Revelações

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"Send my love to your new lover.
Treat her better.
We've gotta let go of all of our ghosts
We both know we ain't kids no more."
- Send My Love - Adele.

Os olhos azuis ainda me olhavam como se me vissem pela primeira vez. Simone seguiu meu olhar, e engoliu em seco ao se deparar com uma Ilda astutíssima. Ela subia os degraus restantes, no instante em que eu me apressava em fechar o robe. Com dois passos para trás, Simone deixou o espaço livre para que a mão de minha mãe encontrasse meu rosto. O tapa foi certeiro, queimando meu rosto na sequência.

- Eu não admito! - Gritou. - Sua sem vergonha!

Droga, aquilo me deixou furiosa.

- Você não admite o quê? - Gritei de volta. - Que eu seja comida por uma mulher na porra da sua casa? - Ela ergueu a mão para estapear-me novamente, mas Simone interviu.

- Não toque nela! - redarguiu, respirando fundo.

- Soraya, é bom você mandar essa mulher sumir da minha frente. - ela ainda gritava.

- Simone, vá... - eu pedi.

Parada no mesmo lugar, Simone não se moveu.

- Por favor. Irei conversar com ela. - Por muito pouco não implorei.

- Estarei lá embaixo. - Simone disse, antes de descer as escadas feito um foguete.

- Quem é essa mulher?

- Isso importa? Você vai checar a índole dela? Oh! - ri com sarcasmo. - É claro que vai!

- Como você pode? Por favor, Soraya. - ela passou as duas mãos pelos cabelos. - Isso é nojento. É inaceitável. Não me diga que isso é um relacionamento, eu não vou aceitar.

- Chame como quiser.

- Eu vou te avisar uma coisa, mocinha.. - apontou o dedo na minha direção. - Se você estiver pensando em seguir com essa imoralidade, esqueça que você tem uma mãe. Eu te deserdo.

- Você me colocou no mundo. Não é porque a chamo de mãe que você tem que sentir como tal. - Analisando-a, concluí que os seus sentimentos estavam aflorados.

- Você não vai continuar com isso, Soraya Thronicke. Eu te mato. - A voz dela estava firme. Ela já tinha gritado comigo, batido em meu rosto e, pode acreditar, eu preferia muito mais os gritos. Mas não era hora de pensar naquilo. Ela ainda me olhou por mais alguns segundos, para se certificar de que eu havia entendido sua ameaça.

- Você é tão temperamental, Ilda. - olhei-a. - Eu não sou lésbica.

- Você está certa disso? - ela relaxou os ombros.

- Eu sou uma pessoa livre. - sem me abalar, prossegui. - Enxergo o caráter das pessoas, não o sexo, raça. Não confunda minha cadeia hereditária com a tua.

- Você vai querer me ter como inimiga?

- Eu nunca a verei dessa forma. - lamentei. - Mas eu não posso dizer o mesmo por você.

Ela me fitava com muito ressentimento.

- Que surpresa... - Meu pai apareceu de repente. Talvez estivéssemos muito nervosas para notar sua presença. Ele deu um beijo rápido na bochecha dela, e sorriu, com as mãos na cintura. - Algum problema?

Ilda me olhou como se eu fosse a esfinge.

- Soraya está se deitando com uma mulher! - ela contou, sem se importar. Observei-a, esperando uma explosão vinda de meu pai. Não queria olhá-lo. Ele simplesmente continuou parado. Vários segundos se passaram antes que respondesse:

Too Close | Simone & SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora