Lockwood & Co - Livro 1 - A Escadaria Gritante

2.

Quando você sai para caçar espíritos perversos, são as coisas simples que mais importam. A ponta prateada de seu florete brilhando no escuro, as limalhas de ferro espalhadas pelo chão, as latas seladas do melhor fogo grego, prontas como último recurso. Mas os saquinhos de chá, marrons e frescos e em abundância, efeitos (de preferência) pelos irmãos Pitkin da Bond Street, são talvez os mais simples e melhores de todos.

OK, eles podem não salvar sua vida como uma ponta de espada ou um círculo de ferro, e eles não têm o poder protetor de uma repentina parede de fogo. Mas eles fornecem algo tão vital quanto. Eles ajudam a mantê-lo são.

Nunca é agradável ficar sentado em uma casa mal-assombrada, esperando no escuro. A noite aperta ao seu redor e o silêncio bate em seus ouvidos e logo, se você não tomar cuidado, começa a ver ou ouvir coisas que são produtos de sua mente. Em suma, você precisa de distrações. Cada um de nós da Lockwood & Co tem sua preferência. Eu desenho um pouco, George tem seus quadrinhos, o próprio Lockwood lê as revistas de fofocas. Mas todos nós gostamos de chá com biscoitos, e aquela noite na casa dos Hope não foi exceção. 

Encontramos a cozinha no final do corredor, logo depois da escada. Era uma sala bastante agradável, limpa, branca e moderna, e visivelmente mais quente do que o hall. Não tinha vestígios sobrenaturais de qualquer tipo. tudo era quieto. O som de batida que eu ouvi era inaudível aqui, e não houve repetição das batidas desagradáveis nas escadas. 

Liguei a chaleira enquanto Lockwood acendia uma lamparina a óleo e a colocava sobre a mesa. À sua luz, tiramos nossos floretes e cintos de trabalho e os colocamos diante de nós. Nossos cintos têm sete clipes e bolsas separadas, e passamos por ele sem silêncio, verificando sistematicamente o conteúdo enquanto a chaleira chiava e bufava. Já havíamos verificado tudo no escritório, mas ficamos mais do que felizes em fazê-lo novamente. Uma garota no Rotwell's havia morrido na semana anterior depois de se esquecer de reabastecer seus sinalizadores de magnésio. 

Do lado de fora da janela, o sol se foi. Nuvens fracas sufocavam o céu azul e negro, e a névoa subia para envolver o jardim. Além das cercas negras, as luzes brilhavam em outras casas. Elas estavam próximas, mas também distantes, isoladas de nós como navios passando por águas profundas. 

Colocamos os cintos de volta e verificamos o velcro ao redor dos floretes. Preparei os chás e os trouxe para a mesa. Lockwood encontrou os biscoitos. Sentamo-nos juntos enquanto a lamparina a óleo tremeluzia e as sombras dançavam nos cantos da sala. 

Por fim, Lockwood puxou a gola do sobretudo até o pescoço.

— Vamos ver o que a Sra. Hope tem a dizer por si mesma. — disse ele. 

Ele estendeu a mão longa e magra para a pasta sobre a mesa. A luz da lâmpada brilhava sombriamente em seu cabelo solto.

Enquanto ele lia, verifiquei o termômetro preso ao meu cinto. Quinze graus. Não quente, mas mais ou menos o que você esperaria de uma casa sem aquecimento nesta época do ano. Peguei meu caderno de outra bolsa e fiz minhas anotações sobre a sala e o vulto. Também registrei detalhes dos fenômenos auditivos que experimentei no corredor.

Lockwood jogou a pasta de lado. 

— Bem, isso foi útil. 

— Realmente? 

— Não. Estou sendo irônico. Ou é sarcástico? Nunca consigo me lembrar. 

— A ironia é mais inteligente, então você provavelmente está sendo sarcástico. O que ela disse? 

— Absolutamente nada de qualquer utilidade. Ela poderia muito bem ter escrito em latim por todo o bem que nos faz. Aqui está um resumo. Os Hope vivem aqui há dois anos. Antes disso eles estavam em Kent em algum lugar, ela dá muitos detalhes irrelevantes sobre como eles estavam felizes. Quase nenhum toque de recolher, lâmpadas fantasmas quase nunca acesas, como você poderia dar um passeio tarde da noite e apenas conhecer seus vizinhos vivos. Esse tipo de coisas. Eu mesmo não acredito em uma palavra disso. Kent teve um dos maiores surtos fora de Londres, de acordo com George.