Capítulo 1

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O vento soprava seus cabelos através da janela do motorista; Seus olhos eram sempre atentos na estrada, não deixando passar nada; trazia em seu vestuário seu inseparável boné e em seu rosto sua expressão séria de sempre. Vinte e sete anos de vida foram suficientes para ela saber que fazia o que mais amava no mundo: Dirigir.

O silêncio era algo prazeroso para ela, contudo, não o obtinha. Suas duas irmãs e cunhada eram mais barulhentas do que uma sala inteira de garotas do primário.


— Poderíamos ligar a rádio? É a hora das quarenta mais da semana. — Janja, que estava na boléia junto com Gleisi , pediu, já conhecendo a resposta de Simone.

— Não — a garota disse solenemente.

— Você é uma chata — Samara falou em um resmungo, capaz de ser ouvido por Simone.

— Eu sempre digo a vocês para ficarem na cidade e não virem comigo — Simone disse ainda séria. — Vocês vêm porque querem.

— Não custava nos deixar ouvir a rádio por algumas horas.

— Meu caminhão, minhas regras.

— Papai adorava ouvir a rádio — Janja tentou, tendo um longo suspiro de Simone como resposta.

— Eu sei — Simone disse com nostalgia na voz.

— Ele deixou o caminhão para você porque sabia que você amava dirigir. Ele queria você feliz e não amarga desse jeito.

O silêncio se instalou por algum tempo até Simone falar algo;

— Meu caminhão, minhas regras — repetiu com veemência.

— Podemos então assistir algum DVD na TV aqui na boléia? —Simone ficou quieta e logo assentiu.

Suas irmãs sabiam que Simone era chata em relação ao silêncio, por esta razão instalaram uma televisão na boléia, que é a parte onde a morena geralmente dormia, localizada logo atrás dos bancos. As meninas abriram mais a pequena cortina e se enfiaram lá atrás, para logo ligarem a TV.

Simone desligou a TV da frente e suspirou. Era possível ouvir a TV de trás dali, no entanto o ruído era menos irritante. Seus olhos focalizaram no belo horizonte, vendo o sol se pondo e em contraste com tal imagem havia algumas árvores com um verde tão lindo que se dava inveja. Começou a assobiar baixinho, ouvindo a risadinha das garotas logo atrás de si.

— Estariam vendo pornô novamente? — Perguntou baixinho para si mesma.


Janja amava trazer pornô e assistir com Gleisi, para então ir para a caçamba, que é onde dormiam e transar loucamente com Gleisi enquanto Samara dormia na boléia, tendo Simone ainda no volante. Muitas vezes as garotas se empolgavam e os gemidos eram capazes de serem ouvidos ali na frente.

Preferiu mudar de pensamento ao lembrar dos gritos e fez uma careta. Deu um suspiro ao lembrar que era contente por sua irmã finalmente ter encontrado alguém que a amasse. Ela não daria a mesma sorte, era solitária demais para isso

Estava a cerca de quase quatro anos sem transar e não fazia questão de sexo, contudo, vez ou outra Simone não resistia e, pela madrugada, ligava a TV no volume zero, quando a cabine já estava trancada e ela tinha certeza que nenhuma das garotas poderia flagrá-la. Admitia que o conteúdo daqueles DVD's era bom, diferente de tudo que já vira antes. Nada aparentava ser falso como em pornô mesmo. Era uma história toda baseada em cima de um casal e o sexo era algo que rolava naturalmente, e isso era algo que os DVD's de Janja tinham em especial.

Assistia a curta-metragem, se saciando dos desejos de seu próprio corpo e logo em seguida dormia satisfeita, acordando no dia seguinte como se nada tivesse acontecido.

Já fazia cerca de um mês que não se masturbava e sentia seu corpo mais tenso do que o normal, decerto que hoje à noite faria algo em relação a isso.

Estralou o pescoço assim que parou em um semáforo, ainda estavam na cidade. Não fazia nem uma hora que haviam saído de casa e aquela viagem seria mais longa do que a maioria dos últimos meses. Seis dias na estrada, pois iria para a outra ponta do país, contudo, parariam em alguns hotéis ao longo do caminho, atrasando um pouco a viagem. No total de dez dias de viagem e mais dez de volta, se contasse com os dois dias que ficaria no local de destino, seriam vinte e dois longos dias com suas irmãs falantes.

As garotas nem sempre viajavam com ela, mas nas viagens mais longas elas iam. Todas tinham seus próprios negócios e por isso não atrapalhava deixar tudo quando quisessem. Diziam que adoravam se aventurar, já que, se dependesse de Simone, as veria apenas no natal e em seus aniversários.

Desde que seu pai falecera Simone havia se isolado de maneira assustadora e tal afastamento gerou um grande baque em suas irmãs, que eram muito unidas desde sempre.

A caminhoneira parou no posto de gasolina mais próximo e abasteceu todo o tanque, atrasando quase uma hora, pois Janja alegava não viajar sem levar um estoque vantajoso de bobagens para se comer, sendo os salgadinhos os seus preferidos.

— Assim os vinte e dois dias se tornarão vinte e duas semanas —Simone resmungou.

— Desculpe, velha ranzinza —Janja zombou. O ruído do mastigar de salgadinhos fez o músculo do maxilar de Simone se destacar em seu rosto. Ela odiava profundamente aquele som.

— Não sou ranzinza, apenas preciso entregar isso em uma data certa. Esse é o meu trabalho, não é uma brincadeira.

— Tudo bem. É agora que ligaremos a rádio? —Janja tentou, tendo a risadinha de Samara ao fundo.

— Meu...

— Já sei, já sei. Seu caminhão, suas regras — Janja disse, se recostando nos braços de Gleisi.

— Muito mais fácil quando entendem isso, viu? — Simone disse sorrindo de maneira contida, ajeitando seu boné em sua cabeça.

— Simone, já pensou em jogar fora esse boné? — Gleisi questionou.

— O quê? Por quê?

— Porque existe há anos e está mais desbotado que couro de pica de alemão — alegou.

— Hey, respeite meu boné.

— Eu sei que você ama bonés, mas pelo menos lave ele então. Noto a beirada suja daqui — Simone corou e assentiu derrotada.

— Vou lavar, mamãe.

E assim seguiram a viagem. Vez ou outra Simone explicava para as garotas sobre algum lugar por onde passavam, já que já conhecia a estrada de cabo a rabo.

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