— As meninas ainda estão dormindo... — Soraya alertou, mordiscando o lóbulo da orelha de Simone enquanto seus braços circurlavam o corpo nu da garota. As duas haviam decidido tomar banho nuas em um rio no Novo México pela manhã.
— Pare de ser safada assim — Simone disse rindo, chupando o lábio inferior de Soraya. — Eu já disse que não.
— Chata! — Soraya disse colocando um bico adorável em seus lábios.
— Imagina se uma bactéria ou bichinho entra em mim bem na hora — Simone disse realmente temerosa, fazendo a garota gargalhar alto ao ouvir aquilo.
— Não acredito, Simone Tebet!
— Não ria de mim — Simone exigiu, jogando água no rosto de Soraya ao se afastar.
— Você está falando sério que está negando uma deliciosa transa matinal por medo bobo? — Soraya ainda ria.
— Não é bobo. As pessoas costumam fazer xixi nessas águas. Se fossem limpas o suficiente beberíamos dela — Simone disse cruzando seus braços. — Então você não vai enfiar seus dedos tarados dentro de mim enquanto estivermos nessa água e não permitirei que a sua vagina se contamine. Depois eu não poderei desfrutar, caso aconteça.
— Simone ... — Soraya não aguentava de tanto rir, a morena estava realmente ferrada a tal ideia, o que a fez achar muito fofo seu jeitinho medroso.
— Não ria! — Repetiu seriamente, jogando mais água na garota.
— Certo, certo! — Soraya disse erguendo as duas mãos no ar, rendida. — Coisa linda — ela murmurou mordendo seu lábio inferior ao se aproximar e tocar seus lábios nos de Simone.
— Você — Simone sussurrou de volta, tendo seus lábios ainda sobre os de Soraya enquanto seus braços se entrelaçam ao redor do pescoço da menor e o beijo se tornava mais profundo.
— Hey... — Soraya chamou baixinho, tirando Simone de suas lembranças e fazendo uma força extra para conseguir subir no topo do caminhão sem a ajuda da maior. — Atrapalho?
— Não — a maior respondeu.
Simone tinha suas duas mãos embaixo de sua cabeça e estava deitada sobre a lataria do veículo enquanto tentava admirar as estrelas no céu escuro. Estava prestes a chover, o que fazia de sua tarefa algo bem mais custoso.
— No que estava pensando? — Soraya perguntou, se ajeitando, ainda sentada, ao lado da morena.
— Umas coisas do trabalho — mentiu.
— Oh... — Soraya disse encarando o rosto de Simone . — E o trabalho sempre te faz sorrir tristemente? — A maior suspirou, todavia, nada respondeu. — Por que saiu daquele jeito?
— Janja está com um humor muito bom, isso me irrita — disse séria.
— O fato de amanhã chegarmos não modificou em nada seu humor? — Soraya perguntou, tendo certeza que sim.
O silêncio era interrompido apenas pelo barulho dos grilos e do balançar de algumas folhas das árvores mais próximas.
Era a última noite de viagem das garotas antes de chegarem ao famoso e tão esperado — nem tanto assim para algumas — destino: San Diego, Califórnia. Mas, infelizmente, o transcorrer dos doze dias — sim, doze, Soraya no hospital somado às paradas para jantar e outras aleatórias fez dez dias virarem doze — não favoreceu as duas garotas, pois elas já se encontravam no Arizona, fronteira com Califórnia.
— O que você acha? — Simone perguntou sem olhar para Soraya.
As outras três ainda estavam na parte da frente, embaixo, afinal, haviam decidido comemorar o último dia com Soraya e após algum tempo Simone pediu licença, dizendo que iria ir tomar um ar. A garota loira esperou, mas uma hora depois ela decidiu ir checar se ela estava bem.
— Posso me deitar ao seu lado ou você prefere que eu desça para que fique sozinha? — Soraya perguntou cautelosamente, as orbes castanhas da mulher morena pela primeira vez se desviaram para a figura ao seu lado.
Simone estava com um short, apesar de estar bastante frio, e uma blusa xadrez verde, cabelos soltos como de costume e tinha uma mão apoiada na lataria do caminhão.
