Lockwood & Co - Livro 1 - A Escadaria Gritante

18.

Para chegar dos escritórios de Londres da Lockwood & Co. até a vila de Combe Carey é uma tarefa bastante simples. Tudo o que é preciso é um táxi rápido até a estação de Marylebone, uma espera tranquila na plataforma seis e, finalmente, uma suave viagem de trem de quarenta minutos, passando pelos subúrbios cinza-marrom, depois pelos campos de Berkshire no inverno, antes de chegar abaixo das encostas musgosas da Igreja de St. Wilfred na antiga estação de Combe Carey. Uma jornada de uma hora e meia, no máximo. Fácil, rápido, direto e tão agradável quanto uma viagem pode ser.

Sim, claro. Essa é a teoria. Mas não é tão divertido quando você está ajudando a carregar seis sacos de viagem super pesados cheios de metal, além de uma bolsa com quatro rapieiras antigas dentro como reserva, e você tem uma rapieira novinha em folha na cintura atrapalhando você. Também não ajuda se seu líder e seu vice convenientemente perderem suas carteiras, então é você quem tem que desembolsar o dinheiro para as passagens de trem e pagar taxas adicionais para a bagagem volumosa. Ou que você gaste tanto tempo negociando que acaba perdendo o primeiro trem. Sim, tudo isso realmente melhora o seu humor.

Depois, há o pequeno problema de se dirigir para uma das casas mais assombradas da Inglaterra e esperar não morrer.

Esse último fator não foi melhorado no caminho por George nos dar um briefing completo sobre as coisas que ele descobriu nos dois dias anteriores. Ele tinha uma pasta cheia de notas cuidadosamente escritas e, enquanto o trem passeava alegremente pelas torres e lampiões-fantasmas das aldeias escondidas nos vales arborizados das colinas suaves, ele nos entreteve com detalhes desagradáveis sobre elas.

— Basicamente, parece que o que Fairfax nos disse estava certo. —  ele disse — A Mansão tem uma má reputação há séculos. Você se lembra que começou como um priorado? Eu encontrei um documento medieval sobre isso. Foi construído por uma organização conhecida como os Monges Hereges de São João. Aparentemente, eles "se afastaram da adoração legítima de Deus para a adoração de coisas sombrias", seja lá o que isso signifique. Logo em seguida, um grupo de barões ficou sabendo disso e incendiou o lugar. Eles tomaram posse das terras do priorado e dividiram entre si.

— Talvez uma armação? — Eu disse — Eles incriminaram os monges para ficar com as terras?

George assentiu. 

— Talvez. Desde então, tem sido propriedade de uma sucessão de famílias ricas: os Careys, os Fitz-Percys, os Throckmortons, todos os quais se beneficiaram da riqueza da propriedade. Mas a Mansão em si só traz problemas. Eu não consegui encontrar muitos detalhes, mas um proprietário a abandonou no século XV por causa de uma "presença maligna". Quase pegou fogo duas ou três vezes, e, escute isso, em 1666, um surto de peste matou seus habitantes. Parece que um convidado apareceu à porta e encontrou todos dentro deitados mortos, exceto um bebê chorando em um berço no quarto.

Lockwood assobiou. 

— Macabro. Isso poderia ser seu grupo de Visitantes, bem ali.

— Eles salvaram o bebê? — Eu perguntei.

George consultou suas anotações. 

— Sim. Ele foi adotado por um primo e se tornou professor. O que é um golpe duro, mas ele teve sorte de sair. De qualquer forma, as más vibrações nessa casa continuam até este século. Houve uma sucessão de acidentes, e o último proprietário antes de Fairfax, um parente distante, se matou.

— Não há falta de Visitantes em potencial para nós, então. —  Lockwood refletiu — Alguma menção a essa Escada Gritante, ou ao temido Quarto Vermelho?