Capítulo 36

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— Eu preciso te contar algo.

Certo. Lá vem bomba. Por que raios Soraya sempre fazia isso? A maior piscou lentamente e subiu sua calça, a deixando aberta ainda.

— Então conta — Simone disse, vendo Soraya rir sapeca.

— Eu quase gozei junto com você — confessou, mordendo o lábio inferior.

— Soraya! — Simone repreendeu com veemência, se virando ligeiramente apenas para empurrar levemente os ombros da menor. — Pensei que fosse algo sério. Que susto!

— Desculpe — Soraya riu baixinho, sentindo-se mais nervosa do que o normal de repente. — Sisa...

— Hm?

— Não era isso que eu iria contar, apenas perdi a coragem — disse em um suspiro.

— Então do que se trata? — Simone perguntou e Soraya desviou os olhos para a chuva.

— Eu, huh... — Exalou o ar de seus pulmões e fitou intensamente Simone. — Olha, eu te contei que não tenho mais onde morar, te contei que apanhei, então não tenho por que te esconder nada.

— Soraya, você está me preocupando — Simone disse, se virando mais para a menor.

— Eu não sou mais uma adolescente boba e por isso eu vou ser bem sincera aqui. Por favor, só não me odeie ou se afaste de mim, eu realmente adoro a sua companhia — Soraya disse, vendo Simone assentir.

— Prometo.

— Eu me apaixonei por você, Simone.

Silêncio.

Mais silêncio.

Simone não conseguia acreditar no que seus ouvidos haviam escutado, por isto acabou ficando muda, completamente sem reação, o que deixou Soraya mais nervosa ainda.

— Eu sei que só nos conhecemos há meio mês e que é muito cedo, mas eu tenho certeza — Soraya afirmou com veemência. — Eu não sei se foi por carência, por nunca ter tido alguém que cuidasse de mim igual você ou se apenas seu jeito completamente protetor e sério — dizia enquanto Simone ouvia tudo atentamente. — Eu fiquei fascinada com seu jeito no início.

Soraya dizia tudo, buscando a maneira menos impactante de se explicar, mas pela reação de Simone, não tinha dado muito certo.

— Você era totalmente o oposto do que falava. Era rude em palavras, mas doce em ações — Soraya disse sorrindo de um modo terno. — Brigava comigo enquanto colocava gelo em meu rosto, resmungava baixo enquanto me oferecia de bom grado sua blusa, me olhava seriamente enquanto me oferecia algo para comer, se mostrava dura, enquanto optava por passar frio ao me ceder seu cobertor.

Simone jamais havia se visto pelo ponto de vista de outra pessoa e realmente a figura que Soraya pintou dela era bem bonita.

— Eu senti a necessidade de tentar te descobrir, te entender — Soraya disse, acariciando o rosto de Simone gentilmente. — Percebi que você reagia como um furacão quando algo te machucava, mas logo se arrependia, igual da vez que liguei o rádio e você me expulsou do caminhão. Não se passou nem um minuto até você ter ido me buscar — riu. — Também percebi que fazia isso para se proteger da minha proximidade, igual da vez que me ofendeu e eu saí do caminhão no meio da chuva, lá estava você, de novo arrependida em menos de um minuto.

— Desculpe por isso — Simone falou entortando o canto de sua boca e Soraya negou com a cabeça.

— O fator principal aqui não é esse, Simone — Soraya disse, olhando para a chuva antes de voltar a fitar Simone com toda a intensidade que havia em seu ser. — O fato é que descobri que você vive cuidando e protegendo os outros e talvez você só precise de alguém que te ame e cuide de você também, que te mostre que o mundo pode ser divertido também... — Falou com toda a sinceridade, analisando minuciosamente as expressões da morena. — E eu estou disposta a ser essa pessoa se você deixar, mas se você não sentir isso tudo que sinto vou entender também, e saiba que quero sua amizade, quero ver você feliz mesmo que não seja comigo...

Se apaixonar em alguns dias só não era mais surreal do que se apaixonar e ser correspondido. O brilho e a expectativa no rosto de Soraya fizeram Simone perceber que deveria falar algo ao invés de afundar em sua mente.

— Eu deixo — sussurrou após longos segundos em silêncio, sentindo-se quase com falta de ar.

— Deixa? — Um lindo sorriso se abriu no rosto de Soraya. — Está falando

sério?

— Claro que eu estou, Soraya. — Simone disse solenemente. — Até parece que eu diria não para a garota que habita meu coração. Você é a pessoa que me faz feliz, apenas você, não tem ninguém que possa substituir isso.

Isso realmente pegou Soraya de surpresa, pois suas sobrancelhas alçaram alguns milímetros e seu sorriso quase rasgou seu rosto.

— Está dizendo que é recíproco?

— Sim — Simone afirmou, segurando a mão de Soraya que acariciava seu rosto, a levando até sua boca e depositando um beijo gentil sobre a pele dela. — Estou dizendo que isso é surreal e eu até riria se alguém me dissesse que se apaixonou em tão pouco tempo, isso se não tivesse acontecido o mesmo comigo.

— Então me dá um beijo para provar que é real? — Soraya sussurrou, inalando o cheiro dos cabelos pretos antes de ver Simone se inclinar e esbarrar seus lábios nos dela.

O toque foi suave, gentil e singelo, todavia, o coração de ambas transbordava tanta felicidade que o toque de lábios passou a ser mais profundo, ainda lento, no entanto.

— Só colocando em outras palavras para eu ter certeza: Você aceitou namorar comigo ou... — Soraya proferiu com sua boca ainda sobre a de Simone. A maior riu e depositou um beijo em seu rosto.

— Sim, Soraya. Eu aceitei. — Ah, como Simone amava aquele sorriso de Soraya. Aqueles dentes perfeitamente alinhados e aquele brilho nos olhos sempre faziam seu coração errar uma batida. — Como consegue ser tão linda desse jeito?

— Para, Sisa! — Soraya pediu, afundando seu rosto na curva do pescoço da maior devido à timidez.

— Como pode ser tão sem vergonha para algumas coisas e tão tímida para outras? — Simone questionou rindo.

— Eu não sei lidar com elogios.

— Pois deveria aprender, porque eu nunca vou me cansar de te elogiar — Simone disse, olhando para a chuva, que diminuía drasticamente. — Sory?

— Sim?

— Eu te disse que não gostava de nada casual — falou rindo.

— Mas comigo começou assim. Assuma!

— Talvez no fundo eu já soubesse que você seria mais do que isso na minha vida.

Soraya sorriu bobamente e envolveu seus braços ao redor de Simone, abraçando-a.

— Talvez já soubéssemos, então.

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