Sᴇᴍᴘʀᴇ Fᴏɪ Vᴏᴄᴇ̂ -Oʀᴜᴀᴍ

Capítulo 40

Tanta coisa muda em pouco tempo que isso chega a me assustar, estou me sentido tão melhor agora, fazem semanas que tenho me consultado e terapia tem sido uma coisa muito boa, meus amigos sempre ao meu lado para me apoiar nas coisas também. Só não sabia que as coisas iriam desandar novamente, dessa vez eu estava preparada pra isso, não irei me auto destruir novamente. Não dessa vez.

—Te ter ao meu lado nesses momentos é tão bom—sugiro suas mãos que parecem tão geladas e cinzas, seus olhos fundo e quase magra demais, consigo ver seus ossos enquanto ela respirar pra cima e para baixo.

—É o que os filhos fazem, o médico disse que você está tendo um grande avanço, logo você você estar andando por ai como antes.

—Sabe que isso é mentira, né sinto cada dia mais fraca, respirar dói mais do que eu pensei—ela realmente não parecia bem com tudo—Posso lhe contar uma coisa?

—Claro—concordo com a cabeça, uma hora isso iria acontecer, milagres só acontecem em filme e esse momento pode ser letal.

—Quando você nasceu foi o melhor dia da minha vida, seus olhinhos brilhavam enquanto estava em meus braços, não sabe o quanto tenho orgulho da filha que tenho. Posso ter errado diversas vezes, mas eu voltei, voltei para ver o orgulho que a minha filha se tornou. Eu te amo e quero que seja feliz Ana, a mamãe te ama muito.

Meus olhos ardem e já consigo me sentir alagada, talvez eu não estou tão pronta quanto pensei.

E lá foram suas últimas palavras, sua mão se torna tão leve, me invade uma enorme vontade de desmoronar, poderia fazer isso por alguns minutos apenas ali, ao seu lado enquanto os aparelhos do hospital não mostram mais sinal cardíacos, ela havia ido embora.

—Eu também te amo mãe, e não importa o que tenha feito eu ainda te amo como nunca—digo enquanto deixo um beijo molhado em sua cabeça.

Ela havia morrido com um sorriso no rosto e talvez irei me lembrar dela como uma grande memória, suas palavras tem tanto poder que me sinto feliz e no fundo aliviada, eu havia derrotado essa dor no meu peito.

—Ela se foi, né?—meu pai entra e me vê estirada no chão—Vem cá—se aproxima e me abraça—Ela foi para o melhor lugar do mundo agora, irá te olhar de longe porém sempre vai vai em nossos corações.

—Eu te amo pai—quase não sai por conta das lágrimas e de meu nariz entupido que parece muito irritante.

—Papai também te ama, criei uma mulher guerreira e me orgulho disso.

E lá se foram umas das horas mais angustiantes da minha vida, cobriram seu corpo com um pano branco porém no fundo ainda tinha esperanças dela reclamar que o pano estava sujo ou feio de mais pra ela, levantar dali e me dizer que isso nao passou de um sonho, no fundo essa é a melhor opção, depois de tanto sofrimento, vê-la descansar em paz dessa vez é gratificante, vou fazer de tudo para que se orgulhe de mim.

Estavam levando seu corpo para o IML, arrumando ela para seu velório que seria daqui a dois dias, ainda me sentia triste mas dessa vez com alívio, não vai ser fácil me acostumar a não tê-la aqui comigo de uma forma física, sempre será algo sentimental que ficará no meu coração, me dando ótimos conselhos ou brigando comigo de alguma forma.

* * *

—Tá na hora de irmos—meu pai bate pela segunda vez na porta, já estava pronta, com um vestido preto que acho que ela gostaria.

—Pronta em alguns minutos—digo enquanto tento me reerguer novamente, meu pai anda muito preocupado comigo por conta de tudo o que passei porém desta vez não irei cometer os mesmos erros.

Todos no qual conhecíamos estava ali, meus parentes e entre eles estava a tia Edna, uma das pessoas mais importantes pra mim, quando minha mãe me largou ela se tornou minha nova mãe, sempre me aconselhando e cuidando de mim da melhor forma, ao seu lado estava Márcia que parecia bem triste assim como todos ali.

—Boa tarde a todos—o pastor da igreja favorita da minha mãe se apresenta, era isso que ela queria, morrer enquanto escuta o pastor no qual lhe fez se arrepender de seus pecados—A Marta gostaria que todos aqui estivessem feliz por ela ter conseguido ficar tanto tempo aguentando essa doença terminal, temos aqui uma mulher batalhadora que apesar de tudo, fez o possível e o impossível para ter de tudo e ao mesmo tempo nada.

Aquilo era tão triste, ver ela tão linda naquele caixão é inacreditável, ainda estou na primeira fase do luto que não consigo acreditar que ela foi embora, deixará tanta saudades.

—Marta deixou cartas em aberto para todos, foram tão pequenas porém ela iria querer que todos saibam: Roberto:ainda te amo muito, obrigada por tudo, Ana:minha única filha é meu orgulho, e sempre será, Edna:amiga de anos que sempre teve um pedaço do meu coração, Márcia:roubou minha amiga de anos porém também sinto uma enorme admiração por você.

Palavras inesquecíveis, isso eu posso guardar em minhas mente, esquecer os problemas que tivemos e guardar apenas memórias felizes. Enterraram seu caixão e só nos restou alguns míseros minutos para fazer uma despedida de uma vida, todos muito abalados com tudo isso.

—Eu quero que saiba, você foi uma mãe maravilhosa, com seus pontos altos e baixos eu ainda te respeito—as lágrimas não se contém e caem sobre o caixão que já estava prestes a fechar.

Fiquei ali, vendo cada grão de terra preencher tudo até finalmente cair na real, ela havia ido embora de vez, preciso seguir a minha vida assim como ela, talvez seja isso que todos querem, não tão rápido, apenas do meu jeitinho.

Uma parte de mim partiu junto a ela, a pior fase da minha vida foi enterrada.

—Tá na hora de irmos—me levanto do gramado no qual havia caído de joelhos, minhas pernas falharam então simplesmente me deixei cair.

Seguimos rumo até em casa, em pleno silêncio e como se já fosse rotina, elas estavam lá como sempre, me dando apoio quando estou precisando. Eu amo essas garotas.

—Que tal corote enquanto assistimos comédia romântica?—Débora pergunta é eu concordo com a cabeça.

—Nada disso—meu pai encara a gente com um semblante assustador.

—Calma ae seu Rogério, ah calma seu Roberto, hoje nois pode—Beatriz diz e acho que ela já tomou corote demais.

Se bem que essa bebida nem é tão boa assim, sem preconceito porém existe melhores.

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Trilha do amor (Grupo Revelação)