Capítulo 17

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— Por que ela teve que sair na chuva? – Janja perguntou ao olhar o rosto quase sem cor da garota que dormia no banco de trás.

Soraya usava um pano molhado para colocar sobre sua cabeça, com a intenção de diminuir a febre que havia aumentado drasticamente.

— Eu não tenho dinheiro... — Soraya murmurou, respirando com certa dificuldade. — Ainda não...

— Ela está delirando — Janja disse preocupada e Simone sentiu-se ainda mais culpada pela noite passada.

— Estamos quase chegando — Simone informou.

— Na farmácia? — Gleisi perguntou e Simone resmungou algo somente para si.

— No hospital, Gleisi. Febre muito alta é perigoso.

— Você saiu totalmente fora do seu caminho para levá-la ao hospital? — A loira mais baixa perguntou surpresa e ao mesmo tempo orgulhosa.

— Não. Ainda estou na estrada e é você que está alucinando ao invés de Soraya — Simone respondeu rudemente.

— Mamãe... — Soraya voltou a murmurar e Simone se concentrou em orar para que a pobre moça ficasse bem.

Meia hora depois elas chegaram no hospital e Simone estacionou do outro lado da rua. Janja pegou Soraya no colo e a colocou no colo de Simone do lado de fora do caminhão com todo o cuidado do mundo.

— Tranquem o caminhão — Simone pediu antes de adentrar o local com o pequeno corpo em seus braços. A mais velha fez uma nota mental de comprar algumas peças íntimas para Soraya, já que a garota estava sem calcinha e só tinha aquela que usara na noite anterior.

O médico não demorou a atendê-las e disse a Simone que ela fez o certo em levar Soraya urgentemente ao hospital, pois a garota beirava os quarenta e um graus de temperatura corporal e havia muitas pessoas que morriam com tal número.

Após os cuidados necessários, Soraya ficara em observação pelo restante da noite e acordara pela madrugada, confusa e perdida, contudo, seu coração se acalmou ao ver o corpo branquelo esparramado em uma cadeira ao lado de sua cama. Um pequeno sorriso brotou em seus lábios ao ver que a mão de Simone estava entrelaçada com a sua.

A menor começou a acariciar os cabelos pretos com a outra mão e, em um pulo, Simone despertou.

— Heey, calma! — Soraya pediu rindo, sentindo seu nariz funcionar muito melhor naquele momento.

— Sory... — Simone pronunciou, erguendo as orbes castanhas na direção da menor. — Lhe comprei calcinhas! — Soraya lhe olhou surpresa, erguendo ambas as sobrancelhas e segurou o riso.

— Oh...! Obrigada?— Ela disse um tanto sem reação. Simone corou ao perceber o jeito que havia proferido aquilo.

— Oh céus... Eu não quis dizer isso não, diacho! — Ela falou e Soraya sorriu pela forma arrastada que Simone havia proferido e puxado a fala. — É que, bem, você só estava com aquela e o doutor disse que você precisava colocar essa roupa aí... — Começou, meio embaraçada. — Pedi que ele se retirasse da sala e fui comprar calcinhas pelas redondezas. As enfermeiras te vestiram.

— Expulsou o médico da sala? — Soraya perguntou rindo.

— Você não ia fazer nenhuma cirurgia, não havia necessidade de ele te ver nua — Simone disse séria e Soraya riu ainda mais.

— Simone, ele trabalha com isso. Está acostumado.

— Não havia necessidade de ele te ver nua e fim — respondeu tocando sua própria nuca em uma massagem.

— Certo! — Soraya disse sorrindo. — Dores por dormir aí?

— Estou acostumada a dormir em qualquer canto, não se preocupe — disse ela, meio sem jeito.

— Me preocupo sim. Deite-se aqui comigo.

— Não precisa...

— Por favor? — Como raios aqueles olhinhos castanhos cintilantes tinham tanto poder sobre Simone?

— Certo — respondeu em um murmúrio antes de retirar os sapatos e se deitar ao lado de Soraya que se ajeitou sobre o peito dela e acomodou uma de suas mãos na barriga da maior.

— Onde estão as meninas? — Soraya perguntou, sentindo Simone começar a afagar seus cabelos sem sequer perceber.

— Em um hotel. Queriam ficar na sala de espera, mas as dispensei. Só é permitido a permanência de uma pessoa para passar a noite e pensei que seria bom elas descansarem.

— Desculpe te causar problemas — Soraya pediu em um suspiro pesado. — Sei que não gosta de gastar muito em hotéis e que isso irá te atrasar ainda mais.

— Não seja tola. Hoje eu comprei calcinhas — Simone disse rindo. — Se não fosse por você eu jamais teria feito isso na vida.

— O quê? — Soraya perguntou confusa. — Quem compra suas calcinhas?

— Janja. Ela sabe todos os meus números e compra, não só calcinhas, como roupas também. Do meu agrado, claro — explicou. — Eu odeio, do fundo da minha alma, comprar roupas. Não tenho paciência!

Soraya sorriu ao imaginar as caretas e os resmungos baixos da mulher caso fosse em uma loja, já estava se adaptando ao jeito sério da garota. A menor apoiou seu queixo no peito de Simone e a fitou sorrindo. Seu dedo indicador pincelou o topo do nariz da morena de maneira doce e suave.

— Você é muito mimada por suas irmãs, mocinha — Soraya disse e Simone quase sorriu, só percebeu isso porque o canto direito da boca da morena se repuxou minimamente.

— É uma rotina nossa — Simone disse. — E eu, particularmente, adoro seguir à risca a minha rotina.

— Oh... Aposto que é por isso que você se incomoda tanto comigo — Soraya disse sorrindo. — Estraguei a rotina de sua viagem — Simone lhe olhou séria por um instante antes de lhe responder.

— Posso ser meio teimosa, mas devo admitir que ver você bagunçar a minha rotina foi, a princípio, assustador — Simone disse, rindo no momento seguinte. — Mas fazia anos que eu não nadava em um rio ou tomava um banho de chuva — revelou. — Especialmente nadar pelada.

Soraya riu alto ao ouvir aquilo e abraçou com mais vontade o corpo abaixo de si.

— Durma, loirinha! Amanhã teremos um longo dia — Simone disse e Soraya assentiu, desejando um "boa noite" e enterrando sua cabeça na curva do pescoço da mulher.

Soraya sorriu ao constatar que, após dias, ela não iria dormir excitada.

No lugar da excitação tinha outro coisa: Uma sensação de estar protegida, de bem-estar, uma sensação que aquecia seu peito. Soraya não conseguia entender ou sequer explicar aquele sentimento, mas não precisava: Sentir lhe bastava.


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