Tortura

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"Me dê um sussurro
E me dê um sinal
Me dê um beijo antes de me dizer adeus."
- Don't Cry - Guns N' Roses

Não sei por quanto tempo fiquei naquele quarto fedido a mofo. A cama em que eu permaneci deitada por dias seguidos, dava sinais de que quebraria a qualquer momento. Em meu braço, havia muitas marcas roxas, e seringas espalhadas pelo chão. Eu estava sendo dopada por duas mulheres, poderia arriscar que elas injetavam o remédio duas vezes ao dia. O efeito já não era tão devastador. Mas, eu não podia fazer nada, minha roupa fora trocada, por algo parecido com uma túnica. Minha coxa direita estava enfaixada. A fraca luz que iluminava o curto espaço estava a ponto de estourar, havia infiltração na afiação. Meu corpo estava tão fraco. Eu precisava tomar água, ou qualquer outro líquido. Com a mão tremula, sustentei o peso do meu corpo, e me sentei. A cama bambeou e desabou. Ouvi correria e vozes se aproximando.

- Abram! - a voz do outro lado da porta ordenou. - Olha só... - Um homem muito barbudo entrou, caminhando até onde eu estava caída. Ele tinha o nariz pontudo, olheiras enormes, e um sorriso debochado nos lábios. Eu diria que ele era árabe, ou algo do tipo. - A donzela resolveu acordar e quebrar a cama. Irá dormir no chão.

- Eu... - minha voz perdeu toda a força, morrendo na garganta.

- Avise o Sheik que a garota acordou. - ele virou a cabeça, olhando os homens parados à porta de ferro gastada. - Eu adoraria ficar para acompanhar a conversa de vocês. - arrastou-me pelo ombro. - Mas preciso me ocupar com outros do seu povo.

- Foda-se! - eu estava fraca, mas não morta. Ainda.

Ele me encarou, ainda sorrindo e saiu.

Ergui-me, mas minhas pernas fraquejaram. Encontrei um espelho pregado à parede. Uni forças e tentei mais uma vez. Precisei me apoiar na parede para conseguir andar até ele. Aquele lugar parecia uma casa velha no subúrbio de algum país de baixa renda. Eu não estava nos EUA, isso não era novidade. Minha vida corria risco, eu estava praticamente morta. Ao mirar o rosto no espelho, senti pena de mim mesma. Meu rosto estava tão magro, meus olhos mais fundos do que o oceano.

Em minha cabeça um desejo ecoava tão alto, a ponto de me fazer cair: Água!

- Nós lhe damos uma cama e você a quebra? - Bolsonaro estendeu-me uma garrafinha de água. Sem pensar duas vezes, eu a peguei. Embaralhei-me para abri-la, minhas mãos não tinham força total, ao conseguir, virei tudo de uma vez. Eu nunca senti tanta falta de água antes. Foi rejuvenescedor.

- Onde estou?

- Longe de casa. Garanto. - ele cruzou os braços. - Sente na cama. - De olho nele, sentei-me no que restara da cama. - Você tomará outra dose de sedativo. Mas antes, quero saber de tudo o que você descobriu a meu respeito. - Eu fechei os olhos, respirando com dificuldade. - Se eu tiver que perguntar de novo, enfiarei uma bala no meio de sua bunda gostosa.

- Eu não faço ideia do que você está falando. - minha voz ganhou uma vivacidade significativa.

- O FBI está investigando toda a minha vida e você diz que não faz ideia do que eu falo? - Sua mão se fechou em meus cabelos, a forma como ele o puxou, deu-me a impressão de que eu ficaria careca. Aquilo doía a cada puxada mais bruta. Minha mão bateu fracamente em seu braço. Bolsonaro deu risada, aperfeiçoando o puxão, fazendo com que eu me inclinasse para frente. - Sua maldita! Você é uma mentirosa da porra.

- Solte-me, por... favor.

- Não serei mais piedoso. - sua mão soltou meus cabelos. Senti vontade de chorar, mas eu estava em uma seca desgraçada. Nem um pingo de lágrima eu tinha. Meu choro foi interno. Estava muito mal, péssima. Pedi a Deus que me mandasse à morte a ter que viver naquela situação. - Você está aqui há duas malditas semanas, nós precisamos sedá-la para que você não grite. E o mais interessante é que ninguém procurou por você. Apenas a polícia local de Manhattan.

Too Close | Simone & SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora