22.

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De repente, como se um interruptor tivesse sido acionado ou um plugue desligado, o barulho terrívelfoi interrompido. Estávamos sozinhos.

O silêncio repentino me fez estremecer. Sentei-me contra a pedra áspera, cabeça erguida, bocaaberta, ofegante. Meu próprio sangue martelava em meus ouvidos. Meu peito subia e descia aostrancos e barrancos, cada movimento me causava dor. Embora estivesse totalmente escuro, eusabia que os outros estavam esparramados ao meu lado na passagem apertada. Suas respirações chiavam como a minha.

Tínhamos desabado num único monte, um em cima do outro. O ar estava frio e azedo, mas pelo menos o cheiro insuportável de sangue havia desaparecido. 

— George, — eu resmunguei — você está bem?

— Não. Asnádegas de alguém estão achatando meu pé. 

Mudei de posição, irritada. 

— Eu quis dizer o plasma, onde você foi atingido.

— Oh. Sim. Obrigado. Não tocou na minhamão, embora eu ache que esta jaqueta esteja estragada. 

— Isso é bom. É uma jaqueta horrível. Quem tem umalanterna?Acabei de deixar a minha cair. 

— Eu também. — disse Lockwood.

— Aqui. — disse George, clicando para acender a sua lanterna.

A luz da lanterna nunca te mostra o seu melhor. Na súbita aspereza, George e eu nosagachamos, olhos esbugalhados, cabelos emaranhados com suor e medo. O braço de George estava manchado de branco e verde lívido onde o plasmao atingira. A fumaça subia dele e também do florete em meus joelhos. Quando olhei para baixo,vi que minhas botas e leggings também estavam respingadas da substância.

Lockwood, milagrosamente, parecia ter escapado melhor do ataque. Seu casaco estavalevemente manchado e a ponta do topete tinha sido queimada por uma gota de plasma. Masonde o rosto de George brilhava em um vermelho vivo, o dele havia ficado mais pálido, enquantoGeorge e eu engasgávamos, gemíamos e cambaleávamos, ele permanecia calmo e rígido,esperando que sua respiração se acalmasse. Ele havia tirado os óculos escuros e seus olhosescuros brilhavam. Sua mandíbula estava rígida. Pude ver imediatamente que ele havia atraídosuas emoções para dentro de si, tornando-as duras e férreas. Havia algo em seu rosto que eunão tinha visto antes.

— Bem. — ele disse — Acabou por enquanto.

Georgeinclinou a lanterna para dentro da abertura secreta.Segundos antes, dedos grossos de sangue escorriam por ele. Agora a madeira estava seca,empoeirada e sem manchas. Não havia nenhum sinal visual de que algo tivesse acontecido. Setivéssemos voltado para a sala vazia, sem dúvida ela também estaria seca e limpa. Não quevoltaríamos lá tão cedo.

Lockwood sentou-se desajeitadamente, ajustando as alças da corrente embrulhadas emplástico-bolha. 

— Estamos em boa forma. — disse ele — Perdemos as correntes resistentes e omaterial das mochilas, mas temos nossos floretes, selos de ferro e prata. E agora encontramos o que queríamos. 

Olhei paraa superfície limpa e calma da porta. 

— Por que não veio atrás de nós? Fantasmaspodem atravessar paredes. 

Lockwood encolheu osombros. 

— Em alguns casos, um Visitante está tão completamente ligado à sala onde morreuque já não tem qualquer ideia de que exista qualquer espaço adjacente. Então, quando saímosdo seu território de caça, foi como se deixássemos de existir, como se... 

 Eu olhei para ele. 

— Você realmente não tem a menor ideia, não é? 

— Não.

Lockwood & Co - Livro 1 - A Escadaria GritanteOnde histórias criam vida. Descubra agora