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— Bem vindo, Senhor Lockwood, bem vindo! — John William Fairfax nos saudou ao cruzarmos o limiar, sacudindo a mão de Lockwood e acenando brevemente para George e para mim. Ele parecia ainda mais alto, mais magro e mais semelhante a uma louva-a-deus do que eu me lembrava, o tecido de seu terno cinza-escuro pendia de seus membros esqueléticos em dobras vazias. — Na hora certa, exatamente como prometido. E vocês verão que mantive minha promessa também. Transferi o dinheiro para a sua conta bancária dez minutos atrás, Sr. Lockwood, então o futuro da sua empresa está garantido. Parabéns! Se me acompanharem agora até meus aposentos na Ala Leste, poderão telefonar para o gerente do seu banco, como discutimos. Sr. Cubbins, Srta. Carlyle,  ali na Galeria Longa encontrarão um lanche disposto perto da lareira. Não, não se preocupem com suas malas! Starkins cuidará delas.

Ele continuou falando alto enquanto se afastava, sua bengala batendo no chão de pedra. Lockwood foi com ele, George hesitou um momento, batendo as botas limpas no tapete da entrada. Eu, por minha vez, hesitei, mas não para limpar minhas botas. Pela primeira vez desde que era criança, e Jacobs me obrigara a entrar em uma fazenda assombrada com um pedaço de pau, desobedeci à primeira e mais crucial regra.

Fiquei para trás na entrada, hesitante e com medo.

O hall do salão era uma grande câmara quadrada com um teto de madeira abobadado e paredes simplesmente caiadas. Os projetos de George nos informaram que era um resquício do antigo priorado e, em sua escala e simplicidade, ainda era muito parecido com uma igreja. No teto, onde antigas vigas se encontravam, pequenas figuras esculpidas olhavam inscrutavelmente para baixo, aladas e vestidas com túnicas, seus rostos desgastados pelo tempo. As paredes estavam adornadas com pinturas a óleo, principalmente retratos de senhores e damas de tempos idos.

De cada lado do hall, arcos embutidos levavam a outras salas. Diretamente em frente a mim, no entanto, um arco muito maior se erguia quase tão alto quanto o teto, e além desse arco...

Além desse arco estava uma escadaria. Os degraus eram largos e feitos de pedra. O tempo e os pés dos séculos os haviam desgastado no centro, tornando-os lisos como mármore. De cada lado, balaustradas de pedra se erguiam em direção a um patamar, sob uma janela circular de vidro. Através dela, os raios finais de sol brilhavam, salpicando os degraus de vermelho.

Olhei para aquela escadaria e não consegui me mexer. Olhei para ela e ouvi.

Ao meu lado, George batia seus grandes pés gordos. O velho Starkins ergueu a primeira mala, ofegando e arfando enquanto a jogava no chão do hall. Criados passavam carregando bandejas com xícaras, bolos e talheres tilintantes. Ouvi a risada de Lockwood enquanto ele passava para outra sala.

Havia bastante barulho ao redor, em outras palavras. Mas quando ouvi, era algo diferente que ouvi. Um silêncio. O silêncio mais profundo da casa. Senti-o ao meu redor, consciente e atento. Esse silêncio se estendia para longe de mim, ao longo dos corredores e níveis, subindo aquela grande escadaria de pedra, passando por portas abertas e sob janelas solitárias, seguindo adiante, para uma distância cada vez mais assustadora. Não havia nenhum fim para ele. A casa era apenas o portão. O silêncio continuava para sempre. E ele estava nos esperando, eu podia sentir isso. Tive a impressão de algo se erguendo sobre mim, maciço e parecido com um penhasco, pronto para desabar sobre a minha cabeça.

George terminou de bater as botas, ele partiu em busca dos criados e seus bolos. Starkins lutou com as bagagens. Os outros já tinham ido embora.

Olhei por cima do ombro para a entrada de cascalho e o parque além. A luz drenava pela paisagem campestre de inverno. Nos campos, sulcos se enchiam de sombras, em breve transbordariam e inundariam a terra com a escuridão que se espalhava, e o silêncio na casa se agitaria...

Lockwood & Co - Livro 1 - A Escadaria GritanteOnde histórias criam vida. Descubra agora