Capítulo 215: Ideia maluca

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POV Cristal

Não sei descrever a sensação que me atingiu ao perceber que de fato não sofri sozinha durante todo esse tempo. Alivio não é a palavra certa para isso, felicidade também não. Talvez nem mesmo seja certo sentir isso, mas não estar sozinha na dor torna tudo muito mais fácil de encarar.

Luna e eu conversamos por mais tempo do que deveríamos, expliquei a ela a minha visão sobre o lugar que nos encontramos e contei sobre a primeira vez que cheguei até lá. Ela ficou em silêncio enquanto eu falava e fui a mais sincera que consegui.

Fomos interrompidas pela luz do sol que invadia as brechas da janela, ela boceja e percebo que lhe tomei uma noite de sono.

— Desculpa por mantê-la acordada, vou ler um livro para poder voltar a dormir. — Levanto da cama e caminho até a estante.

— Tem certeza que não quer tentar descansar antes das meninas acordarem? — Não respondo. — Sei como é assustador, mas pode conseguir informações importantes nesses sonhos. Às vezes, fico a me questionar como teria sido se, ao invés de suprimi-los, tivesse insistido em usá-los para a encontrar.

Sento na poltrona, leio um dos contos de terror de Edgar Allan Poe, o gato preto, e percebo que ela adormecera. Volto a atenção para as páginas sobre o meu colo quando uma conversa mais alta no corredor me distrai e vou até o corredor ver o que acontecia.

— Pelo amor de Deus, Renata! Fala baixo, olha a hora, vai acordar a patroa! — Maju dizia sem controle do volume da voz embolada pela bebida.

— É você que tá... — Renata vomita ao meu lado antes de terminar a fala.

— Patroa! — Spok se assusta com a minha presença. — Desculpa, vou a levar para ao quarto. — Ele sai da minha vista rapidamente e percebo que alguns respingos de vômito acertaram a minha roupa e a capa do livro nas minhas mãos.

— Seis tão de sacanagem com a minha cara! — Digo irritada, mas tento conter a minha voz para não chamar mais atenção e percebo Dona Marli no começo da escada. — Entrem para os quartos logo antes que eu expulse vocês a pontapés.

Maju e Alicia seguem em silêncio cambaleando o mais rápido que conseguiam para os quartos. Respiro fundo e me arrependo ao sentir o cheiro nojento que ficou nesse lugar.

— Senhorita Cristal, o que aconteceu? Ouvi uma discussão. — A senhora diz ao terminar de subir a escada ainda de pijama e uma touca de tecido nos cabelos brancos.

— As meninas exageraram na bebida durante a noite. Desculpa por acordá-la. — Digo enquanto analisava a cena e o estrago que fizeram no meu livro, por sorte a capa é reforçava e não parece ter chegado as páginas.

— Isso também foram elas? — Ela questiona enojada.

— Sim, Renata não aguentou chegar no banheiro. — Respondo.

— Pode deixar que vou limpar essa bagunça, vá tomar um banho relaxante, senhorita, e quando sair terá um café da manhã especial para acalmar os ânimos. — Dona Marli tenta dar mais um dos seus sorrisos acolhedores, mas era impossível não esboçar nojo diante daquela cena.

— Já estou toda suja, vamos limpar isso juntas, assim acaba mais rápido. — Ofereço contra a minha vontade, mas deixá-la fazer isso sozinha não era justo.

Quase vomitei enquanto lavávamos a porta e o chão sujo com os restos de muitos drinks e alguma comida que já estava tão digerida que nem conseguia identificar o que era antes. Assim que terminamos, entrei no quarto, limpei a capa do livro e fui para o banheiro preparar o meu banho. Esfrego todo o meu corpo e lavo o cabelo para garantir que não ficaria nenhum resquício de vômito em mim.

Nem a distância nos separa (Continuação)Onde histórias criam vida. Descubra agora