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SUSAN

Meu telefone apita logo antes da meia-noite, mas não estou dormindo. Na verdade, nem vesti o pijama ainda. No segundo em que cheguei em casa depois do trabalho, peguei o violão e voltei ao trabalho. Agora que Ship complicou minha vida da forma mais egoísta e vingativa possível, coisas como "colocar o sono em dia", "relaxar" e "não entrar em pânico" não existem mais. Pelo próximo mês, serei praticamente um zumbi, a menos que encontre, magicamente, um jeito de conciliar faculdade, trabalho, Emily e ensaios sem ter um colapso nervoso.

Baixo o violão e dou uma olhada no celular. É Emily.

Ela: Não consigo dormir. Acordada?

Eu: Tá com segundas intenções?

Ela: Não. Quer que esteja?

Eu: NÃO, tô ensaiando. Totalmente estressada.

Ela: Mais uma razão para segundas intenções.

Eu: Pode ir sossegando o facho, jata. Pq vc não consegue dormir?

Ela: Tudo dói.

Sinto uma onda de pena tremular em minha barriga. Emily tinha ligado mais cedo para dizer que elas perderam o jogo, e aparentemente ela levou umas pancadas feias esta noite. Da última vez que conversamos, ainda estava botando bolsas de gelo pelo corpo inteiro.

Estou com muita preguiça de digitar, então ligo, e Emily atende no primeiro toque.

Sua voz rouca preenche meu ouvido.

- Oi.

- Oi. - Eu me recosto contra o travesseiro. - Desculpa não poder ir até aí beijar todos os seus dodóis, mas estou trabalhando na música.

- Tudo bem. Só tem um dodói que quero que você beije, e você parece distraída demais para isso. - Ela faz uma pausa. - Tô falando da minha boceta, viu?

Contenho uma risada.

- É. Entendi. Não precisa explicar.

- Já decidiu qual música vai cantar?

- Acho que sim. A que cantei para você no mês passado, quando estávamos estudando. Lembra?

- Lembro. Era triste.

- Triste é bom. Gera mais impacto emocional. - Hesito. - Esqueci de perguntar hoje mais cedo... seu pai foi ao jogo?

Uma pausa.

- Nunca perde um.

- Tocou no assunto do dia de Ação de Graças de novo?

- Não, ainda bem. Nem sequer olha para mim quando a gente perde, então não imaginei que estaria a fim de papo. - A voz de Emily está repleta de amargura, e a ouço limpando a garganta. Coloca no viva-voz. Quero ouvir você cantar.

Meu coração está apertado de emoção, mas tento esconder a reação, adotando um tom descontraído.

-Quer que eu cante uma música de ninar, coisinha linda da mamãe?

Ela ri.

- Parece que meu peito foi atropelado por um caminhão. Preciso de uma distração.

Tudo bem. - Aperto o botão de viva-voz e pego o violão. - Sinta-se livre para desligar se ficar entediada.

- Linda, eu poderia assistir a você vendo tinta secar e não ficaria entediada.

Emily Dickinson, minha galanteadora pessoal.

Coloco o violão no colo e canto a música desde o início. Minha porta está fechada, e, embora as paredes do quarto sejam finas, não me preocupo em acordar Vinnie . A primeira coisa que fiz depois que Fiona me deu a notícia foi dar a Vinnie  um par de protetores auriculares e avisá-la de que, até o festival, vou virar noites cantando..

O ACORDO - EMISUEOnde histórias criam vida. Descubra agora