III - O Salão

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É justo dizer que tivemos nossas diferenças, George e eu, durante os meses em que estive na Lockwood & Co. Discutimos sobre as coisas grandes (como quando um de nós tinha o rosto cheio de sal ou quase foi escalpelado pela lâmina descontroladamente balançando do outro), e brigávamos sobre o pequeno (a lavanderia, a limpeza de a cozinha, o hábito de George de deixar o pote-fantasma em lugares inesperados, como atrás da porta do banheiro). Brigávamos por quase tudo. O que quase nunca fizemos foi discutir do mesmo lado.

A hora do almoço, depois que Fairfax saiu, foi uma dessas raras ocasiões.

Assim que o Rolls-Royce ronronou para longe, nós dois censuramos Lockwood por não nos consultar em sua decisão. Eu o lembrei da reputação mortal do Hall. George argumentou que precisaríamos de pelo menos quinze dias, e de preferência um mês, para pesquisar adequadamente sua história. Qualquer coisa menos era provavelmente suicídio.

Lockwood nos ouviu em alegre silêncio.

— Vocês terminaram? — ele indagou — Bom. Três coisas. Primeiro: esta é provavelmente nossa única chance de salvar a empresa antes de irmos à falência. Podemos pagar os Hopes de uma só vez e tirar o DEPRAC de nossas costas. É uma oportunidade extraordinária e simplesmente não podemos recusá-la. Segundo: eu estou no comando aqui, e vale o que eu disser. Em terceiro lugar: este não é o trabalho mais incrível que qualquer um de nós já teve? A Escadaria Gritante? A Sala Vermelha? Vamos! Finalmente temos uma missão digna de nossos talentos! Você quer passar o resto de suas vidas extinguindo sombras monótonas nos subúrbios? Esta é a coisa real, finalmente! Seria um crime recusar.

Seu raciocínio, particularmente o segundo ponto, não nos convenceu completamente. George esfregou os óculos no suéter com ardor.

— Os verdadeiros crimes — disse ele — são as pré-condições ultrajantes de Fairfax. Nada de chamas de magnésio, Lockwood! Isso é completamente louco!

Lockwood se recostou no sofá.

— É certamente um requisito interessante.

Interessante? — Exclamei — É escandaloso!

— O homem é um tolo. — disse George — Se este lugar é tão perigoso quanto ele nos diz, seria uma loucura entrar sem todas as armas disponíveis!

Eu balancei a cabeça.

— Ninguém enfrenta um Tipo Dois sem cartuchos de Fogo Grego!

— Certo! E estamos falando de um aglomerado de Tipo Dois...

— Com uma contagem de mortes comprovada em seu nome...

— Além disso, não estamos tendo tempo suficiente para fazer algumas...

— Pesquisa nos registros históricos. — disse Lockwood — Sim, sim, eu sei, pois vocês dois ficam berrando no meu ouvido a cada trinta segundos. Vocês duas peixeiras podem calar a boca e ouvir? Por mais excêntrico que pareça, Fairfax é nosso cliente e temos que seguir seus desejos. Teremos nossas espadas, não é? E muitas correntes defensivas. Portanto, não vamos exatamente desarmados. — Ele se encolheu — Lucy, você está fazendo aquela coisa de arregalar os olhos de novo.

— Sim, eu estou. Porque acho que você não está levando isso a sério.

— Errado. Estou levando muito a sério mesmo. Vamos para Combe Carey Hall e colocaremos nossas vidas em risco, não se engane sobre isso. — Ele sorriu — Mas não é isso que fazemos?

— Apenas quando estamos devidamente equipados. – George rosnou — E outra coisa. O que Fairfax disse sobre nos escolher não faz sentido. Há quinze agências em Londres maiores e mais bem-sucedidas do que a Lockwood and Co. Ainda assim, você não parece surpreso por ele ter batido à nossa porta.

Lockwood & Co - Livro 1 - A Escadaria GritanteOnde histórias criam vida. Descubra agora