Capítulo 217: Bem treinados

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POV Cristal

Não entendi muito da reunião, mas me senti mal pela situação que aconteceu com a Tríade. A sensação de culpa por prejudicá-las de qualquer forma é horrível. As meninas estavam receosas de falar sobre a Red Murder na minha presença e a certeza de que os nomes Cold e Scofield se tornaram inexistentes no vocabulário delas. Não como será estar à frente da minha facção novamente. Medo é a melhor palavra para descrever essa sensação. Estou insegura como nunca estive, não sei como voltar a ser quem eu era. Como poderei as liderar sem saber por onde começar? Recomeçar é mais difícil do que eu podia imaginar, mas preciso tentar.

— Gabi e eu queremos fazer uma visita a uma loja de conveniências, quem vem com a gente? — Ivete questiona animada.

— Puts! Adoraria, mas Spok está estranho comigo desde ontem e preciso resolver isso. — Renata é a primeira a se manifestar enquanto dividia a atenção entre as meninas e a tela do celular.

— Não estou com ânimo para enfrentar a polícia e preciso terminar de aperfeiçoar um sistema de corridas ilegais para uma amiga, vou passar dessa vez. — Priscilão já caminhava para as escadas enquanto explicava.

— Alicia e eu combinamos de ir ao centro ver uns carros novos que chegaram na concessionária. — Maju diz animada.

— Sério? Vão deixar nós duas sozinhas nessa? — Gabi as encarava incrédula.

— Vou com vocês. — Talvez essa seja uma boa forma de começar.

O silêncio se instaurou na sala por alguns segundos e sentia os olhares das meninas queimarem a minha pele.

— O que foi? Precisam de mais gente para ir com vocês e como a Luna disse, preciso assumir o meu posto. — Elas tentam disfarçar a surpresa e focam na Luna que não demora para responder sem tirar os olhos de mim.

— Também vou. — Ela estava séria, se não a conhecesse diria que não se importou com a minha decisão, mas a conheço, reconheço a tentativa de esconder uma preocupação excessiva comigo.

— Ótimo! Chefe está na ativa novamente. — Gabi interrompe o clima tenso que começou a se formar na sala.

— Vamos nos armar? — Ivete parecia confusa em como agir.

Levanto antes que o clima piore e caminho o mais confiante possível até a adega.

— É só uma pistola, colete e munição, né? — Visualizar todo aquele armamento fazia as minhas mãos tremerem.

Observo Luna a confirmar e separo o meu equipamento.

— Vamos ficar todas na loja ou querem que alguém fique do lado de fora para passar as informações? — Gabi já estava armada e só precisava escolher uma bandana.

— Quer ficar comigo do lado de fora? — Luma me questiona.

— Prefiro ficar dentro. — Ficar do lado de fora é ser uma observadora, quero arrancar esse medo do meu peito de forma rápida.

— Certeza? É que dentro, tem mais chances de ter que trocar tiro com a polícia. Às vezes ficar fora é mais tranquilo, principalmente em dupla. — Gabi se assusta com a minha resposta e apenas fico em silêncio.

— Podemos ir à loja próxima ao lago, o dono é um cara nojento. Só de lembrar do cheiro dele já me dá ânsia. — Observo Ivete ajustar a mira e tento copiá-la, mas nem consigo me lembrar se possuímos a mesma pistola.

— Boa ideia, lá é bem movimentado, então o caixa e o cofre devem estar cheios. Vamos fazer a nossa configuração infalível, Ivete? — Gabi questiona animada.

Sentia-me perdida no meio delas. Tudo que um dia entendi sobre armas e munição não estava mais nas minhas memórias.

— Claro, garantir a vitória. Vou esperar vocês no estacionamento. — Ivete sai da adega e ajeito a minha pistola no coldre que mal consegui ajustar a minha coxa.

— Infalível? — Luna estava curiosa com os planos da Gabi e da Ivete.

Deixo às duas conversarem na adega e caminho na direção do estacionamento sem pressa. As meninas me alcançam na porta, Luna tira a Urus da garagem, Gabi e Ivete se sentam apressadas nos bancos de trás e fico com o lugar do passageiro. O caminho todo Ivete explicou as melhores posições e a função de cada uma durante a ação. Enquanto isso mantive-me em silêncio, tentava me concentrar em não tremer. Ansiedade ou medo? Impossível definir, apenas observava minhas mãos inquietas. Não percebi que Luna havia estacionado até os gritos da Gabi e da Ivete me puxarem para a realidade. Coloco uma bandana amarela com um cheiro sufocante de poeira pelo tempo que ficou abandonada em algum canto escuro.

Na loja, algumas pessoas rezavam por suas vidas e choravam. Lapsos de mim na mesma situação paralisam o meu corpo. O desespero daquelas pessoas ao passarem por mim quando Ivete as liberou, foi como se pudesse vê-lo correr a minha frente. Ryan, o nome que ecoava nos meus pensamentos. Já conseguia pressentir as vozes de todos eles a me atormentar, assombrar como um fardo sobre os meus ombros. Respiro fundo, preciso me manter controlada.

Luna ordena que eu acompanhe as meninas e apenas segui. A pistola nas minhas mãos suadas estava apontada para baixo e travada. Ouço as meninas combinarem algo no rádio e me posiciono no fundo do depósito enquanto Ivete e Gabi dividiam alguns pacotes de notas. Não demorou para as sirenes tomarem conta do ambiente. O som e as luzes não me incomodavam, mas a agitação da Ivete deixava-me angustiada pelo que ainda nem começará.

— Saiam com as mãos a cima da cabeça! A loja está cercada! Rendam-se agora e poderemos negociar uma pena mais branda! — Um policial gritava.

— Não pretendo ser presa parceiro! Quero sair dessa loja rica e livre! — Ivete responde com um sorriso de criança prestes a aprontar alguma.

— Isso será impossível! Estamos com contingente de 7 policiais bem treinados e dispostos a abater qualquer pessoa que ameace a segurança da população. — Ele tenta a intimidar.

Rádio ligado.

(Luna): ele está de pé, atrás da viatura, acho que se abrir um pouco, Ivete, consegue uma mira certeira na cabeça dele. Tem mais dois abaixados na viatura e dois de cada lado da loja prontos para invadir.

(Ivete): no meu sinal, quero que derrube pelo menos um dos que estão atrás da viatura.

(Luna): deixa comigo.

Rádio desligado

Ivete ri das palavras dele após a informação da Luna, firma a arma nas mãos e dá um beijo na lateral do cano.

— Estão dispostos a abater? — Ela grita para ele.

— Sim, totalmente prep... — Um tiro certeiro no meio da testa dele seguido por dois disparados.

O meu coração se acelera, não consigo evitar e solto a pistola para proteger os meus ouvidos. Fecho os olhos com força e mais disparos se misturam aos gritos.

Nem a distância nos separa (Continuação)Onde histórias criam vida. Descubra agora