7

465 25 2
                                    

Já estava no quarto. No meu quarto, mais especificamente. Não queria ficar no quarto de Leonor. Se ela quisesse falar comigo, ela que viesse.
É, uma conversa seria bem-vinda. Queria entender o por quê dela ter se afastaso de mim propositalmente, e ainda mentido descaradamente sobre o assunto, usando como desculpa uma briga da qual já estava resolvida. Pelo menos, era o que eu achava.

LEONOR
-Demorei mais do que o esperado na sala de reuniões. Meu pai me passou instruções e regras do evento de amanhã, que não tinham nos demais. Apenas eu deveria seguir- já que era a Herdeira.
Além de discutirmos protocolos e meu discurso, meu pai ressaltou novamente o que já havia dito, e o que eu já iria fazer- conversar com minha irmã.
Enquanto subia as escada que dava para os quartos, escritórios e, mas à esquerda, um grande terraço, me peguei lembrando do dia em que a briga ocorreu. Mais especificamente, depois da conversa que tive com meus pais

FLASHBACK
- vocês tem que resolver isso hoje!-.disse minha mãe, enquanto subíamos as escadas

-e mesmo se ela ficar de bobeira...lembre-se que você é a irmã mais velha, filha. Tem que dar o exemplo, princi...- já sabia exatamente o que meu pai iria falar, de modo que o interrompi e conclui

- principalmente porque sou a futura rainha. Eu sei, vocês me dizem isso desde que ela nasceu...

Já estavamos em frente ao quarto de Sofia. Minha mãe foi a primeira a entrar. Eu fui a última. Ela perguntou se Sofia tinha comido tudo, embora não fosse necessário, já que o prato vazio estava em cima da escrivaninha. Meu pai disse que tínhamos 15 minutos, nos deixando a sós em seguida.
Ficamos uns segundos em um pesado silêncio. Seu rosto estava muito vermelho, imagino que sua cabeça latejando.

- Não vai dizer nada?-.disse, quebrando o silêncio, e me aproximando, parando em pé, de braços cruzados- ao lado da cama- onde Sofia estava sentada.

-Le...me...- então, ela começou a chorar e literalmente pulou nos meus braços, me abraçando. Eu quase cai com o impacto. Não retribui o abraço- me desculpa...eu...eu tava tão cansada...eu to tão cansada! Eu não aguento mais ouvir eles nos comparando, me diminuindo. Nosso pai nunca fez tanto isso, então não era tão ruim assim...agora, até ele me diminui...até você...- ela ia continuar, mas tive que interromper.

- Eu diminui você?? Eu só disse que tinha mil coisas pra fazer!! Desculpa se a palavra "birra" te afetou, mas...dado o que tinha dito..não foi exatamente isso que você fez?-ela se afastou apenas o suficiente para me encarar

-desculpa, eu...eu só estava sobrecarregada e descontei em você...desculpa, por favor...-ela abaixou o rosto, e depois de um tempo, pegou minha mão- eu fui uma idiota. Você é a única que me trata como igual, que não me diminui, que não esfrega na minha cara que você vem em primeiro lugar, e mesmo assim...Você sempre me deixa ficar do seu lado, pegando minha mão pra que a gente fique lado a lado...Você sempre me incluí em tudo...não tinha por que eu descontar em você...desculpa- a última palavra foi quase um sussurro.

-exatamente...não tinha por quê...- estava pronta para falar tudo o que eu queria, mas fui interrompida.

- Ja se resolveram? Temos que sair em 5 minutos...- meu pai disse, olhando o ambiente, e me fazendo lembrar que eu não podia me dar ao luxo de expressar meus sentimentos e o quanto ela tinha me magoado. Mais uma vez, teria quw passar por cima dos meus sentimos, para não deixa- la magoada. Porque, sim, foi isso que meus pais falaram. Que eu não podia ir embora sem me resolver com ela, porque isso deixaria Sofia muito mal, tiraria sua concentração nos estudos, tiraria seu apetite...e chegaram até a dizer que, se ela ficasse doente, ou não tivesse notas suficientes para entrar na escola que estou atualmente, seria minha culpa. Disseram também que eu não precisava me preocupar, que ela seria castigada por isso. E que assim, seria a melhor forma de os dois lados ficarem bem. Ou seja, mais uma vez, vou ter que passar por cima dos meus sentimentos e ser "a irmã mais velha". A responsável, a que dá o exemplo, a que cuida da irmã mais nova... e se só isso não fosse o suficiente, ainda sou a Irmã Mais Velha Herdeira, o que me faz redobrar todas as responsabilidades. Com Sofia...com tudo...
Sendo assim, para cuidar dela, para que ela não se sentisse culpada, para que eu não me sentisse culpada, ja que, como ela mesma disse, eu era a única que a tratava de igual, fazendo com que ela não se sentisse inferior. Se eu não a perdoasse e fosse embora, ela se sentiria sozinha, péssima... Prometemos desde pequenas que sempre ficariamos unidas, uma apoiando a outra. Prometi quando pequena que nunca abandonaria ela, que nunca deixaria que ela realmente fosse uma reserva, e que sempre estaria ali. Prometi que sempre iria proteger ela, que ela não seria minha sombra...então, eu disse as palavras que se negavam a sair.

-ta tudo bem...eu te desculpo. Relaxa, ta tudo bem...-, disse isso repetidas vezes, abraçando-a.

Simples palavras, que foram um grande impacto para nós.
Para mim, porque estava revoltada por dentro, e queria magoar ela tanto quanto ela me magoou.
Para ela, porque as promessaa continuariam. Ela se prepararia para os próximos eventos- os 2 últimos antes do fim do ano- com a segurança de que não ficaria sozinha, que não precisaria apenas ser minha sombra, me seguindopara todos os lugares. Com a segurança de que poderia ficar do meu lado a todo o momento, que poderia me usar como escudo quando quiser tossir e não ser filmada. Com a segurança de eu impedir sua exclusão...com a segurança de me ter.
Mas, assim como ela, que não consegue omitir suas emoções, eu não consigo fingir que está tudo bem. Não por muito tempo.
Então, não posso garantir que o que eu disse pra ela continue quando eu voltar. Até porque, também prometemos não mentir...

E, de fato, como podemos ver, eu não mantive o "está tudo bem". Porque, não, não está.

CONTINUA...
eitaaaaa

o lado obscuro da realeza- Princesa Leonor e Infanta SofiaOnde histórias criam vida. Descubra agora