Sᴇᴍᴘʀᴇ Fᴏɪ Vᴏᴄᴇ̂ -Oʀᴜᴀᴍ

Capítulo 30

Era pra eu estar triste ou com muita preguiça porém a animação está a me contaminar inteira, me vejo como naqueles dias em que acordamos a fim de fazer tudo, ligada nos duzentos e doze. Me levanto e já vou tomar meu banho, colocando meu uniforme que sempre sonhei em usar. Instantaneamente mando uma foto de como estou para Bia que nesse horário deve estar no seu terceiro sono, se tem algo que ela já conseguiu me dizer é isso, enquanto ainda lembro de chamar -lá pra dormir em minha casa e ela não acordava de maneira alguma, tentei até  gritar no ouvido da mulher e nada de abrir os olhos, foi bem perturbador, achei que ela tivesse morrido.

Desço para a parte debaixo já com as minhas coisas em mãos, iria preparar um café pois caso eu não tome o meu dia ainda não começa, e naqueles míseros segundos que espero a máquina de café terminar o expresso que havia escolhido, me pego pensando nisso, a minha vida sempre foi proporcionada a dar tudo errado e então quando finalmente ela entra dentro dos trilhos, parece um sonho que por este momento não tem fim.

—Oi pai, como o senhor está?—pergunto para o mais velho do outro lado da linha.

—Estou tão orgulhoso da minha menina,  foi quase ontem que você me disse que seu sonho era cuidar de animais quando viu aquele gatinho machucado—sinto meus olhos arderem—Não sabe o que sinto pois está longe o suficiente pra perceber porém eu te amo demais minha filha, papai sempre vai estar aqui quando você precisar, se acontecer qualquer coisa liga pro pai primeiro.

—Eu nem acredito que consegui chegar até aqui, vai ser meu primeiro dia de trabalho e eu não imaginei que me sentiria assim—digo e chega a doer como se tivessem arramas farpados cercando o meu pescoço inteiro.

—Você consegue, preciso ir pois tá no horário do trabalho— ele dá uma longa pausa e então retorna a falar—Eu te amo.

E lá se foi a voz dele, em meio a este celular que mal posso o-ver, isso é o que mais me dói, ficar longe do meu pai tem sido o maior desafio que já enfrentei na minha vida.

—Cadê a minha veterinária?—Oruam pergunta ainda com cara de sono porém mantendo a visão no trânsito que estava fazendo.

—Não acredito porém sei que é verdade—quase tenho pulinhos de alegria.

—Bagulho e louco mermo, o negócio é continuar se esforçando tá ligado? E daqui a pouco tu é nome da clinica.

Amo a confiança que ele transpira, eu começo a me sentir inspirada de alguma forma e isso me torna feliz, quando se tem alguém que ama ao seu lado você consegue entender o verdadeiro sentido do amor, ele não é algo que se pode comprar ou algo que se possa forçar, é apenas natural. Aquele frio na barriga quando ele chegava mais perto do que o habitual, aquela tremedeira quando conversava com ele por celular e eu tentava me controlar porém era quase impossível.

Esse sentimento é absurdo e foi nisso que me entreguei por completo, dessa vez foi de verdade e por inteiro, não somente uma parte de mim com medo de ser machucada novamente.

—Tenha um bom trabalho minha mulher, na hora de sair me da um toque que eu apareço aqui, só marcar cinco—assinto com a cabeça e ele me puxa novamente para tê-lo grudado em meu corpo—Nem um beijo de despedida? Vou ficar sem você por um tempinho.