Mais seis dias se passaram e era véspera de Ano Novo, no anterior eu havia passado aquele dia conversando com Gian e nesse ano passaria com Nathaniel, ah, as escolhas que fazemos com nossa vida, que loucura, quem diria que uma paixão de criança fosse ser alimentada por tanto tempo dentro de mim? Que eu me agarraria a isso com toda a minha carência?
Mas as coisas não haviam sido tranquilas naquela semana, eu não conseguia me alimentar ou dormir direito, levantava no meio da noite e ia chorar escondida na escuridão de nossa pequena área da frente, observando a lua e me lembrando de Gian, sentindo culpa, remorso, eu gostava dele como se fosse um grande amigo, eu nunca tinha esperado tanto que uma notícia fosse mentira. Meu peito ainda doía quando eu o imaginava frio, pálido e sem vida, devia estar mais magro do que no dia em que dormi em sua casa, mais magro do que na formatura, eu não queria ter essa imagem dele, mas era tudo o que me havia sobrado.
Em uma dessas noites Nathaniel veio até mim, quieto sentou ao meu lado no chão frio e me puxou para seu peito, onde encostei minhas costas e ele me abraçou daquela forma, ficamos ambos em silêncio observando o céu negro e estrelado, nesse dia minhas lágrimas já não se manifestavam mais. Ele fazia carinho em meu braço de forma a me acolher.
- Me desculpa, Nathan... Te acordar... Eu prometo me esforçar pra dormir de agora em diante, é só... difícil de acreditar... - eu disse virando o rosto para olhá-lo, nossos narizes quase podiam se tocar.
Seu olhar parecia triste, magoado, ou coisa assim, como eu queria poder beijá-lo ou mostrar de alguma forma que Gian era apenas um grande amigo por quem eu chorava, que eu era a única pessoa que ficaria enlutada por ele. Mas como eu saberia se não o estava interpretando mal?
- Amanhã é véspera de ano novo, Am, e, estou feliz que esse ano tão esquisito esteja chegando ao fim... Você não está? - ele disse continuando a olhar para o céu.
- Na verdade, estou sim, estou ansiosa pelo que vem após tantas tempestades e furacões...
Eu disse e voltei os olhos para a frente, para o céu, Nathaniel soltou um risinho curto.
- Vem uma linda pedra de âmbar... - ele disse.
- O quê? - voltei a olhá-lo ainda encostada em seu peito.
Seus olhos encontraram os meus e como se tivéssemos tomado um choque ficamos em silêncio por alguns segundos com aquela proximidade.
- Âmbar, é resina fossilizada que foi levada ao mar por furacões e tempestades e, anos mais tarde, pedras de âmbar para todos os lados... - ele explicou voltando a si.
Eu sorri.
- Quando estudou sobre isso?
Ele passou a mão por meu rosto como se me admirasse, minhas batidas descompassadas, eu podia ouvir seu coração acelerando também.
- Há alguns anos... Para te dar esse colar... - ele disse segurando a pequena pedrinha do colar que ele me dera e que desde a formatura eu vinha usando.
A noite da virada chegou, nossos vizinhos haviam nos convidado para ceiar com eles e mais uns amigos da vizinhança. Eu havia decidido distrair minha mente e lá estávamos nós, Nathaniel pronto para ir e eu começando a me arrumar.
Peguei meu vestido branco de seda que havia usado na noite em que eu e Clara mais conversamos e mostrei para Nathaniel.
- Será que é demais?
Com dezesseis dias morando juntos e dormindo no mesmo quarto e na mesma cama haviam algumas cerimônias que já tínhamos perdido e alguns cuidados que já não cuidávamos tanto. Ele olhou para o vestido.
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Nos Enlaces da Vida
RomansaAos doze anos um doce e inocente romance se desenrola entre a pequena Amber e Nathaniel, seu vizinho, e junto com ele uma promessa: seremos os únicos na vida um do outro, até casarmos. Mas ele vai embora deixando apenas um bilhete, um pequeno bilhet...