POV Cristal
Flash back ligado.
— Não entendo por que se recusa e sofre tanto? Só precisa aceitar, se entregar. É tão orgulhosa ao ponto de preferir as torturas dele ao invés de consentir em se casar comigo? — A voz dele sempre tão alta, mas pela primeira vez, em tantos dias, não aparenta estar bêbado. — Por quê? Pelo menos me explique o porquê de tudo isso. A amo mais do que a mim mesmo, daria a minha vida por você e ainda assim preferiu fugir com ele.
Lágrimas escorriam pelo rosto dele, mas não me traziam nenhuma sensação de empatia. Ele derramou o sangue de mais um irmão, estava anestesiada. Deveria chorar, gritar, mas só estou parada, morta.
— Ele era o meu braço direito, merda! Se tivesse me aceitado, tudo seria diferente, ele ainda estaria aqui. — Talvez todos esses sentimentos fossem reais, mas só conseguia enxergá-lo como o filho da puta que não pensou duas vezes antes de ordenar a morte de Ryan. — Você nem se importa, não é? Não demonstrou nem um pesar, uma lágrima ou qualquer reação de luto. Sua vadia!
Sinto o meu rosto arder com o estalar da palma dele de encontro com a minha bochecha. Gritos e mais gritos, a culpa é minha? As mãos dele seguram os meus ombros e balançam o meu corpo.
— Como consegue ser tão insensível? Indiferente a tudo a sua volta? Responde, porra! — Silêncio por poucos segundos.
— Ela não tem as respostas que procura, Cold. — Scofield estava escorado na parede ao lado da porta. — Avisei que a aproximação dos dois causaria problemas.
— O que quer dizer com isso? — Cold volta a atenção para ele. — Que por não o ouvir, foi minha culpa tudo que aconteceu? — Ele se vira ao me largar no chão.
— Não, digo que quanto menos pessoas interagirem com ela, menos chances dela manipulá-las. — Ele responde como se fosse superior a todos aqui. — Nunca seria culpa sua, ela o convenceu. Sabe mais que qualquer um, ela é uma cobra traiçoeira, vai encantar quem for preciso para conseguir o que quer.
Cold concordava com cada palavra dita enquanto as últimas lágrimas desciam pelo rosto.
— Vai conseguir domá-la? — Ele encara o fundo dos meus olhos.
— Confie em mim amigo, ela se submeterá a você em breve se seguir os meus conselhos. Foque em aumentar a nossa influência no país e me deixe responsável por educá-la. — Podia sentir o cheiro pútrido da alma dele por meio das suas palavras.
Flash back desligado
Então essa é a sensação, anestesiada, paralisada. O tiroteio, os gritos da Ivete, as vozes da Luna e da Gabi no rádio. Precisava me mover, mas tudo parecia estar em câmera lenta. Os respingos de sangue na parede, os furos de bala, tudo tão confuso. Um frio repentino fazia o meu corpo se encolher involuntariamente. Arrepios e espasmos estranhos, queria vomitar.
Um homem invade o depósito e antes que pudesse assimilar sua face, ele cai com mais respingos de sangue a pintar algumas embalagens e caixas de papelão. Minha respiração não estava descompassada, mas sentia que em algum momento perderia a consciência. Uma dor de cabeça dominava todas as minhas sensações. Vejo Gabi entrar e se abaixar próxima a Ivete enquanto gritava algo incompreensível para mim no momento. Luna entra pouco depois, se ajoelha a minha frente e coloca as mãos com cuidado no meu rosto. Via aos lábios dela se moverem, mas nenhum som era produzido, a imagem dela tinha apagões rápidos, podia sentir o meu corpo esmaecer lentamente até o meu rosto se chocar contra o ombro dela e o pouco de consciência que me restava se esvai.
Flash back ligado
— Já está em posse dela a meses, Scofield! Quanto tempo ainda vai precisar para ela me obedecer como prometeu? — Cold me desperta aos gritos ainda do lado de fora da minha prisão.
— Conhece aquela mulher melhor do que eu, sabe quão teimosa e difícil ela é! Preciso de muito mais tempo, meses não são nada para a moldar da maneira submissa que tanto deseja. — Scofield mantinha-se calmo, confiante em cada palavra que pronunciava.
