Caridade?

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"Você pode fazer eu me sentir em casa se eu disser que você é minha?
É como eu te falei, amor.
Não me deixe triste, não me faça chorar
Às vezes o amor não é o suficiente e a estrada se torna difícil. Eu não sei o porquê."
Born to Die - Lana Del Rey

A vontade que eu tinha de gritar por ajuda simplesmente se perdeu no meio daquele beijo inesperado. A boca dela era totalmente doce, misturado ao brilho labial, que no momento já se misturava entre nosso beijo. Minhas mãos subiram lentamente até seus seios, para afastá-la de mim. Aquilo não era certo. Eu não gostava de mulheres. Eu não gostava dela. Mas aquele beijo estava agradável.

Simone me apertou ainda mais, minhas pernas estavam bambas. E o mundo paralelo. Sua língua massageava a minha enquanto uma de suas mãos apertava a minha nuca, vacilante. Um gemido escapou de meus lábios assim que ela mordeu a pontinha da minha língua, um sorriso safado brotou em seus lábios. Olhamo-nos. A essa altura eu já estava toda molhada, sua boca veio de encontro a minha, a habilidade da recusa estapeou minha consciência e eu me afastei.

- O que merda está acontecendo? - gritei, tentando recuperar o fôlego perdido.

- Você é um E.T? - perguntou cercando-me.

- Eu me pareço com um? - lancei uma careta nauseada em sua direção.

- Você quer mesmo que eu responda? - sua voz perdeu a força, seus olhos me fitavam com intimidade já conquistada, seu risinho idiota bailava com maestria naqueles lábios rosados, que nesse momento foram molhados por sua língua e seu rosto ganhou vida e a minha simpatia. Ali estava a traficante maluca que havia me levado para o meio do nada e batido em minha cabeça. Quanta falta de sensibilidade. Se bem que eu atirei em sua perna. O jogo estava empatado.

- Você está invadindo o meu espaço, sua fora da lei. - empurrei-a.

- Fora da lei?

- É o que você é.

- Eu já invadi seu espaço antes, e a beijei. Que merda de diferença faz agora?

- Essa... - tirei a minha arma do coldre que estava em minha coxa esquerda, e apontei para ela. Seus olhos emitiam sinais de pavor, e me segurei ao máximo para não rir e lhe assegurar que não atiraria.

- É isso que ganho por beijá-la em voto de caridade?

- Caridade?! - dobrei o braço, perdendo a compostura.

- Opa! - suas mãos puxaram a arma das minhas, e ela estava no controle. Poder absoluto. Bati o pé no chão, bufando igual um touro nas festas de São Firmino em Pamplona.

- Soraya, meu bem... - Ouvimos a voz de minha mãe dar o ar da graça.

O barulho de seus saltos ao se aproximar de onde estávamos fez com que minha mão empurrasse Simone para dentro de uma das cabines, ela caiu e deixou minha arma ir ao chão, neste instante, minha mãe parou, travando suas pernas bem definidas no salto Prada.

- Soraya Thronicke! O que você pensa que está fazendo?

- Eu estou curtindo demais esse jantar, tanto é que no meio dele decidi entrar no banheiro e me suicidar. - eu disse, já encaixando a minha arma no coldre. Meus olhos insistiram em olhar Simone, mas eu obedeci meu senso e olhei minha mãe. Ela parecia abismada, pasmada. Eu sorri.

Too Close | Simone & SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora