Capítulo 8

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Havia se passado algumas horas desde que o silêncio havia se instalado ali e Simone resolveu fazer uma parada de vinte minutos pelo final da tarde para comerem algo. Ela queria que o silêncio se dissipasse, mas mesmo após comerem as garotas não disseram uma palavra sequer.

— A última pessoa que havia tocado naquele rádio foi meu pai — Simone revelou baixo, vendo os cílios longos de Soraya se erguerem em sua direção. — E ele faleceu há alguns anos.

— Eu sinto muito — Soraya disse baixinho.

— Eu só queria esperar o momento certo de ligar a rádio — as garotas olharam para Simone espantadas, ela nunca tocava naquele tema e apenas mudava de assunto caso alguém tocasse.

— Eu não sabia disso, eu realmente sinto muito, Simone — ela disse tocando na mão da mais velha. — Prometo parar de ser tão curiosa e intrometida — a morena encarou o toque de Soraya em sua mão e sorriu em sinal de que estava tudo bem.

— Sabe de uma coisa que você me mostrou? — Soraya negou com a cabeça e Simone riu baixinho. — Descobri que não tem hora certa para ligar uma rádio, então... Obrigada.

— Isso quer dizer que poderemos ouvir a rádio? — Janja se intrometeu esperançosa e Simone voltou a fechar a cara.

— Não! — A risada das garotas ecoou pelo caminhão e Simone voltou a ligar o veículo. Soraya retirou sutilmente sua mão de cima da de Simone e sorriu mais despreocupada.

— Escuta, Sisa... Por que nunca nos disse sobre esse lance? — Gleisi perguntou. Simone apenas deu de ombros, mas alguns minutos depois sua mão direita foi para o botão da rádio, ligando-a e aumentando o volume no último.

As garotas abriram as bocas chocadas e Soraya sorriu de forma contida, desviando seu olhar para Simone disfarçadamente. Janja sorriu baixinho ao perceber algo: A nova companheira de estrada tinha uma espécie de reação positiva sobre a irmã.

— Simone? — Soraya cutucou o braço da caminhoneira, pois o volume estava realmente alto. — Preciso fazer xixi — ela confidenciou, tendo se inclinado e falado no ouvido da garota. Simone baixou o som do veículo para lhe responder.

— Não podemos parar agora. Deveria ter feito xixi antes de sairmos — disse séria. Soraya cruzou as pernas e se moveu inquieta, fazendo Simone bufar ao constatar que a garota deveria estar segurando há muito tempo. — Assim que der eu paro — a risada de Janja preencheu a audição de todas as garotas, que olharam para ela em confusão.

— Não posso mais rir? Eu hein! — Ela disse ao ver que a atenção estava toda sobre ela.

Alguns minutos se passaram e Simone finalmente pôde estacionar, pegando um rolo de papel higiênico e entregando à garota. Soraya agarrou o papel e desceu correndo, fechando a porta às pressas.

— Acho que você deveria ter dito a ela — Janja disse rindo.

— Ela não me deu tempo — Simone explicou, desviando o olhar do retrovisor ao ver Soraya se agachar ali. — Tudo bem, quero todas olhando em outra direção!

— Se ela tivesse nos dado tempo, teríamos dito a ela que o retrovisor pega a imagem de onde ela está — Gleisi disse, soltando uma risada anasalada.

— Diremos quando ela voltar. Agora não quero ninguém olhando — Simone repetiu e Janja se inclinou, dando três batidas no ombro da morena.

— É, irmãzinha, você está ficando frouxa — Simone rosnou baixinho e lhe olhou feio.

— Só estou impondo respeito. A garota não sabe que podemos vê-la daqui. Seria errado bisbilhotar-lá.

— Simone, ninguém aqui tem interesse em olhar a vagina da garota, fica tranquila — Simone ficou muda e Janja riu baixinho. — Ou será que tem?

— Voltei — Soraya disse após abrir a porta. — Obrigada por isso, eu realmente estava prestes a morrer — Simone apenas assentiu com a cabeça e lhe entregou um vidrinho de álcool em gel. A loira agradeceu baixinho e passou álcool em suas mãos. — E aí, do que falavam?

— Bem, você não nos deixou avisar que onde você foi dava para te ver daqui — Soraya enrubesceu com a informação de Samara. — Mas não se preocupe, ninguém olhou.

— Então onde eu deveria ir? Atrás ou na frente do caminhão os carros que vêm e que vão me veriam.

— Desse lado do caminhão mesmo, mas embaixo do retrovisor. — Simone explicou e Soraya assentiu corada. Os olhos castanhos da morena rolaram pelo caminhão e ela alçou uma sobrancelha ao achar o que buscava. — Espere! Quem lavou meu boné? — Ela perguntou, vendo o mesmo pelo retrovisor, localizado no canto de trás da boléia. — Gleisi!

— Não olhe para mim, eu apenas disse que ele estava imundo. Não tocaria naquilo nem com luvas — Gleisi respondeu e Simone se inclinou, pegando o boné e o colocando sobre a cabeça.

— Eu não lavei — Samara disse.

— Eu não desperdiçaria o meu tempo com essa velharia — Janja alegou.

— Tudo bem, fui eu — Soraya disse baixinho, temendo ter feito algo errado outra vez.

— Por quê? — Simone perguntou.

— Eu vi que precisava ser lavado e como você me deu a carona eu quis retribuir de alguma forma — confessou desviando seus olhos para suas próprias mãos. — Desculpe.

— Eu... Agradeço — Simone disse. Soraya lhe olhou e a morena sorriu contida. — Ele precisava urgentemente ser lavado, mas eu sempre me esquecia — disse e a ruiva sorriu. — É meu boné preferido.

— Eu adoro bonés, mas nunca sequer experimentei um — confessou rindo e Simone retirou o boné, agora limpo, de sua cabeça e colocou em Soraya.

— Não seja por isso — falou sorrindo.

— Gostei — Soraya disse, fitando a si própria no retrovisor.

— Impressionante como fica linda de qualquer jeito — Simone disse mordendo seu lábio inferior.

— como?

— Oh, nada — Simone disfarçou rapidamente ao perceber que havia pensado alto demais. Janja riu e se inclinou para dizer algo no ouvido da loira.

— Como eu disse, frouxa.

— Cale essa boca, ora — resmungou, ligando o caminhão e olhando de soslaio para Soraya , que ainda olhava para o próprio reflexo e fazia caretas. Parecia uma criança.

Simone riu baixinho e negou com a cabeça, voltando a olhar pra frente e a levá-las para San Diego.

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