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O final da manhã era a hora favorita de Lockwood para conhecer novos clientes. Isso lhe dava a chance de se recuperar de qualquer expedição da noite anterior. Ele sempre recebia seus convidados na mesma sala onde eu havia feito minha entrevista, provavelmente porque seus sofás amigáveis e exibições de caça fantasmas orientais forneciam uma atmosfera apropriada para discussões que uniam o banal ao estranho.

No meu primeiro dia em Portland Row, um único cliente novo chegou às onze horas: um senhor de sessenta e poucos anos, rosto inchado e melancólico, algumas mechas finas de cabelo penteadas demasiadamente sobre o crânio. Lockwood sentou-se com ele à mesa de centro. George estava posicionado a alguma distância em uma escrivaninha inclinada, fazendo anotações da reunião no grande livro de registros preto. Eu não participei da conversa. Sentei-me em uma cadeira no fundo da sala, ouvindo o que acontecia.

O senhor teve um problema com sua garagem. Sua neta recusou-se a entrar, disse ele. Ela alegou que tinha visto coisas, mas era uma garota histérica e ele mal sabia se deveria acreditar nela. Ainda assim, contra seu melhor julgamento (aqui ele soprou as bochechas para enfatizar sua extrema relutância), ele nos procurou para uma consulta. Lockwood era a própria polidez.

— Quantos anos tem sua neta, Sr. Potter?

— Seis. Ela é uma atrevidazinha boba na melhor das hipóteses.

— E o que ela diz que viu?

— Não consegui tirar dela nada que fizesse sentido. Um jovem, parado no fundo da garagem, ao lado das caixas de chá. Disse que é muito magro.

— Entendo. E ele está sempre no mesmo lugar ou se move?

— Apenas fica parado ali, foi o que ela disse. Na primeira vez, ela supõe que falou com ele, mas ele não respondeu, apenas olhou. Não sei se ela está inventando. Ela já ouviu falar bastante de Visitantes no parquinho.

— Possivelmente, Sr. Potter, possivelmente. E você nunca notou nada estranho na garagem você mesmo? Não é excessivamente frio, por exemplo?

Um aceno de cabeça.

— Está frio. . . mas é uma garagem, o que você esperava? E antes que você me pergunte: não aconteceu nada lá. Ninguém, você sabe, morreu ou algo assim. É uma construção nova, com apenas cinco anos, e sempre a mantenho bem trancada. — Eu entendo. . . — Lockwood juntou as mãos — Você mantém animais de estimação, Sr. Potter?'

O homem piscou, com um dedo atarracado, apoiou uma longa mecha de cabelo para trás em sua testa.

— Não vejo o que isso tem a ver com nada.

— Só queria saber se você tinha um cachorro, talvez, ou gato.

— A esposa tem dois gatos. Siamês branco leite. Coisinhas ossudas e orgulhosas.

— E eles costumam ir para a garagem?

O homem considerou.

— Não. Eles não gostam de lá. Lhes dei um amplo espaço. Sempre achei que é porque eles não gostam de sujar seus preciosos casaquinhos, com toda a poeira e teias de aranha por toda parte.

Lockwood olhou para cima.

— Ah, você tem um problema com aranhas na garagem, Sr. Potter?

— Bem, há uma colônia lá, ou algo assim. Eles parecem tecer novas teias mais rápido do que eu posso afastá-los. Mas é essa época do ano, não é?

— Eu não poderia dizer. Bem, fico feliz em investigar isso. Se for conveniente, estaremos juntos esta noite, logo após o toque de recolher. Enquanto isso, eu manteria sua neta fora daquela garagem, se eu fosse você.

Lockwood & Co - Livro 1 - A Escadaria GritanteOnde histórias criam vida. Descubra agora