— Manipulador descarado! — A raiva na voz mais aguda denunciava a terceira identidade ali, Naomi. — Todas as noites você usa essa mesma desculpa para vir nesse quarto repulsivo. Está viciado em se divertir com essa mulherzinha.
— Não se intrometa nos meus assuntos, Naomi! Você é a culpada de toda essa confusão e da desconfiança dele sobre mim. — Michael esbraveja e posso ouvir um passo firme, apenas o imagino a ameaçar agredi-la.
Sinto o meu corpo arrepiar, já pressentia em quem todas essas emoções seriam descontadas. Mal conseguia me manter de pé e sabia que assim que a porta se abrir, não serei nada além de um saco de pancada para eles. Os hematomas ainda pulsantes na minha pele anunciavam esse acontecimento. Não me lembrava de quando fiz minha última refeição, o único sabor recorrente a minha memória é daquele homem asqueroso. Se focasse o bastante, poderia sentir os resquícios daquele líquido grudento e nauseante aderidos a minha boca e garganta. Uma ânsia de vômito constante garantia a fraqueza do meu corpo, mesmo com o estômago vazio, e não conseguia o alívio de expulsar as impurezas dele de dentro de mim.
— Também faço parte da hierarquia e tenho o direito de opinar, principalmente quando o segundo da hierarquia, MEU MARIDO, utiliza das suas responsabilidades para foder uma puta suja e asquerosa. — Um estalo alto interrompe o surto de Naomi.
— Nunca mais se refira a minha mulher dessa forma. — A voz de Cold era incisiva. — O que ela diz é verdade, Scofield? Usou a Cristal para prazer próprio?
Ele não gritava como antes, não precisava disso para se impor. Conseguiu demonstrar uma liderança que nunca havia testemunhado. Provavelmente é a primeira vez que ele estava sóbrio desde a morte de Ryan. O silêncio do Scofield me causava uma ansiedade incontrolável, meus membros tremiam e um frio repentino percorre a minha pele quando ouço o destrancar da porta. Rapidamente escondo o meu rosto e finjo estar desacordada na esperança de que eles desistam e me deixem ali.
— Nada do que faço com ela é na intenção de obter prazer. Observem por conta própria, todos os machucados, hematomas, cicatrizes. Essas são as marcas do meu trabalho árduo para a tornar a esposa perfeita. — Enquanto Scofield se explicava, ouço os passos se aproximarem. — Não vou negar, Naomi está certa de um ponto. Educação sexual e física também fazem parte do treinamento que realizo com ela, mas nunca os fiz na intenção de me satisfazer e posso comprovar a minha evolução.
— Como? — Cold o questiona descrente da desculpa fajuta que ouvira.
— Antes de entregá-la a mim, lembro de uma de suas reclamações, uma atitude inaceitável da parte dela durante uma preliminar. — Ele usava um tom de superioridade como se estivesse prestes a apresentar um milagre.
Sem ver, conseguia sentir o sorriso sórdido nos lábios de Scofield e o olhar desprezível sobre mim. Consequentemente pressiono a mandíbula e os olhos.
— Ela me mordeu durante um boquete, todos sabem disso, não é nenhuma novidade. Para de enrolar, Scofield, vá direto ao que quer! — Cold o repreende.
Michael, sem nenhum receio, vira agressivamente o meu corpo na direção de Cold. Sou colocada de joelhos, com uma mão ele prende os meus braços nas minhas costas e com a outra puxa o meu cabelo em um rabo de cabelo para garantir que o meu rosto fique diante do homem que quase babava sobre mim.
— Sabe o que fazer e se ousar machucá-lo ou apenas encostar os dentes nele, vou quebrar todos eles a pauladas. — Ele sussurra para mim e só posso tentar apagar a minha consciência naquele momento. — Ela é toda sua, chefe!
Flash back desligado
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Nem a distância nos separa (Continuação)
FanfictionDentro de uma família, se criam laços, uns mais fortes que outros e o que elas criaram se tornou tão indestrutível que mesmo distantes, uma consegue sentir as emoções da outra. Mesmo que o mundo pareça estar contra, esse laço as uni, as prende. Essa...