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Devo salientar, eu acho, que não tenho o hábito de esconder objetos assombrados comigo. Certamente não tenho nenhum outro artefato sinistro enfiado nas minhas meias, como George sugeriu. O colar foi estranho para mim.

Eu o tinha visto na tarde anterior, quando nos preparávamos para o trabalho perto do salgueiro. George o colocou na estante de troféus junto com todas as outras curiosidades. Apenas ficou lá, em sua pequena caixa protetora, brilhando opacamente atrás do vidro. E em vez de deixá-lo, como qualquer pessoa comum teria feito, peguei o estojo, pendurei-o no pescoço e simplesmente fui embora.

Explicar por que eu fiz isso não foi exatamente fácil, especialmente considerando o estado em que estávamos depois da luta. Portanto, só depois de um café da manhã muito tardio no dia seguinte é que tentei apresentar minhas razões.

— Eu só queria manter o colar por perto. — eu disse — Não deixado de lado com todos os outros troféus. Acho que é por causa do que aconteceu quando toquei nele, quando tive aquela conexão psíquica com Annie Ward. As sensações que experimentei então foram as sensações dela . Eu senti o que ela sentiu. Eu tive um vislumbre de ser ela. Então...

— Esse é o perigo do seu talento. — disse Lockwood abruptamente. Ele estava pálido e sério naquela manhã, ele me olhou com os olhos apertados. — Você é quase sensível demais. Você fica muito próxima deles.

— Não, não me interpretem mal. — eu disse — Não sou nada chegada a Annie Ward. Eu não acho que ela era uma pessoa particularmente legal quando viva, e ela é certamente um fantasma cruel e perigoso. Mas por causa do meu Toque, eu entendo algo do que ela passou. Eu entendo a dor dela. E isso significa que quero justiça para ela agora. Não quero que ela seja esquecida. Você a viu deitada naquela chaminé, Lockwood! Você sabe o que Blake fez. Então, quando vi o colar jogado ali com todos os outros troféus, simplesmente. . . parecia errado para mim. Até que esse homem seja punido e a justiça seja devidamente feita, acho que não devemos descartá-la. — Dei-lhes um sorriso triste — Me diga... isso parece maluquice?

— Sim. — disse George.

— Você precisa ter cuidado, Lucy. — disse Lockwood, e sua voz era monótona e fria. — Fantasmas perversos não são coisas para se brincar. Você está guardando segredos de novo, e qualquer agente que faça isso está colocando o resto de nós em perigo. Não vou ter ninguém na minha equipe que não seja confiável. Você entende o que estou dizendo? — Eu entendi. Eu desviei o olhar. — No entanto. . . — continuou, num tom um pouco mais leve — por acaso deu tudo certo. Este colar provavelmente teria sido roubado, se não fosse por você.

Ele o tinha na mão enquanto falava, a superfície dourada do pingente brilhando ao sol. Ficamos no porão, ao lado da porta aberta do jardim. O ar frio entrou, diluindo a mancha de decadência deixada pelos Visitantes libertos durante a noite.

O chão estava coberto de cacos de vidro e manchas de plasma.

George estava trabalhando nas prateleiras de troféus, examinando as caixas. Ele usava um avental com bordas levemente rendadas e estava com as mangas arregaçadas.

— Nada mais foi roubado. — disse ele — o que, se aquele cara fosse um ladrão normal trabalhando para o mercado negro, é um pouco estranho. Tem algumas peças quebradas aqui. A mão pirata, por exemplo, ou esta adorável fíbula. . .

Lockwood balançou a cabeça.

— Não. É o colar que ele queria. O que também é muita coincidência. Alguém precisa muito disso.

— Bem, nós sabemos quem é esse alguém. — eu disse — Hugo Blake

George fez uma pausa.

— Só um problema. Ele está atualmente preso.

Lockwood & Co - Livro 1 - A Escadaria GritanteOnde histórias criam vida. Descubra agora