Capítulo 11

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Samara, como sempre, foi a primeira a acordar dentre ela, Janja e Gleisi. A mulher abriu a grande porta traseira do caminhão e foi fazer sua higiene bucal. Um miado lhe assustou enquanto enxugava seu rosto e então seus olhos foram para baixo, de onde provinha o mesmo.

— Hey, o que faz aqui fora? — Perguntou docemente, vendo Garfield miar novamente antes de se sentar e fechar os olhos. Parecia sereno.

Samara sorriu ao escutar que o animal ronronava. Descobriu então que o gato aproveitava o calor, afinal a sensação do sol da manhã tocando sua pele era mesmo confortável.

Risadas altas chamaram a atenção de Samara enquanto ela desfrutava do sol da manhã e caminhou alguns passos, reconhecendo de longe sua irmã do outro lado da rua.

— Bisbilhotando, huh? Que feio! — Janja gritou, assustando Samara, que desferiu três tapas no braço de sua irmã mais nova. — Ouch! — Disse, esfregando o lugar do tapa. — O que tanto vê?

— Simone está se divertindo — Samara disse como se fosse um segredo de estado.

Gleisi e Janja arregalaram os olhos e olharam na direção do rio. Dali só se escutava risadas e, por esta razão, as garotas atravessaram a rua sorrateiramente, ficando apreciando o momento de um canto escondido, com sorrisos bobos nos lábios.

— Não vale! Você tem os braços mais compridos — Soraya dizia enquanto jogava água em Simone. A mais velha ria alto diante da fúria da ruiva por ter perdido mais uma corrida.

— Soraya... Para! — Simone gritou ainda rindo enquanto virava seu corpo para não ser atingida por tanta água.

— Havia anos que eu não a via desta forma — Samara sussurrou e o casal com ela suspirou bobamente.

— E olha que a garota só passou três noites com a gente — Janja disse, vendo Simone afundar na água e se levantar novamente atrás de Soraya, abraçando-a por trás para segurar seus braços. — Eita, que elas estão de intimidade — proferiu em um sussurro surpreso.

— Me solta! — Soraya disse rindo e se debatendo. — Simone, não tem graça.

— Te solto se prometer parar de tentar me afogar com esse monte de água — Simone disse firmemente, se controlando para não prestar atenção na pele macia de Soraya sob seu toque.

— Não vou prometer nada. Agora me solta! — Pediu entre um riso e Simone não soltou. — Seus seios estão tocando as minhas costas e eu não responderei por mim se não me soltar — disse de propósito, tendo o resultado que esperava: a mulher lhe soltou no mesmo momento.

— Acho melhor irmos, as garotas já devem estar acordando — Simone disse se esquivando do assunto e Soraya assentiu, nadando até a beira do rio.

— Se divertiram? — Janja perguntou quando ambas saiam completamente nuas do rio.

Simone se apavorou, empurrando Soraya na água novamente. A mais nova afundou e voltou à superfície irritada.

— Simone! — Soraya gritou, passando uma das mãos no rosto para retirar o excesso de água e Simone olhou sorrindo amarelo para a garota.

— Certo. Virem-se todas! — Simone disse e Soraya riu.

— Pra que se você está aí pelada na nossa frente?

— Para que Soraya possa sair — respondeu enquanto se secava com a blusa xadrez que usava por cima da outra.

— Eu não me import... — Soraya tentou dizer algo, mas Simone lhe olhou feio.

— Vamos lá! Não temos o dia todo — Simone disse séria e as garotas se viraram.

— Você a viu pelada. Por que está fazendo disso um teatro todo caso nós também a víssemos? — Samara perguntou rindo, já virada de costas.

— É diferente — Simone disse, vestindo a calcinha e estendendo a mão para ajudar Soraya a sair do rio.

— Obrigada — sussurrou, vestindo sua calcinha e passando o vestido por seu pescoço desajeitadamente.

— Vocês estão transando? — Janja perguntou confusa e Simone arregalou os olhos.

— O quê? É claro que não! Por que pensaria algo assim? — Simone respondeu prontamente, meio aturdida.

Soraya sentiu uma pontada de decepção naquela fala. Por que seria claro que não? Ela era tão feia assim aos olhos de Simone?

— Foi só uma pergunta, morena. Calma!

— Está na hora de irmos. Já comeram? — Perguntou.

— Ainda não — Janja informou.

— Sory, você comeu? — Simone perguntou e ganhou um sorrisinho contente da loira pelo novo apelido.

— Na verdade, não.

— Vamos lá então, te preparo algum sanduíche e então partimos.

— Por que só vai preparar para ela? — Janja questionou.

— Ela é a convidada. Vocês são de casa — respondeu séria.

— Tem certeza de que não estão transando? — Gleisi perguntou confusa. Simone nada respondeu, apenas saiu resmungando algo dali e foi para o caminhão.

— Hey... — Soraya disse ao entrar no caminhão atrás dela. — Obrigada pelas risadas — a morena apenas sorriu-lhe contida. — E acredite ou não, este está sendo o melhor aniversário da minha vida em muito tempo — a mulher franziu o cenho e lhe encarou.

— Aniversário? — Perguntou surpresa. — Hoje é seu aniversário?

— Sim — Soraya assentiu. — Parece que alcancei seus vinte e sete, hm? — Brincou rindo.

— Por que não me disse?

— Disse o quê? — Janja invadiu o caminhão, passando por trás de Soraya para ir para a boléia.

— Hoje é o aniversário da Soraya — informou.

— Glória a Deus! — Janja disse entusiasmada. — Já sabe, não é, Simone? Pare em algum ponto de venda e compre algumas bebidas e algo gostoso para comermos. Ah, você parará de dirigir hoje por volta das sete

— Gente, não precisa disso tud...

— Você realmente não conhece nossa família — Janja a cortou rindo. — Se tem uma coisa que fazemos é ter consideração pelos aniversários e esse foi o único motivo de Simone nunca ter desaparecido de vez de nossas vidas — falou em meio ao riso.

— Já agradeceu à Virgenzinha por mais um ano de vida? — Simone perguntou animada. Era estranho, a mulher nunca estava animada.

— Eu, uh, meio que não acredito nisso. Mantenho a minha fé somente em Deus, mesmo — disse, recebendo olhares surpresos.

Samara e Gleisi conversavam animadamente algo do lado de fora do caminhão e Soraya desejou poder sair dali e ir conversar com as garotas. Ela se sentiu intimidada pelos olhares das irmãs dentro do caminhão.

— Bem, agradeça à Deus então — Simone disse sorrindo docemente.

— Garotas, hoje tem festa! — Janja gritou.

— Festa? — Gleisi perguntou com uma interrogação no meio da testa.

— Soraya está completando vinte e sete anos — Simone disse sorrindo.

— Oh, meu Deus. É dia de festa! — As garotas disseram animadas, subindo às pressas no caminhão, Samara segurou o gato em seu colo, subiu e fechou a porta.

— Pois é. Subam porque hoje à noite promete — Simone disse rindo e Soraya se viu em uma espécie de universo paralelo onde a mulher agia daquela forma.

Quem era aquela e o que tinha feito com a Simone séria e grosseira?

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