Fúria

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"She's got her halo and wings, hidden under his eyes. But she's an angel for sure, she just can't stop telling lies."
Coming Out - The Killers

Entrei no carro, como fui ordenada. Ela amarrou meus braços para trás, sem emitir qualquer palavra. Eu estava digerindo aquela situação, por isso não pensei em reagir prontamente. Senti o cheiro de seus cabelos assim que ela colocou o cinto em mim. Meus braços começaram a doer, mas que opção eu teria a não ser aguentar? Ela ligou o carro, dando partida.

- Olha só, se foi pelo o que eu te disse em Washington, queira me desculpar, ok? Eu estava nervosa com aquela situação toda. - eu achei que seria mais eficiente tentar me redimir, não sentia medo, apenas um desconforto.

- Você não deveria se meter aonde não deve. - ela disse me olhando de soslaio. Era a terceira vez que eu ouvia sua voz rouca. Pegamos uma estrada escura, igualmente comparada à estrada de um cenário de filme de terror, onde um cara louco aparece de repente com um facão enorme querendo te cortar em pedacinhos. Encolhi-me como pude.

- O que isso quer dizer? Você vai me matar? Que adulto, parabéns! - Já que eu estava em um beco sem saída, decidi usar minha ironia, se eu morresse, pelo menos ironizei daquela desalmada. Meus cabelos caíram em meu rosto, fazendo com que eu os jogasse para trás. - Você quer fazer o favor de me explicar o que caralho está acontecendo?

- Se você não ficar quieta, irei amordaçar sua boca.

- Nós podemos resolver isso de outra forma? - tentei convencê-la.

- Cala a boca, porra! - ela gritou, pregando um susto enorme em mim. Meu coração deu uma alavancada dolorida. Eu estava fodida. Morreria nas mãos de uma maluca. Olhei seu rosto alvo, descendo o olhar até a porta. Estava destravada, era a minha chance. Uma energia de adrenalina se espalhou por todo o meu corpo. O carro fez uma curva e ela diminuiu a velocidade, neste instante, abri a porta, me atirando para fora do veículo. Foi tudo muito rápido, estava tudo escuro. De ambos os lados só havia arvores.

Minhas costas latejavam de dor, senti algo quente escorrer por minha testa, soube no mesmo instante que se tratava de sangue. Ergui-me, correndo para dentro da mata. No meio do percurso, tentei miseravelmente desatar aquele laço apertado. Em uma rápida olhada para trás, vi o farol do meu carro voltado para a minha direção.

- Desgraçada. - xinguei com ódio. Tratei de andar mais rápido.

- Se você der mais um passo, eu juro que irei te matar aqui mesmo.

Congelei no lugar, um pavor dilacerava o meu peito por dentro. Enchi o pulmão de ar, e me virei. Ela estava parada em minha frente. Ela era como uma pantera, linda, ameaçadora e decidida. Linda?

- Já que eu vou morrer, que diferença faz o lugar? Anda logo, atire em mim. - O que merda eu estava dizendo? Dei um passo para trás, amedrontada. Ela me puxou, dando uma coronhada em minha cabeça, tudo escureceu.

Xx

Um cheiro forte de mofo me fez espirrar. Abri meus olhos, enxergando tudo borrado. Pisquei mais algumas vezes para que minha visão voltasse ao normal. Eu estava deitada em uma cama, em uma espécie de cela. Ao centro havia uma mesa com duas cadeiras, que por sinal eram feias, desgastadas. Mais a frente, tinha uma porta de ferro, verde. Levei a mão até minha testa, me espantei ao sentir uma gaze no local. Fui sentando devagar, alongando minhas costas. A porta se abriu e a pantera entrou. Sorri ao perceber que ela já ganhara um apelido especial. Combinava com ela, oras.

- Você, venha aqui. - me intimou a sentar ao seu lado, junto à mesa. Só então notei que ela carregava um notebook preto entre os braços. Não dei um passo sequer, quem ela pensava que era? - Você está surda?

Too Close | Simone & SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora