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EMILY

Quando a porta da frente se abre, estou bastante apreensiva, porque meio que espero que Susan apareça em alguma fantasia ridícula numa tentativa de me contagiar com o espírito do Halloween e me convencer alojamento. ir à festa do

Por sorte, é a Susan de sempre que passa a cabeça pela porta da sala de estar e olha para mim. E isso significa que está linda de morrer, e meu tesão se manifesta. O cabelo está preso num rabo de cavalo, e está usando um suéter vermelho folgado e calça de ginástica preta.

- Oi. - Ela senta ao meu lado no sofá.

- Oi. - Passo o braço à sua volta e dou um beijo em sua bochecha, o que parece a coisa mais natural do mundo a se fazer.

Não tenho a menor ideia se sou a única que se sente assim, mas Susan não se afasta, nem zomba de mim pelo comportamento típico de namorada. Entendo isso como um sinal promissor.

- E aí? Por que desistiu da festa?

- Não estava no clima. Fiquei imaginando você aqui chorando sozinha e a pena foi maior.

- Não tô chorando, besta. - Aponto para o documentário maçante sobre leite que está passando na TV. - Mas tô aprendendo sobre pasteurização.

Ela me encara, embasbacada.

- Vocês pagam uma grana para assinar um milhão de canais e é isso que você escolheu ver?

- Na verdade eu tava mudando de canais e passei por esse, vi um monte de teta de vaca e, sabe como é, fiquei excitada e....

-AFFF!

Caio na gargalhada.

-Tô brincando, gata. Na real, as pilhas do controle acabaram e sou preguiçosa demais para levantar e mudar de canal. Tava assistindo a uma minissérie fantástica sobre a Guerra Civil antes de as tetas aparecerem.

- Você realmente curte história, né?

- É interessante.

-Algumas partes. Outras, não muito. - Ela deita a cabeça no meu ombro, e eu brinco, distraída, com uma mecha de cabelo.

- Fiquei triste por causa da minha mãe, hoje de manhã. - confessa.

- É? Por quê?

- Ela ligou para dizer que talvez eles também não possam sair de Ransom para o Natal..

- Ransom? - pergunto, sem entender.

-A minha cidade. Ransom, em Indiana. - Uma pitada de rancor transparece em sua voz. - Também conhecida como 'amostra grátis do inferno'.

Meu estado de espírito logo se torna mais sombrio.

-Por causa do...?

- Do estupro? - pergunta, com ironia. - Você pode falar a palavra, sabe? Não é contagiosa.

-Eu sei.- Engulo em seco. - É só que não gosto de dizer porque torna tudo mais... real, acho. E não consigo suportar a ideia de que tenha acontecido com você.

- Mas aconteceu, - diz ela, baixinho. - Não dá para fingir que não.

Ficamos em silêncio por um instante.

- Por que seus pais não podem visitar você? - pergunto.

- Dinheiro. - Ela suspira. - Se você tiver se interessado por mim achando que eu fosse herdeira de alguma coisa, é melhor saber logo que estou na Briar com bolsa integral e que recebo auxílio financeiro para meus gastos. Minha família tá falida.

- Pode ir embora. - Aponto a porta. - É sério. Pode ir embora.

Susan me mostra a língua.

- Engraçadinha.

O ACORDO - EMISUEOnde histórias criam vida. Descubra agora