POV Luna
Aquela expressão, apática, distante. Ela já não estava ali, provavelmente se esforçava para manter os olhos abertos.
— Cristal! Consegue me ouvir? — As batidas aceleradas do coração dela me deixavam ansiosa. — Fala comigo, já acabou, está segura.
O olhar dela estava atônito, ela já não estava consciente. Consequentemente, o rosto dela se choca contra o meu ombro, a pego no colo e percebo que Gabi encontrou um pano limpo para estancar o sangramento de Ivete.
— Como ela está? — Ivete questiona com uma voz de dor.
— Desacordada, vamos sair daqui logo antes que alguém nos veja ou reforços cheguem. — Ordeno enquanto a minha racionalidade ainda era capaz de controlar as minhas emoções e sentidos.
Gabi recolhe as bolsas de dinheiro enquanto Ivete pressionava o pano encharcado de sangue contra o ombro e eu coloco Cristal no banco do passageiro. Ajudo Gabi a recolher as armas dos policiais e todos os itens que nos possam ser úteis, não demoramos para guardar tudo no porta-malas do carro. Entro no banco do motorista e Ivete e Gabi ficam juntas nos bancos de trás, acelero até a vinícola sem me importar com sinais ou qualquer radar no caminho. Ouço Gabi conversar com alguém no rádio e configuro o meu para a frequência da facção.
Rádio ligado
(Renata): fala devagar Gabi, a sua voz está falhando!
(Gabi): a Amanda está na vinícola? — Ela falava silabadamente para que as meninas compreendessem.
(Maju): se não me engano, Priscilão é a única na vinícola agora. Por quê? Alguém se machucou?
(Alicia): a chefinha está bem?
(Gabi): Ivete está com uma bala alojada no ombro.
(Priscilão): não encontrei ela na casa, deve estar no hospital ainda. — A voz dela estava ofegante como se corresse por todos os cômodos da mansão.
(Renata): estou ligando para a Júlia, elas devem estar juntas.
(Maju): Ivete está desacordada? Não é melhor irem direto para o hospital?
(Ivete): estou acordada meninas, relaxem que vaso ruim não quebra. — Ela solta uma risada dolorida.
(Priscilão): elas acabaram de sair de um roubo, com um carro recheado de armas, dinheiro suspeito e chegam no hospital com uma bala alojada no ombro. Vão ser presas antes mesmo de passarem pela recepção. Ivete, consegue aguentar quanto tempo?
(Ivete): olha, vou ser bem sincera, a dor já estou acostumada. Não é a primeira vez, nem será a última, mas o sangramento me preocupa um pouco. Umas duas horas ainda aguento.
(Gabi): ela está exagerando, se não tirarmos a bala e fazer a sutura, ela vai desmaiar em menos de 40 minutos e entrar em choque hipovolêmico.
(Renata): Amanda está a caminho da vinícola, já avisei sobre a situação, estou com ela no celular, disse para pressionar o ferimento e manter a Ivete deitada.
(Luna): avisa a doutora que a Cristal desmaiou, ela não está machucada, mas acredito que a tensão deve ter gatilhado alguma crise nela.
(Priscilão): estão a quanto tempo da vinícola?
(Luna): menos de 10 minutos.
(Priscilão): vou preparar um quarto para a doutora realizar a remoção da bala da Ivete.
(Maju): Alicia, Lúcio e eu estamos a caminho da vinícola, alguns meninos estão nos seguindo, disseram que precisam conversar conosco, já pedi para não entrarem até resolvermos a situação da Ivete.
Rádio desligado.
Evitava olhar para Cristal enquanto dirigia para não perder o foco, mas inconscientemente conferia se ela ainda estava desacordada. Queria entrar nos sonhos dela, descobrir o que se passava na cabeça dela, entender como podia ajudar.
Rádio ligado
(Gabi): chegamos, alguma notícia da doutora?
(Renata): ela desligou, mas disse que está a alguns minutos da vinícola e que era para colocar a Cristal no quarto principal para que a psiquiatra dela avalie o caso enquanto ela irá cuidar da Ivete no quarto de baixo. Inclusive, ela está de moto com a Júlia e a psiquiatra está atrás delas de carro preto, escondam as armas.
(Maju): estamos acompanhando elas.
(Priscilão): arrumei o quarto da doutora para receber a Ivete.
Rádio desligado.
Gabi ajuda Ivete a sair do carro, ela já estava pálida devido à hemorragia. Pego Cristal no colo e subo as escadas, no último degrau, me deparo com Dona Marli saindo da ala das crianças com um rodo e um pano molhado.
— Senhorita, as meninas se agitaram do nada, aconte... Senhorita Giorno! Ela se machucou? — Assim que ela reconhece Cristal no meu colo e os respingos de sangue na minha roupa a deixou ainda mais preocupada.
— Não tenho tempo para explicar. — Caminho para o quarto principal e agilmente a senhora abre a porta para mim.
Deito Cristal na cama e checo o pulso dela, acelerado.
— Dona Marli, sei que está preocupada, mas preciso que saia da casa por algumas horas. — Peço para não acontecer de ela fazer muitas perguntas e agravar mais a situação.
— Como assim garota? Senhorita Giorno está desmaiada, suas roupas estão sujas de... sinceramente nem quero saber a razão dessas manchas. Apenas me confirme que a senhorita não corre nenhum risco. — Percebo no olhar dela uma preocupação de mãe.
— Ela ficará bem, já chamamos ajuda, por favor atenda ao que solicitei e leve o senhor Gaspar junto. — Reforço o pedido.
— Irei o levar para andar pelas vinhas... cuide bem dessa menina. — Ela dá as costas, relutante e a ouço descer as escadas.
— Isso é só o que quero fazer. — Sussurro para mim mesma, quando percebo Maju entrar no quarto.
— Luna! — Viro para a encarar e percebo o seu olhar se arregalar. — Vá agora para o banho, a psiquiatra está lá em baixo e irá subir em instantes, ela não pode ver você coberta de sangue.
— Não saia do lado dela por mim. — Digo enquanto pego a primeira muda de roupa que encontrei no armário.
— Conta comigo, se apresse. — Ela também estava preocupada e ansiosa.
Entro no banheiro e ouço a porta se abrir. Tomo o banho mais rápido da minha vida, visto um short não muito curto preto e uma regata branca. Saio do banheiro e percebo uma médica de cabelos ruivos quase laranjas a examinar a Cristal ao lado da Maju.
— Como ela está? — Pergunto instintivamente.
— Provavelmente o desmaio ocorreu devido a algum estresse ou como a doutora Amanda já desconfiava, é uma reação a algum gatilho muito forte para ela. — A mulher de sardas e olhar incisivo se volta para mim. — Luna, certo? — Confirmo com a cabeça. — Sou Sophia, médica psiquiatra responsável pelo caso da senhorita Giorno, é uma pena que não tenhamos nos conhecido em melhores circunstâncias.
— De fato é uma infelicidade. — Digo sem saber como reagir a essa situação constrangedora.
— Acredito que saiba bastante sobre o estado psicológico da minha paciente, talvez até mais do que eu. Poderia me informar qual situação gerou essa reação? — Ela falava com um sorriso acolhedor.
— Não estava próxima a ela quando aconteceu. — Informo.
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Nem a distância nos separa (Continuação)
FanfictionDentro de uma família, se criam laços, uns mais fortes que outros e o que elas criaram se tornou tão indestrutível que mesmo distantes, uma consegue sentir as emoções da outra. Mesmo que o mundo pareça estar contra, esse laço as uni, as prende. Essa...