Eu estava nervoso, minhas mãos sempre suando em situações como aquela, mas eu precisava conversar com ela.
Do momento em que rejeitei o convite do clube ao momento em que voltei a essa cidade e ao momento em que a vi, eu sempre soube que Bibe seria a única que entenderia, ainda podia me lembrar de suas boas conversas e conselhos, e o melhor, era a única pessoa que realmente sabia guardar um segredo como ninguém.
- Tome seu chá, querido! - Bibe me despertou do transe nervoso que eu estava enquanto observava fixamente o quadro de um casal de dançarinos na parede a frente me lembrando dos momentos que vivi que me fariam perdê-la.
- Bibe, não posso mais fingir que está tudo bem... - eu disse segurando o caneco com o chá e tomando um gole.
- O que houve, filho?
Olhei em seus olhos pretos que me observavam com intensa compaixão como se já soubessem que eu não estava ali por um bom motivo.
- Eu... - comecei sem coragem. - E-Eu... - gaguejei mais uma vez e desviando o olhar envergonhado para o chão finalmente admiti. - Quebrei a promessa, Bibe. Eu namorei uma garota... Alícia, o nome dela... Eu não gosto dela mais... E sei que nunca a amei... M-mas sei que Amber cumpriu a promessa, me esperou fielmente. - eu dizia enquanto teimosas lágrimas ameaçavam inundar meus olhos o que me fazia fazer pausas curtas entre uma frase e outra. - Eu... Eu a perdi, não é? A perdi pra sempre. Ela não vai me perdoar, vai? - disse voltando a olhar para Bibe procurando uma faísca que fosse de esperança para me agarrar.
Bibe tinha uma feição de surpresa singela e compaixão misericordiosa.
- Meu filho... Eu não posso te dar a resposta que quer... - ela disse com os olhos marejados.
- E-Eu... eu sei... - eu disse rapidamente limpando uma lágrima que furtivamente escorreu de um de meus olhos. - E... E eu a amo tanto, Bibe... Alícia descobriu isso, por isso terminamos... Eu estava tão carente e sou tão imaturo, por que a fiz prometer aquilo? Por quê? - eu dizia para mim mesmo, então voltei meu olhar ao quadro com uma dor esquisita no peito, mais doída do que quando fui embora daquela cidade, porque agora não tinha mais esperança, não parecia ter.
- Filho... - Bibe me chamou a atenção.
Tornei a olhá-la.
- Você está com a visão errada, deixe-me te ajudar a ajustar isso... A promessa nunca foi um problema.
- Não?
Ela negou com a cabeça.
- A promessa foi ótima, eu sempre estive certa de que foi a melhor coisa que fizeram ainda que jamais voltassem a se ver. A promessa os preservava de eventuais relacionamentos por pura carência, se cumprida. Foi uma benção para mim Amber ter cravado suas palavras no coração dela e cumprido tão fielmente, ela nunca teve exemplo de homem e eu fiz o que pude, mas a mãe dela também não lhe ensinou muito, sua ida poderia ter feito muitos estragos em minha pequena esquentadinha se não fosse a promessa de vocês.
Verdade seja dita, ambos éramos adolescentes carentes, eu tinha dezesseis anos e já tinha dois relacionamentos para contar história.
- Se eu a tivesse cumprido...
Meu arrependimento era tão grande que agora eu me envergonhava pelo que tinha feito.
- Imagino que Amber não será a única moça ferida em sua história, querido, essa outra com certeza não enfrentou isso com tranquilidade se realmente o amava.
O arrependimento só fazia crescer a cada palavra de Bibe, eu havia magoado Alícia também, eu havia sido seu primeiro amor, seu primeiro namorado e primeiro beijo, eu com certeza não tinha mais orgulho disso naquele momento. Ela havia descoberto o meu primeiro amor, e não só isso, mas havia descoberto que eu não a tinha esquecido, que eu apenas estava com ela para tentar substituir a quem eu havia escolhido não deixar de ser apaixonado. Eu podia não ter sido perdidamente apaixonado por Alícia, mas eu gostava dela, gostava mesmo, ainda que de forma mais fraternal do que qualquer outra coisa, eu podia imaginá-la como uma irmã agora que não estávamos mais juntos e isso me fez ficar enojado com o que eu havia feito. Eu havia a magoado, de verdade. Eu não podia mensurar o que ela sentia.
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Nos Enlaces da Vida
Roman d'amourAos doze anos um doce e inocente romance se desenrola entre a pequena Amber e Nathaniel, seu vizinho, e junto com ele uma promessa: seremos os únicos na vida um do outro, até casarmos. Mas ele vai embora deixando apenas um bilhete, um pequeno bilhet...