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As dobradiças não rangeram estranhamente nem nada. Para ser honesta, eles não precisaram.

Quando a porta se abriu, houve um suspiro de ar seco e fresco, um cheiro de poeira e ausência. Foi a mesma sensação que você tem em qualquer sala abandonada. Lockwood apontou sua lanterna para a escuridão e seu brilho suave e redondo destacava as tábuas nuas do piso, atravessando a sala. Elas eram cinza, escuras e manchadas. Em alguns lugares eram visíveis tiras esfarrapadas de algum tapete velho, fundidas às tábuas por séculos de sujeira. 

Ele moveu a lanterna para cima até a luminosidade atingir a parede oposta. Um vislumbre de rodapé branco alto, e depois papel de parede verde-escuro, quase preto de sujeira e envelhecimento. Em alguns lugares ele foi arrancado, revelando os tijolos que estavam por baixo. A viga ainda subia: vimos uma faixa de pesada abóbada, depois um teto de gesso ornamentado, coberto de redemoinhos e espirais. A luz alcançava um único lustre pendurado no centro do teto. Teias cinzentas e macias pendiam de seus pergaminhos e correntes, balançando em correntes agitadas pela abertura da porta.

Aranhas. . . Um sinal certo. 

Lockwood baixou a lanterna. Aos nossos pés, o tapete do corredor terminava precisamente na linha da porta. Uma grossa tira de ferro foi incorporado aqui. Mais além havia poeira, tábuas do piso e a total desolação da Sala Vermelha.

— Alguém sentiu alguma coisa? — Lockwood perguntou. Sua voz soava estranha e vazia.

Nenhum de nós sentiu. Lockwood passou por cima da faixa de ferro e George e eu o seguimos, trazendo as mochilas pesadas. O ar frio girava ao nosso redor. Nossas botas batiam suavemente nas tábuas. Eu esperava ser atingido por um fenômeno forte logo no momento em que entramos. Mas tudo estava muito quieto, embora a pressão em meu crânio estivesse pior do que nunca. A névoa fantasma não havia se manifestado na sala e eu não conseguia ouvir a estática ou os sussurros naquele momento. Largamos nossas malas e, com nossas lanternas, examinamos os arredores.

Era um grande espaço retangular, ocupando toda a profundidade da ala. A parede oposta marcava o fim do edifício e correspondia à parede da tapeçaria logo acima da Galeria Longa. Essa parede não tinha portas nem janelas, mas em alguns lugares o papel havia sido arrancado para revelar tijolos ou pedras embaixo. 

A parede da direita não tinha janelas, o da esquerda originalmente tinha três, mas duas foram emparedados. O último tinha uma veneziana dobrada contra os lados da reentrância.

Além do lustre, não havia mobília alguma. 

— Não é muito "vermelho", não é? — disse George. 

Esse também foi o meu pensamento.  

— Comecemos pelo princípio. — disse Lockwood rapidamente — Lucy, me ajude a fazer um círculo. George, garanta nossa saída, por favor. 

Segurando nossas lanternas entre os dentes, Lockwood e eu abrimos as mochilas e tiramos as correntes resistentes de cinco centímetros. Nós as colocamos no chão e começamos a moldá-las no círculo necessário, nossa defesa contra o que quer que estivesse esperando na sala. 

Enquanto isso, George se curvou sobre sua mochila. Ele abriu o zíper de um bolso lateral e apalpou dentro. 

— Tenho um DFD à prova de visitantes em algum lugar aqui. — disse ele — Espere um tique... 

— DFD? — indaguei. 

— Dispositivo de fixação de porta. Apenas um pouco da tecnologia mais recente. Comprei no Satchell's. Caro, sim, mas vale a pena. Ah, aqui vamos nós. Ele produziu um triângulo de madeira toscamente talhado.

Lockwood & Co - Livro 1 - A Escadaria GritanteOnde histórias criam vida. Descubra agora