55- Me deixe amá-lo

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- Eu posso? - Ratt diz fazendo menção a entrar na casa

- Entre! - Gus se recompõe e entra em direção a casa com Ratt o seguindo após fechar o portão atrás de si

A sala é grande mas está mal iluminada, as cortinas estão fechadas, Gus para no meio da sala e se vira pra Ratt

- Muito obrigado por ter salvo a minha vida!

-...

- Sei que veio pra ouvir isso de mim pessoalmente, obrigado.

Gus sabia que não deveria esperar nada de Ratt, ele estava lá parado, mudo, esperando algo, Gus tinha certeza que Ratt não tinha ido atrás de sexo, afinal ele acabou de sair de um coma, e se tivesse ido também, não iria conseguir nada, o corpo de Gus ainda doia, uma mão ele mal movimentava e o pior, seu íntimo estava destruído, não conseguia imaginar alguém lhe tocando, o seu coração estava quebrado, ele era um brinquedinho quebrado, um brinquedo que tiraram de Ratt e quebraram para irritá-lo

- Me desculpe...

Essas palavras em uma voz embargada ecoam pela sala silenciosa, os olhos de Gus olham com surpresa na direção do homem que estava com a cabeça baixa

- Ratt... - Gus tenta dizer algo, ele havia mesmo dito isso? Quem era esse homem a sua frente? Era mesmo Ratt? De cabeça baixa? Pedindo desculpas?

- Gus, me desculpe! - Ratt levanta a cabeça e olha no fundo dos olhos do homem a sua frente - tudo o que aconteceu com você foi por minha culpa, me desculpe, eu jamais iria imaginar que chegariam até você, eu...

A mente de Ratt trabalha mais rápido que sua boca, ele não consegue falar, ele tinha muito a dizer, mas não conseguia colocar pra fora, e olhando o estado de Gus tudo parecia pior, o gesso na mão, curativo ainda na cabeça, ele andava com dificuldade, isso deixava o coração de Ratt apertado, Gus não era um civil qualquer, não tiraram um brinquedo dele, tocaram em alguém que pra ele doeu como se fosse da sua família

Cinco passos longos era a distância dos dois, que Ratt quebrou com de uma só vez, e quando isso não passava de menos de um metro ele observa uma lágrima tímida se formava no olho de Gus

- Eu vou te proteger! - Ratt diz enquanto passa o indicador impedindo a lágrima de cair

- Eu não preciso de defesa Ratt - Gus afasta a mão de Ratt - não sou uma criança indefesa

Ratt não reage, não desvia o olhar, quer entender Gus, não consegue imaginar a dor que ele possa estar sentindo nesse momento depois de tudo que aconteceu

- E o que eu posso fazer pra você me desculpar?

- Você já fez, salvou minha vida e eu sou grato a isso - Gus desvia o olhar - se era só isso, pode ir

- Gus...

- Se veio atrás de sexo, estou um pouco impossibilitado como pode ver - ele aponta pro gesso - sei que o nosso caso é cama, mas não estou com vontade agora

- Como você pode pensar que eu vim até aqui só pra isso? - Ratt franze o cenho

- Porque enquanto eu estava desacordado não ouvi a sua voz uma única vez - Gus diz quase gritando - eu só sirvo acordado pra você, mas não vai acontecer Ratt, eu já estou machucado o suficiente, não tem espaço onde você possa marcar no meu corpo dessa vez

Ratt toma essas palavras como uma dose de veneno amargo, essa era a imagem que estava passado para Gus? De alguém que só queria usar o seu corpo e nada mais? Mas não era isso! Ratt sentia mais, ele queria abraçá-lo, queria realmente protegê-lo, mas como ia fazer isso? Ele não estava acostumado a sentir, a querer, a amar...

Gus volta o olhar a Ratt, ele estava muito silencioso, em outra ocasião já tinha lhe dado um tapa na face, ou gritado com ele, mas não, ele permanecia lá, imóvel, buscando seus olhos e quando se cruzam, os olhos de Ratt estão marejados, fazendo o rosto de Gus mudar para uma expressão de surpresa

- Eu não vim atrás de sexo Gus - Ratt diz olhando fixamente sem deixar uma lágrima sequer cair - eu vim atrás de você, ver como você está...

- Estou assim, do jeito que você está vendo - Gus diz com um pouco de ironia na voz - quebrado, sem família, sem emprego, sem nada, sozinho...

Um abraço

Gus geme baixinho de dor quando corpo grande e forte de Ratt o toma em um abraço apertado que vai se afrouxando rápido

- Você não está sozinho - Ratt diz em meio ao abraço - eu estou aqui com você

- Não Ratt, você não está e sabe disso - Gus diz seco - sou seu brinquedinho, está assim porque ficou bravo que o tiraram de você e quebraram um pouco, mas logo fico inteiro de novo e você pode voltar a brincar

- Gus chega! - Ratt se afasta do abraço e apoia as mãos nos ombros do desenhista - não é isso, não é assim, não fale por mim, você não é um brinquedo, não é, você é a pessoa que me mostrou algo novo, uma pessoa...

- Uma pessoa que te mostrou que sexo com com homem é gostoso, que você não precisa ter medo de me quebrar porque eu aguento - Gus vomita aquelas palavras que estavam entaladas em seu íntimo - uma pessoa que você pode marcar, pode transar até se satisfazer, uma pessoa que não precisa ser amada, uma pessoa que...

- Uma pessoa que eu amo!

Ratt grita

Gus congela

-...

- É isso que você ouviu! - Ratt respira, olha pro teto e volta o olhar a Gus - eu não conseguia te ver ligado naqueles aparelhos, eu precisava ir atrás de quem te fez isso, no dia que você parou de respirar eu senti um pedaço de mim morrendo, eu não sei quando ou como, eu nunca amei ninguém fora a minha família...

- Ratt, isso não é amor - Gus toma coragem e diz - isso foi medo de perder...

- Você agora quer ditar como eu me sinto? - Ratt inclina a cabeça - Gus, eu não sei quando, como, mas aconteceu e isso foi antes desse incidente com você, então não venha me dizer que é medo de perder porque não é!

-...

- Eu quero te proteger, ficar ao seu lado, fazer você se sentir acolhido, te amar com calma, não quero te machucar ou deixar que alguém o faça - Ratt se aproxima novamente com as mãos ainda nos ombros de Gus - me deixe amá-lo!

Gus ainda não havia digerido todas aquelas informações, tudo estava turvo, ele só conseguia ouvir as palavras de Ratt com o seu coração batendo rápido como uma melodia ao fundo de uma canção, as palavras de Ratt eram a letra que ele queria ouvir, mas não sabia se estava preparado para escutar até o final...

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