Capítulo 37

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Os fortes raios de sol atingiram em cheio a cama onde Soraya dormia, fazendo-a reclamar ainda sonolenta. Estava calor e não havia, de fato, um ar-condicionado ou um ventilador. Como viu que não conseguiria dormir, ela se levantou e verificou as horas na mesinha de canto: Quase meio-dia. Seus olhos se esbugalharam, como havia dormido tanto?

A garota se espreguiçou e vestiu sua calcinha que estava jogada no chão e a camiseta branca de Simone para então ir escovar seus dentes.

Aonde Simone haveria ido e por que não a acordara? Já havia percebido que odiava acordar sozinha, ainda mais após uma noite inteira de sexo com sua namorada.

Assim que terminou sua higiene bucal ela migrou para a cozinha, queria tomar um banho e com certeza tomaria, mas antes comeria algo, sentia-se faminta.

— Bom dia, garotas! — Soraya disse, bocejando e abrindo a geladeira.

— Bom dia, Soraya! — Janja cumprimentou. — Ouch, amor. Isso dói — reclamou. Gleisi fazia tranças em seu cabelo enquanto Samara assistia.

— Bom dia, Soso —Gleisi disse. — Não mexa a cabeça que não doerá — a loira replicou.

— Soso. Gozou bastante a noite? — Samara perguntou rindo, fazendo Soraya

lhe olhar confusa.

— Por que acha que Simone e eu transamos?

— Bem, a Simone é um pouco barulhenta e ontem a gente só ouvia as respirações ofegantes lá do meu quarto, ou seja, foi você que deu — Samara disse rindo.

— Ficaram ouvindo na parede? — Soraya perguntou incrédula.

— Não, a cama batia na parede e a casa estava silenciosa, aí deu para ouvir bem — Janja disse rindo.

— E vocês duas foram até o quarto da Samara para quê? — Soraya perguntou semicerrando os olhos.

— Assistir filme — Gleisi respondeu prontamente. — Mas diz logo antes que a Simone volte, ela odeia falar dessas coisas.

— Dizer o quê? — Soraya perguntou, despejando cereal em um prato e logo em seguida o leite.

— Transaram muito?

— Muito. Muito mesmo! — Soraya disse, finalmente, rindo e mordendo os lábios. Samara bateu palminhas animada e levou uma mão ao queixo, olhando para a loira..

— Não fez nada com ela nenhuma vez? — Janja zombou. — Estou chocada.

— Não zombe — Soraya disse. — Não temos isso de passiva ou ativa. Apenas... Deixamos fluir.

— Então só deu? — Janja insistiu ainda zombando.

— Também transamos no banheiro, ok? — Soraya deu-se por vencida.

— Sabia que aquela passiva tinha dado — Janja gritou rindo.

— Não vejo problema nenhum em dar. Não se põe rótulos nesse tipo de coisa — a voz solene de Simone se fez presente, fazendo o silêncio se instaurar.

A mulher trajava um short jeans desbotado curto, que desenhava suas curvas, uma camisa de botão xadrez, azul e preta, uma bota preta e o chapéu preto que havia comprado de Anne. Soraya suspirou embasbacada. Que pedaço de mulher!

— Onde esteve, Sisa? — Soraya perguntou, se virando na cadeira para receber o beijo de bom dia de Simone.

— A peça do caminhão chegou mais cedo — ela disse dando um selinho em Soraya. — Em dois dias já poderemos partir.

— Até que enfim. Estou adorando estar por aqui, inclusive o sexo delicioso que estou tendo, mas já tenho saudades das minhas flores — Samara disse, fazendo Soraya lhe fitar.

— Flores?

— Sim, tenho uma floricultura, não te disse? — Soraya negou e Samra assentiu. — Deixei nas mãos da minha funcionária, a Veronica, mas já sinto falta daquelas flores.

— Das flores ou da regadora? — Janja sugeriu rindo e Samara franziu os olhos.

— Idiota! Eu e Veronica nunca transamos.

— E não está precisando de mais gente para trabalhar? — Soraya perguntou. — Sou multifuncional, só preciso de uma chance.

— Na verdade estou, mas pensei que gostaria de trabalhar com a Simone —Samara disse confusa e Simone coçou a nuca.

— Eu ainda não tinha falado com ela disso — Simone disse, fazendo Soraya lhe fitar.

— Hm... Então minha namorada tem algo a me dizer? — Soraya disse sorrindo e as três arregalaram os olhos. Janja se engasgou.

— Namorada? — Perguntaram em uníssono.

Simone ajeitou seu chapéu na cabeça e Soraya sorriu.

— É. Meio que começamos a namorar ontem à noite — Simone disse, sabendo que o tão famoso falatório das garotas começaria.

Após responder a enxurrada de perguntas, Simone voltou-se para Soraya. A garota usava apenas sua camiseta branca da noite passada e a morena tinha certeza de que usava apenas calcinha por debaixo dela.

— Então, eu sou péssima com contas — Simone disse, entrelaçando seus dedos com os de Soraya que ainda estava sentada, já havia terminado seu cereal, porém a morena continuou em pé ao seu lado. — E seria legal se você se encarregasse de checar a mercadoria e se o pedido está certo. O salário é bom e você nem precisa viajar comigo caso não queira — explicou. — Eu pago para pessoas aleatórias fazerem esse serviço a cada vez que viajo e se quiser o emprego é seu.

Soraya abriu a boca incrédula antes de sorrir.

— Jura?

— Sim — Simone replicou. — Eu sei o quanto fica desconfortável quando eu que pago tudo. Eu não me importaria com isso, mas percebi que se incomoda — suspirou e baixou o tom de voz. Queria apenas que Soraya a ouvisse. — Isso não tem nada a ver com a gente, Sory. Se um dia terminarmos, e eu realmente espero que isso nunca aconteça, mas se acontecer saiba que o emprego ainda será seu. Você pode alugar algo para você, pagar seus estudos se quiser estudar, qualquer coisa.

— Não ligaria se eu quisesse estudar? E terminar não está nos meus planos, foi Deus que me deu, ou morre você ou morre eu, melhor. Morremos juntas para não namorarmos mais ninguém —Soraya disse divertida, fazendo Simone olhar pra ela assustada.

— Claro que não. Eu morreria de saudades, mas não quero interferir em nada do que goste ou queira fazer — falou sinceramente. — Eu já disse, Sory, eu só quero o seu bem. E não sabia que você é ciumenta.

— Linda! Sou só um pouquinho — Soraya sussurrou, dando um selinho demorado em Simone.

— As viagens variam de cinco a vinte e cinco dias, isso depende para onde eu vá. Só precisa chegar à mercadoria no dia que eu partir.

— Obrigada, amor — Soraya murmurou, envolvendo seus braços ao redor de sua namorada e deitando sua cabeça em seu peito. — Mas vou preferir viajar com você por enquanto. A saudade não me deixa ficar longe — três suspiros ecoaram do outro lado do balcão e Simone revirou os olhos, mas ignorou.

Ignorou somente porque ela também suspirou. Soraya a havia chamado de "amor" e dessa vez não fora durante uma transa.

— Certo, mas se no futuro desejar fazer algo que goste não hesite em fazer.

— Prometo — Soraya sussurrou, sentindo Simone se inclinar e depositar mais um beijo em seus lábios.

Os três suspiros voltar a ecoar, fazendo Soraya não aguentar e rir.

A sensação de família estava lá de novo e se dependesse dela jamais deixaria isso se perder.

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