ela irá cuidar da Ivete no quarto de baixo. Inclusive, ela está de moto com a Júlia e a psiquiatra está atrás delas de carro preto, escondam as armas.

(Maju): estamos acompanhando elas.

(Priscilão): arrumei o quarto da doutora para receber a Ivete.

Rádio desligado.

Gabi ajuda Ivete a sair do carro, ela já estava pálida devido à hemorragia. Pego Cristal no colo e subo as escadas, no último degrau, me deparo com Dona Marli saindo da ala das crianças com um rodo e um pano molhado.

— Senhorita, as meninas se agitaram do nada, aconte... Senhorita Giorno! Ela se machucou? — Assim que ela reconhece Cristal no meu colo e os respingos de sangue na minha roupa a deixou ainda mais preocupada.

— Não tenho tempo para explicar. — Caminho para o quarto principal e agilmente a senhora abre a porta para mim.

Deito Cristal na cama e checo o pulso dela, acelerado.

— Dona Marli, sei que está preocupada, mas preciso que saia da casa por algumas horas. — Peço para não acontecer de ela fazer muitas perguntas e agravar mais a situação.

— Como assim garota? Senhorita Giorno está desmaiada, suas roupas estão sujas de... sinceramente nem quero saber a razão dessas manchas. Apenas me confirme que a senhorita não corre nenhum risco. — Percebo no olhar dela uma preocupação de mãe.

— Ela ficará bem, já chamamos ajuda, por favor atenda ao que solicitei e leve o senhor Gaspar junto. — Reforço o pedido.

— Irei o levar para andar pelas vinhas... cuide bem dessa menina. — Ela dá as costas, relutante e a ouço descer as escadas.

— Isso é só o que quero fazer. — Sussurro para mim mesma, quando percebo Maju entrar no quarto.

— Luna! — Viro para a encarar e percebo o seu olhar se arregalar. — Vá agora para o banho, a psiquiatra está lá em baixo e irá subir em instantes, ela não pode ver você coberta de sangue.

— Não saia do lado dela por mim. — Digo enquanto pego a primeira muda de roupa que encontrei no armário.

— Conta comigo, se apresse. — Ela também estava preocupada e ansiosa.

Entro no banheiro e ouço a porta se abrir. Tomo o banho mais rápido da minha vida, visto um short não muito curto preto e uma regata branca. Saio do banheiro e percebo uma médica de cabelos ruivos quase laranjas a examinar a Cristal ao lado da Maju.

— Como ela está? — Pergunto instintivamente.

— Provavelmente o desmaio ocorreu devido a algum estresse ou como a doutora Amanda já desconfiava, é uma reação a algum gatilho muito forte para ela. — A mulher de sardas e olhar incisivo se volta para mim. — Luna, certo? — Confirmo com a cabeça. — Sou Sophia, médica psiquiatra responsável pelo caso da senhorita Giorno, é uma pena que não tenhamos nos conhecido em melhores circunstâncias.

— De fato é uma infelicidade. — Digo sem saber como reagir a essa situação constrangedora.

— Acredito que saiba bastante sobre o estado psicológico da minha paciente, talvez até mais do que eu. Poderia me informar qual situação gerou essa reação? — Ela falava com um sorriso acolhedor.

— Não estava próxima a ela quando aconteceu. — Informo.

Nem a distância nos separa (Continuação)Onde histórias criam vida. Descubra agora