POV Luna
— Verdade e mentira. — A olho confusa. — Não é um lugar real, mas estávamos juntas nele. Acredito que não tenha como explicar onde estávamos, mas, pelo que pesquisei, algumas crenças e mitos chamam de purgatório, um espaço entre a vida e a morte. — Sinto um arrepio na nuca ao lembrar um pouco do que conversamos naquela noite.
— Não era a sua primeira vez lá, lembro de me dizer isso. — Digo sem muita emoção.
— Não me recordo de quantas vezes estive lá, mas lembro do motivo da primeira vez. Cold começará a beber há poucos dias e esse era o assunto dos corredores. Aconteceu quando recusei o pedido de noivado dele depois que descobri da morte do Teddy. Ele estava irritado, não parava de gritar e queria matá-lo pelo que aconteceu. Na primeira oportunidade que ficamos sozinhos, o ataquei. Empurrei ele até a janela, não teria força para o jogar de lá, então enrolei a cortina no pescoço e comecei a apertar. — Às vezes ela fechava os olhos para se lembrar de tudo. — Ainda estava machucada, com pontos na barriga e ele conseguiu me empurrar para longe. Alcançou uma garrafa ao lado da cama e minha última lembrança é o som dos estilhaços de vidros. — Não sabia o que dizer para ela ou talvez não existissem palavras adequadas para isso. — Algumas das outras vezes, sei que foram propositais, mas Amanda deve ter lhe informado sobre. Não me orgulho do que fiz, mas também não me arrependo. Queria que tudo acabasse, mas não conseguia ir e sempre voltava para o mesmo lugar.
O silêncio se apossa do quarto por alguns minutos, percebo a luz ainda fraca do nascer do Sol surgir entre as brechas da janela.
— Disse que não teve nenhum sonho até aquele dia, então eles voltaram depois? — Cristal parecia indiferente a situação que acabara de relatar.
— Sim, de certa forma. O último real ou semirreal que tive foi com você presa no que restava da mansão. Nos últimos dias, em raros momentos, tenho alguns bem subjetivos, sem importância. — Respondo e bocejo.
— Desculpa por mantê-la acordada, vou ler um livro para poder voltar a dormir. — Ela levanta da cama e caminha até a estante.
— Tem certeza que não quer tentar descansar antes das meninas acordarem? — Não obtive resposta. — Sei como é assustador, mas pode conseguir informações importantes nesses sonhos. Às vezes, fico a me questionar como teria sido se, ao invés de suprimi-los, tivesse insistido em usá-los para a encontrar.
Ela escolhe um dos livros e senta na poltrona. Ajeito-me na cama e a observo até o sono me atingir novamente.
A luz do Sol incomodava e acordo com vozes no quarto. Pisco algumas vezes antes de sentar na cama e perceber Amanda e Cristal a conversarem.
— Bom dia! — Amanda diz com um sorriso.
— Como se sente? — Cristal estava séria, muito diferente de quando fui dormir.
— Bom dia! Bem, acredito. — Digo ainda sonolenta.
— Soube que se envolveu numa briga durante essa madrugada e voltou bem machucada. — A doutora estava com um kit médico na mão que não havia notado antes.
— Não estou tão machucada assim, só um corte no braço, Cristal exagera às vezes. — Estava envergonhada por preocupá-las
— Um corte no braço, um olho roxo, vários hematomas no abdômen, mas claro que eu sou a exagerada. — Ela bufa, vira as costas e sai do quarto.
— O que deu nela? Falei algo demais? — Olho confusa para Amanda que encarava a porta se fechar.
— Não sei, mas o humor dela não está dos melhores. Até brigou com a Renata por vomitar no corredor e foi rude com a Maju que largou os tênis e as meias espalhadas do hall até o quarto dela. — Amanda força um sorriso. — Deve ter tido uma noite mal dormida e chamá-la de exagerada por se preocupar com você com certeza não ajudou em nada.
— Tomei um sermão só por isso? — Digo incrédula.
— Provavelmente algo está a incomodá-la. — A doutora coloca a maleta branca sobre a cama e pede para que me sente na beirada com alguns tapas no colchão. — Onde foram ontem para você estarem tão machucada e Renata chegar a poucas horas quase que carregada pelo Spok enquanto Maju e Alicia mal se aguentavam em pé?
— Uma festa mais violenta do que esperávamos? — Sento e ela remove o curativo no meu braço. — Vai precisar de ponto?
— Não, só vou limpar com soro e fazer um novo curativo, o corte não é tão profundo. — Ela passa uma gaze úmida com algum medicamento no local e enfaixa novamente.
— Como vão às sessões de terapia com a Cristal? — Pergunto enquanto ela guardava o que sobrou na maleta.
— As sessões? Não tenho mais acesso a elas, a Cristal não se consulta co... — O sorriso dela se transforma numa expressão preocupada. — Ela não contou para você?
— Ela parou com o acompanhamento? — Não sei qual sentimento me dominava, medo, preocupação ou confusão.
— Não! Nunca permitiria isso. Ela só me pediu para continuar as sessões com uma psiquiatra fora do círculo social de todo mundo da casa. — Amanda explica e um leve alívio atingi-me. — Fiz questão de levá-la a melhor profissional daqui.
— Por que não veio falar comigo quando ela fez esse pedido? — Levanto e caminho apressada até o closet.
Um turbilhão de dúvidas brotava na minha cabeça enquanto me despia. Por que nenhuma das duas entrou em contato comigo? Há quanto tempo isso aconteceu? O que mais ela não me contou? Por que estou tão incomodada com isso? É algo bom, não? Ela está mais independente, deveria estar feliz? Uma pessoa mais qualificada vai cuidar dela, é uma situação boa. Preciso parar de ser tão paranoica, que sentimento ruim.
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Nem a distância nos separa (Continuação)
FanfictionDentro de uma família, se criam laços, uns mais fortes que outros e o que elas criaram se tornou tão indestrutível que mesmo distantes, uma consegue sentir as emoções da outra. Mesmo que o mundo pareça estar contra, esse laço as uni, as prende. Essa...