53- Suma daqui

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Enquanto esteve inconsciente, Gus podia ouvir tudo ao redor. Ouvia mas não conseguia responder, tentava abrir os olhos mais os olhos não obedeciam, falar e a boca não se movia. E logo voltava a entrar em seus sonhos novamente, a maioria pesadelos com Blue, ele morreu muitas e muitas vezes pelas mãos dele naqueles dias, mas no fim sempre estava vivo, mas sem poder se mexer. Ouvia as vozes, tentava identificar uma conhecida. Mas nunca ouviu uma voz que reconhecia.
Aprendeu a conhecer a voz de Max que era a que mais ouvia, a de Red, a de Smart. A família do homem que salvou sua vida. Ratt, a pessoa que não ouviu a voz nenhuma vez se quer naqueles dias. Está a beira da morte mudou sua visão sobre muita coisa. Inclusive sobre Ratt, entendia ele, perdoava ele. Ratt salvou sua vida, Gus devia a vida a ele. Teria uma dívida eterna, e descobriria como pagar mais tarde.
Enquanto Max esperava da porta do quarto, Gus entrou. Era aqui que aquela pessoa com a qual tinha uma dívida de gratidão vivia, dormia, sonhava. Andou até a estante, ele tinha muitos livros, CDs, discos antigos.

- Então é disso que você gosta?...

Gus murmurou sorrindo para a estante enquanto explorava cada detalhe sobre a pessoa que ele amava. Sobre a pessoa que provavelmente nunca ia amá-lo de volta. Como poderia um homem como aquele amar alguém como Gus, que foi pego tão facilmente, fraco, torturado, alguém que nem coragem de enfrentar a própria família nunca teve... Ratt é a pessoa má com uma arma e com um código a seguir, provavelmente o salvou por isso, porque mesmo sendo alguém de um mundo tão ruim, ainda tinha seus princípios.

Gus sente o rosto molhado enquanto olha com carinho os porta retratos, a família, Ratt sorrindo nas fotos abraçado aos irmãos, aquele era um sorriso que Gus acreditava que nunca veria pessoalmente.

Gus pega algumas folhas que estão sobre uma mesa, é difícil não poder apoiar o papel com a mão engessada. Max vê ele em dificuldades e corre para ajudar. Com a ajuda do garoto Gus consegue desenhar, os traços trêmulos, mas saem bonitos como sempre. Ele desenha a pessoa que ama, desenha ele sorrindo um sorriso que nunca realmente viu. Escreve no final do papel.

"Obrigado por me salvar, me perdoe por ter entrado de maneira errada na sua vida...Espero poder te rever e agradecer pessoalmente um dia."

- Que lindo seu desenho P'

Os olhos de Max se iluminam olhando o desenho, mas logo ele fica preocupado com o rosto de Gus totalmente banhado pelas lágrimas- P' não esta passando bem?

- Estou sim, só quero ir pra casa...

*****

Sunam abraça o filho com força, ela está chorando, aquela situação é impensada, inusitada, seu filho que acabou de entrar pela porta naquele estado, e agora isso Keyd está de pé furioso, Gus no chão com a marca da mãos do pai no rosto.

- Repete isso que acabou de dizer Gus... Repete essa nojeira que acabou de me dizer...

O pai grita com irritação.
Quando questionaram Gus sobre onde ele esteve e por que estava naquele estado as únicas palavras que ele disse foram que tinha sofrido um acidente e não pode voltar antes por que estava inconsciente, mas que estava tudo bem por que tinha ficado na casa do homem que ele amava.

- É isso que ouviu pai, estou cansado de guardar, de esconder. O que vai fazer sobre isso? Me matar? Me insultar?

Keyd se abaixa e levanta o filho pelo colarinho, Sunam bate no braço do marido pedindo pra ele soltar o filho.

- Eu deveria mesmo matá-lo. Você não tem respeito por mim? Por sua mãe? Por essa família?

Keyd quer bater no filho novamente, mas só de olhar pra ele sabe que esse acidente que Gus diz ter sofrido foi algo grave, pelo seu estado.

- Eu quero que saia.
- De casa? Como pode expulsar seu filho de casa desse jeito? Olha o estado dele?

Keyd se volta para a esposa que está gritando agora. Solta Gus que cai sentado no chão novamente.

- Da minha vida, não vai levar nada, do jeito que acabou de entrar eu quero que você saia. E não apareça mais na minha frente.

Keyd se vira de costas e simplesmente sai da sala sem dizer mais nada, sem ouvir mais nada.

- Filho...- Sunam toma o rosto do filho entre as mãos.- Por que fez isso? Por que disse isso?
- Eu só não aguento mais mãe, peço que tente me entender.
- Eu vou te ajudar, eu...
- Mãe...
-...
- Vou ficar bem, vou arrumar um novo emprego, um novo lugar pra morar. Seu filho é um homem de negócios.
- Acha que seu pai vai deixar você se reerguer nessa cidade? Isso nunca vai acontecer. Como você vai sobreviver assim? E o que aconteceu com você de verdade? Onde esteve esses dias todos? Fale a verdade pra mim...

- Mãe, estou muito cansado...
- Está bem, venha.

A mãe o ajuda a se levantar e o leva para fora. Logo chega um carro que ela chamou. Quando ela tenta entrar junto Gus a impede.

- Meu filho eu vou com você.
- Mãe por favor, não torne as coisas mais difíceis pra mim, eu não sou uma criança pequena. Você sabe onde eu vou estar por enquanto. Fique e tente acalmar o pai por favor. Ele não é novo, tenho medo que ele passe mal por minha causa. E pare de chorar por favor. Eu não morri, nem vou, pelo contrário, eu tive outra chance, é um milagre estar aqui conversar com a senhora hoje. Me deixe viver essa nova vida que eu recebi do jeito que eu quero, por favor. Estou implorando mãe...

Foi difícil para Sunam deixar o filho partir depois dessas palavras, mas em tudo ele ainda se preocupava com seu pai, e com ela. Acabou cedendo, sabia que ele estaria na casa que tinha em segredo, mas seu coração doia, como o filho ia continuar vivendo sem o trabalho que tanto amou a vida toda? Sem os projetos sociais? Sem a família? Sofreu por dias sem notícias do filho e agora sofreria muito mais após o retorno dele.

*****

- P'Ratt ... - Max corre para o irmão que acaba de entrar pela porta. - Finalmente você chegou, por que não me atendeu nenhuma vez?
- Me desculpe Max, eu acabei perdendo meu telefone na viagem e estava tão ocupado que não consegui comprar outro, mas vou fazer isso hoje ainda, só vim em casa tomar um banho e já vou sair novamente.

Ratt já caminhava em direção às escadas quando Max puxou ele irritado pelo braço, Ratt olha o irmã nos olhos, o garoto parecia muito chateado.

- É por isso que o P' Gus estava chorando não é mesmo? Por que você não se importa nem um pouco.

Os olhos de Ratt se abrem mais e se iluminam e o coração parece se expandir dentro do peito.

- Gus despertou?
- Ele já foi embora desde cedo, deixou um recado pra você no seu quarto...

Ratt não espera o mais novo terminar, ele corre para o próprio quarto.
O coração apertado acelerado, Gus tinha ido embora sem eles terem tido a chance de conversar.

" Não, não, primeiro a gente tinha que conversar, por que você partiu assim?"

Seu coração quase para quando finalmente chega a porta do quarto, não sabe o porque mas sente receio do que vai acontecer a seguir nas vidas dele e de Gus...

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