57- Lembrando de uma promessa

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- O leão?... Gus sorri e puxa o quadro um pouco mais pra frente, Ratt precisa ajudá-lo porque a tela é grande e está atrás de muitas outras, só parte dela da pra ser vista, exatamente o desenho de um leão. Assim que ela é trazida pra frente a imagem é viva como uma memória .O desenho retrata um cômodo, o leão é enorme e está desenhado em uma das paredes, no meio da sala tem duas crianças de costas, uma segura o braço da outra e parece desenhar no bracinho pequeno estendido em sua direção. São dois meninos.

- Nossa eu nem me lembrava desse quadro- Gus sorri com a memória- É de uma criança muito fofa que eu conheci quando pequeno. Infelizmente só nos vimos uma vez. Mas ele me causou uma impressão tão forte que mesmo anos depois eu ainda fiz esse quadro quando me tornei adolescente. Mas com o tempo esqueci... Mas se não fosse uma memória tão bonita eu não teria retratado.

Se volta para Ratt que está encarando ele com olhos brilhantes, marejados. Será que Ratt está mesmo bem? Gus se aproxima mais dele, está um pouco preocupado.

- Eu era fofo?
- Ratt do que está falando?
- Você disse que íamos ser amigos sempre...
- Você está passando bem?-Gus toca de leve a testa de Ratt- Não tem febre, mas está um pouco pálido.

Ratt não consegue tirar seus olhos dos olhos de Gus

- Você disse que não ia esquecer da promessa e quando me desenhase eu me lembraria também, mas se éramos crianças, eu só podia lembrar se você me desenhase assim, como uma criança ainda... Você me desenhou tantas vezes como adulto e nunca lembrei, mas agora vendo a gente pequeno eu lembro...

- Ratt... você... você é esse menino do quadro?

Gus está boquiaberto agora, que coincidência maluca era essa? Que destino estranho os estava unindo de volta dessa forma tão caótica? Agora os olhos de Gus eram os que estavam marejados, seu rosto quente, o coração se apertou um pouco com aquela revelação.
- Gus...Você tem noção de quantos dias eu esperei por você?
- E você? Você tem noção de quanto tempo eu desejei voltar até você?

Ratt o está acusando de abandoná-lo? Gus quer protestar, quer dizer que o pai nunca mais quis levá-lo para brincarem juntos, quer dizer que sentiu falta do novo amigo por vários e vários dias, mas não tem tempo de falar nada. Ratt toma ele em seus braços e une seus lábios aos dele, um beijo cheio de uma saudade que nenhum dos dois nem sabia que sentia.

A resposta do corpo de Gus é mais rápida que seu próprio pensamento. A mão boa sobe e desliza pela nuca de Ratt os dedos se enterram nos seus cabelos e forçam a cabeça dele mais para junto da sua. Seus lábios se entreabrem, mas não é pra permitir que a língua de Ratt deslize pra dentro da sua boca, Gus é o primeiro a invadir a boca quente do outro. Sua língua sente urgência em lamber e sentir o gosto de cada canto da boca de Ratt, o mesmo é com Ratt, nenhum dos dois consegue conter o beijo que se torna furioso em questão de segundos, tudo queima ao redor deles, eles sabem que se pertencem e agora mais do que isso, ao entender aquela brincadeira do destino se sentem mais conectados do que nunca.

Ratt morde os lábios de Gus, e se assusta um pouco quando ouve o gemido de dor. Afasta os lábios, está ofegante, Gus não solta sua nuca, então é difícil afastar o rosto. Eles se olham nos olhos muito próximos um do outro a ponta do nariz chega a se tocar.

- Desculpa, não consegui medir minha força. Eu não quero te machucar.

Gus sabia disso, tanto que as mãos de Ratt estavam segurando com leveza sua cintura e Ratt não ousou abraçá-lo forte nem durante o beijo intenso.

- Ratt...
Gus está ofegante ainda.
- Pode falar...
Ratt responde tão ofegante quanto Gus.
- Gosto quando você faz com força...

Gus puxa o outro pela nuca novamente, colando seus lábios, mordendo passando a língua, enlouquecendo Ratt que luta muito pra se controlar, mas não é fácil. O que sente por aquele homem em seus braços é forte de mais. O beijo só termina quando Gus perde as forças e quase cai. Ratt precisa amparar o corpo de Gus e o ajuda a se sentar na cama. Se senta ao seu lado, Gus descansa a cabeça em seu ombro, parece exausto.

- Por favor vamos pra casa? Lá eu posso cuidar melhor de você, não só eu.
- Já não basta eu ser seu brinquedo, ainda está querendo que eu seja da sua família inteira?
- Gus...

Ratt fala com um tom chateado, mas Gus está sorrindo.

- Sua família é adorável e eu gosto de ser o brinquedo de todos vocês.
- Pare de dizer isso por favor, você é tão importante pra mim...
- Quando aquele homem me machucou e me chamou de brinquedo, eu realmente fiquei muito triste e chateado. Mas agora essa palavra não me incomoda mais...
- Incomoda a mim. Você não é um brinquedo, é meu primeiro amigo na vida, é meu primeiro amor. Você entende a dimensão disso?
- Aposto que o tio sabia...
- Meu pai vai ter muito que explicar.

Ratt acaricia as costas de Gus e vê que ele não vai conseguir manter os olhos abertos por muito tempo.

- Vamos pra casa...-Gus sussurra as palavras e Ratt imediatamente o ajuda a se levantar e caminhar até o carro onde o deixou se sentar confortavelmente.

- Eu preciso voltar, arrumar minhas coisas.
-Fique quietinho aí.

Gus suspira fundo, não consegue mesmo manter os olhos abertos, não demora e logo está dormindo.
Ratt volta na casa e faz uma mala com as coisas que acha que Gus vai precisar.

Antes de voltar ao carro passa mais uma vez diante do quadro que Gus pintou deles pequenos brincando juntos a tantos anos atrás. Sente o coração aquecer novamente, aquele menino foi o primeiro amigo que teve de verdade, uma amizade que durou um único dia, mas que ele lembrou durante semanas enquanto esperava o garoto voltar para brincar. Finalmente o garoto voltou, e se tornou seu primeiro amor de verdade nessa vida, não ia deixar esse homem ir embora nunca mais. Seu pai lhe devia algumas explicações, mas a surpresa de saber que o destino pregou essa peça neles era algo bom, ninguém podia tirar Gus dele, e com certeza ele ia matar quem tentou...

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