— Gosta de ver estrelas? — Perguntou solenemente, ignorando a pergunta.
— Oh, eu adoro. Principalmente com você — Soraya respondeu de forma maliciosa, rindo após proferir tais palavras, sua fala arrancou uma risada fraca de Simone, que retirou o braço direito debaixo de sua cabeça e o esticou para ela.
— Eu falo sério, Soraya— ela disse e a loira assentiu, olhando para o céu e vendo que não dava para ver estrela alguma.
— Desculpe — pediu, soltando uma risada doce. — Eu amo ver as estrelas. Principalmente se for com você — sem malícia dessa vez; o tom havia saído sério e a intensidade no olhar de Soraya enquanto olhava no fundo dos olhos da maior comprovavam que o que dizia era livre de brincadeiras.
O pequeno corpo se acomodou no vão do braço de Simone, não obstante, Soraya não se deitou de vez; ela usou seu braço esquerdo para apoiar o peso de seu corpo enquanto sua mão direita foi para o rosto da morena.
— Essa foi a coisa mais casual que eu tive na minha vida — Simone disse, sentindo a pele macia dos dedos de Soraya acariciarem seu rosto. — Aliás, essa foi a única coisa casual que eu tive e eu vou manter isso assim, porque dessa forma, mesmo casual, você ainda se torna única.
Soraya sorriu tristemente ante às palavras de Simone e se inclinou, depositando um beijo gentil no canto dos lábios da garota.
— Você é a mulher mais doce que eu conheci — Soraya falou pincelando a vértice de seu nariz pelo rosto da morena em uma carícia. — Não se esconda por trás do personagem grosseiro e rude.
— Certo — Simone assentiu, sentindo os primeiros pingos de chuva começarem a tocar a lataria do veículo e seu rosto. — Sory, está chovendo — falou ao sentir Soraya afundar o rosto no seu pescoço.
— Sim. Fica aqui comigo um pouquinho? — Soraya pediu com a voz ligeiramente embargada e Simone assentiu, sentindo um horrível nó se formar em sua garganta.
— Fico — a voz saiu falhada e baixa, arranhando a garganta da maior.
O silêncio se instalou e a chuva não caía tão forte, eram gotas geladas, porém fracas. Soraya envolveu o corpo de Simone em um abraço e respirou fundo.
— Nosso primeiro beijo foi na chuva — Soraya proferiu baixinho, inalando o cheiro natural do pescoço de Simone.
— Valeu a pena ter passado aquele frio — Simone disse rindo fraco.
— Valeu a pena ter pegado aquela gripe — Soraya disse, levantando o rosto e fitando Simone nos olhos.
— Valeu a pena ter te dado carona.
— Valeu a pena ter te beijado.
— Valeu a...
— Shhh... — Soraya proferiu, engolindo em seco, para então colar seus lábios nos de Simone.
A chuva se intensificou, mas nenhuma das duas se moveu dali. Se beijaram com intensidade, com leveza, com paixão. As gotas frias encharcaram ambas as garotas e Simone sentiu seu coração se comprimir ao sentir uma gota quente. O beijo foi interrompido por um soluço baixo da loira, mas nenhuma das duas se atreveu a dizer nada.
Soraya apenas se aconchegou mais no calor do corpo de Simone enquanto afundava a cabeça na curva de seu pescoço e chorava sem pudor.
Já Simone... Bem, ela abraçou Soraya fortemente, como se segurasse a coisa mais valiosa do mundo em seus braços e derrubou uma ou duas lágrimas, no máximo. Queria chorar, mas chorar era aceitar que sua teoria do início estava correta: ela se apegava fácil demais.
Quem se apaixonaria em doze dias, por Deus? Não precisava ser muito esperto para responder essa questão, bastava ver dois corações partidos em cima do teto do caminhão que saberiam.
Ambas haviam se apaixonado.
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Estrada Da Vida - Adaptação
Fanfiction{CONCLUÍDA} Simone Nassar Tebet é uma caminhoneira; levava a sua vida na tranquilidade das estradas de todo o país. Aos seus vinte e sete anos não se via fazendo outra coisa senão dirigir, exatamente como seu pai a ensinara. A garota possui mais dua...