Simone piscou lentamente. Em quê, Soraya poderia ter mentido para ela? A garota não trajava o perfil de mentirosa, pelo contrário, sempre fora bem direta e sincera em relação aos seus pensamentos.
— Como assim mentiu? Ao que se refere? — Simone perguntou com cautela, vendo o rosto da menor tomar uma coloração rosada.
— Sobre o carro e o celular — ela disse, fitando as próprias mãos por um momento. — Eu não fui roubada, eu os vendi.
— E por quê? — Simone perguntou, a menor exalou o ar de seus pulmões e a morena percebeu seu tom de voz baixar um decimal.
— Porque a dívida da minha mãe era muito alta e eu, bem, não tinha outra forma de pagar — confessou, coçando um dos olhos, o sono era evidente nela. — Fui expulsa da casa onde eu morava na Flórida porque atrasei o aluguel e passei a viver em meu carro, mas antes de eu sair chegou a notificação da morte de minha mãe e da dívida — enquanto dizia, a morena balançava a cabeça digerindo as novas informações.
— Posso, huh, te fazer uma pergunta? — Simone pediu e Soraya assentiu. — Como conseguiu aqueles machucados?
— Pedindo carona — ela confessou baixinho, com a voz frágil e voltando a fitar suas mãos. — Um grupo de mulheres achou que eu era, você sabe, prostituta porque eu estava pedindo carona de noite na beira da estrada e com um vestido — Simone abriu a boca incrédula e sentiu seu sangue fervilhar ao imaginar alguém machucando Soraya. — Elas pararam e, o resto você sabe — disse, enrubescendo mais. — Queimaram minha mala de roupas também, por isso eu só tinha um vestido. Agora tenho dois, Sam me deu o outro.
— Então veio para cá para pagar o hospital com o dinheiro do seu carro e celular?
— Sim, eu já não tinha nada lá mesmo. Tentei pedir carona para voltar, mas ninguém parou desta vez — a garota disse, soltando um suspiro derrotado. — Então retirei algum dinheiro do que eu tinha guardado e estou limpando vidros. Pelo menos tenho o que comer.
— Onde dormiu?
Soraya realmente se sentia embaraçada com tal situação, pois cada vez corava mais.
— Na rua — disse por fim e Simone sentiu seu coração se comprimir ao ouvir aquilo tudo. — Eu tentei te contar aquele dia no restaurante, mas fiquei com vergonha ou medo de você me xingar por ter mentido — a garota parecia tão derrotada e abatida que a qualquer momento desmoronaria, Simone tinha certeza.
— Sory, eu jamais faria isso — Simone disse, tocando em suas mãos suavemente.
— Desculpe ter mentido. Eu geralmente não sou a favor de mentiras, mas eu tentei dizer a verdade e acabei apanhando e...
Simone puxou Soraya para seus braços quando viu que a menina havia começado a chorar, ela não se importou em coloca-la em seu colo, mesmo tendo algumas poucas pessoas olhando para elas.
— Não chora, por favor... — Simone pediu baixinho, acariciando as costas da menor.
— Eu estou tão cansada disso tudo — a menor disse entre o choro, afundando seu rosto no pescoço da morena, seu choro aumentou a intensidade, no entanto, ainda era baixo, a garota não gostava de chamar a atenção.
— Você deveria ter me dito isso antes, Sory. Eu jamais teria te deixado só, eu esperaria sem problema algum você efetuar o pagamento e depois a gente daria um jeito.
— Desculpe — a loira lamuriou novamente, pequenos soluços escapavam por entre seus lábios, ela não queria chorar, mas foi inevitável.
— Não se desculpe, tudo bem? — Simone perguntou e a garota assentiu. — Vai ficar tudo bem agora. Entendido?
Soraya desencostou-se do ombro de Simone e assentiu, levando uma mão ao rosto para enxugar as lágrimas.
[...]
Após acalmar a menor, a comida finalmente chegou e elas comeram quietas, Soraya se sentou em seu lugar e vez ou outra Simone contava algo para descontrair, a fazendo rir.
— E Samara decidiu ficar lá. Iria transar, com certeza — Simone disse revirando os olhos, fazendo Soraya rir novamente.
— Não acredito!
— Sim, acredite. Não sei como fizeram, o homem parecia ter um braço entre as pernas — outra gargalhada não tão alta de Soraya ecoou no lugar, fazendo Simone sentir seu estômago se revolver em êxtase ao ouvir tal som.
— Andou reparando na bagagem dele, hm? — Soraya perguntou sugestivamente, fazendo Simone revirar os olhos.
— Era como se ele tivesse três pernas. — Simone disse horrorizada. — Eu não tinha reparado até o meninão dele começar a ganhar vida própria — fez uma careta ao lembrar.
— Acabamos de almoçar, não fale coisas nojentas na mesa — Soraya brincou e Simone riu, respirando fundo e se levantando.
— Vamos?
— Vamos — Soraya falou tristemente.
— As meninas não vão acreditar quando te verem — Simone disse deixando o dinheiro sobre a mesa. Soraya lhe olhou confusa.
— Como assim? Elas virão para cá?
— Não, Soraya. Você vai para lá comigo — Simone explicou, vendo as orbes castanhas se arregalaram surpresa. — Você realmente acha que eu te deixaria aqui sozinha?
— Simone, eu não tenho como retribuir — Soraya avisou sinceramente. — O único dinheiro que tenho eu estou ganhando limpando os vidros.
Simone sorriu de forma terna e esticou a mão para Soraya, que segurou um pouco relutante.
— Eu só quero que nunca mais chore daquele jeito, baixinha. Se você estiver feliz e segura já estará me retribuindo — Simone disse e Soraya se levantou também, se jogando em seus braços e abraçando fortemente.
— Você é o melhor ser humano deste mundo. Obrigada, Sisa — a menor agradeceu, se arrepiando ao sentir a morena lhe dar um beijo na curva de seu pescoço.
— Agora vamos — se afastou do pequeno corpo e recolocou o chapéu em sua cabeça, vendo a garota pegar suas próprias coisas.
E de dedos entrelaçados, saíram do estabelecimento. Soraya sorriu sem Simone ver, pois era a primeira vez em dois dias que sentia seu estômago completamente cheio, mas também sorriu por ter voltado a vê-la. Ela jamais imaginou que aquilo poderia acontecer, afinal ela era uma azarada de mão cheia e em sua vida só costumava acontecer coisas ruins.
Seu coração se acelerou quando sentiu Simone acariciar com o polegar sua mão. A maior realmente se importava com ela, podia sentir. Não era dó, não era pena, era afeto, puro e verdadeiro.
E muito bem retribuído.
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Estrada Da Vida - Adaptação
Fanfiction{CONCLUÍDA} Simone Nassar Tebet é uma caminhoneira; levava a sua vida na tranquilidade das estradas de todo o país. Aos seus vinte e sete anos não se via fazendo outra coisa senão dirigir, exatamente como seu pai a ensinara. A garota possui mais dua...