Too Close | Simone & Soraya

Depois do Universo

"E foi difícil ver o Sol se pôr
quando você se foi
Mas acredito que existe
um final infinito para nós dois..."
- Depois do Universo - Giulia Be

- Você está agindo como uma garota mimada, Soraya. - papai perdeu a paciência comigo. - A pobre moça estava a sua procura, e você nem sequer parou para escutá-la, seu orgulho está ferido, mas Simone te ama. E ela não a traiu como você tem alegado.

- Foda-se Simone! - arrastei a mala até o andar de baixo. - Obrigada pelo acolhimento. - Me despedi de meu irmão e Nat. Estava irritadíssima com a audácia de meu pai, tanto é que não me despedi dele. - Diga às crianças que deixei um beijo.

- Você quer que eu a leve até o aeroporto? - Perguntou Gui.

- Agradeço, mas pegarei um táxi. - da porta, eu acenei, e sai.

Xxx

Doze dias rolaram como uma bola de futebol em campo. Eu estava de relações cortadas com meu pai. Simone não me procurou dentro desses malditos dias. Eu estava surtando. Minha raiva e tristeza se misturavam, mas o que eu queria afinal? Perguntava-me todos os dias, mas nada parecia fazer sentido. Sim, eu ainda estava sensível por dentro, e astuta por fora. Nem Deusdete aguentava o meu estado.

Janja daria uma festa para comemorar seus trinta e três anos. A princípio, me recusei a participar, as festas que minha amiga dava, era regada a confusão. Mas dessa vez, Gleisi garantiu que seria algo pequeno, para os amigos mais íntimos. Optei usar um macacão longo, que deixava minhas costas nuas. Prendi o cabelo no alto com dois kanzashis, o famoso palitinho oriental. Minha maquiagem não estava exagerada, porém, era bem marcante. Dei mais uma olhado no espelho, e apanhei um casaco, lá fora estava congelante.

Cheguei à festa por volta das 20hrs. Segui até a parte interna da casa. A decoração era estilo retro, com muitos enfeites dos anos 60/70. Havia também globos giratórios, com músicas antigas tocando em um volume proporcional. Alguns dos convidados eu reconheci, já outros, eram apenas desconhecidos. Alguns deles usavam perucas de vários estilos. Janja dançava girando os pés para ambos os lados, em sua mão havia uma taça de champanhe. Tirei o casaco, e o deixei em um canto vago.

Dei-me conta de que esqueci o presente da aniversariante no carro, mas ela não perceberia, a julgar por sua felicidade em dançar, sem se importar com o mundo a sua volta. Achei que a festa seria para os amigos mais íntimos. Janja tinha amigos íntimos até demais. Gleisi me puxou para um abraço, logo notei que ela estava alterada pela bebida. César não poderia comparecer então enviou Alexandre como seu representante. Depositei um beijo em sua testa, e me afastei.

- Soraya! - Sorri, ao olhar Tata segurar Clara.
Tata e Rafa eram nossos velhos amigos de longas datas, e tinham fama de aparecer apenas em datas comemorativas. Eles eram malucos, mas animavam qualquer ambiente Clara usava uma peruca black power. Aquilo parecia irritá-la. Mas a mãe era tola demais para se importar.

- Que bom vê-la. - cumprimentei-a com dois beijinhos.

- Segure a bebê, preciso dançar. - desajeitadamente, ela colocou a menina em meus braços. Vendo que sua mãe se afastava, Clara chorou dolorosamente. Ela não era acostumado comigo. E eu muito menos com ela. Senti vontade de chorar também.

- Tata!

- Já que você não dança segure a criança.. - ela não se importou com o fato da menina chorar.

Rafa passou por nós, beijando a cabecinha da filha.

- Obrigada, Soraya. Balança ela, isso funciona. - Zombou, se juntando a Tata na pista.

- O que? - eu estava perplexa. Olhei Clara, pronta para gritar com ela, mas senti pena. - Ok, cale a boca, seu choro é um saco, criatura. - balancei-a para cima, para o lado, para baixo. Nada! - Vamos lá, seja agradável. - O choro ganhou força e minha antipatia. - Eu sou amiga da sua mãe, mas confesso, nós duas não temos um laço de amizade. - ela fez um bico, fungando. - Sabe por quê? Porque você caga, e chora o tempo todo. Isso bloqueia a nossa amizade. - Clara olhava Tata com saudade, depois me olhava como se eu fosse uma bruxa má.