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EMILY

Estou trabalhando na bancada da cozinha esta noite, super frustrada à medida que leio a redação que Susan "corrigiu" hoje cedo. Ela saiu da minha casa com ordens para refazer o texto, mas é tão difícil. A resposta é simples, droga! Se alguém te manda assassinar milhões de pessoas, você diz "Não, obrigado, vou deixar passar". Só que, pelos critérios estabelecidos nessa porcaria de teoria, há prós e contras em ambos os lados, e não consigo dar conta disso. Acho que sou péssima em me colocar no lugar de outra pessoa, e isso é um tanto desanimador.

- Pergunta,- anuncio, enquanto Abiah caminha até a cozinha.

- Resposta - devolve ela, na mesma hora.

- Não fiz a pergunta ainda, idiota.

Sorrindo, ela lava as mãos na pia e amarra um avental rosa-choque na cintura. A aberração cheia de babados foi um presente de aniversário que Jane, Abby e eu demos a ela de brincadeira, dizendo que se fosse a mãe da casa, deveria se vestir para o papel. Abiah rebateu insistindo que ela é mulher o suficiente para dar conta de qualquer peça de roupa que colocarmos na frente dela e agora usa o maldito avental como um distintivo de honra feminina.

- Tudo bem, vou responder, - diz, a caminho da geladeira. - Qual é a pergunta?

- Certo, você é um nazista...

- Nazista o caralho, - exclama ela.

- Deixa eu terminar, tá legal? Você é um nazista, e Hitler acabou de mandar você fazer uma coisa que vai contra tudo o que acredita. Você diz 'Legal, chefe, vou matar todas essas pessoas para você ou diz Vá se ferrar', correndo risco de morrer?

-Mando ele se ferrar.- Abiah faz uma pausa. - Na verdade, não. Meto uma bala na cabeça dele. Problema resolvido

Solto um gemido.

- Exatamente, né? Mas esse babaca aqui..., - aponto para o livro na bancada, acredita que o governo existe por uma razão, e os cidadãos precisam confiar em seu líder e obedecer às suas ordens para o bem da sociedade. Portanto, em teoria, existe um argumento a favor do genocídio.

Abiah  tira uma bandeja de coxas de frango do congelador.

- Besteira.

- Não estou dizendo que concordo com essa linha de raciocínio, mas tenho que argumentar segundo o ponto de vista desse cara. - Frustrada, corro a mão pelo couro cabeludo. - Odeio essa aula, cara.

Abiah desembrulha a bandeja e a coloca no microondas.

- A segunda chamada é sexta-feira, né?

- É, - respondo, com tristeza.

Ela hesita.

- Você vai jogar contra o Eastwood?

Eu me alegro por um instante, porque hoje de manhã recebi a confirmação oficial do treinador de que definitivamente estarei no rinque na sexta feira. Aparentemente, as notas só vão ser computadas na próxima segunda-feira, por isso, no momento, minha média ainda é o que precisa ser. Na segunda-feira, se minha nota em ética for cinco ou menos, vou ficar no banco até contornar as coisas.

No banco. Puta merda. Só de pensar fico enjoada. Tudo o que quero é ganhar o Frozen Four para o meu time de novo e virar profissional. Melhor, quero estourar como profissional. Quero provar a todos que cheguei lá por mérito próprio e não porque por acaso sou filha de um jogador de hóquei famoso. É tudo o que sempre quis, e fico doente de saber que meus objetivos, para os quais me dediquei tanto, estão em perigo por causa de uma matéria idiota.

-O treinador disse sim. - digo a Abiah, que comemora batendo na palma da minha mão com tanta força que chega a arder.

-Assim que eu gosto!, - exclama.

O ACORDO - EMISUEOnde histórias criam vida. Descubra agora