Quer tenha sido o frio do toque fantasma ainda correndo em suas veias, ou quer seus outros ferimentos, junto com seu longo interrogatório na Scotland Yard, mas algo simplesmente o havia esgotado. Lockwood estava em um estado tenso o dia todo. Ele dormiu (como eu) a maior parte da manhã e no almoço ele comeu pouco, mal beliscando a torta caseira com ervilhas frescas de George. Ele se movia lentamente e quase não falava, o que para Lockwood era incomum. Depois do almoço, ele foi para a sala e sentou-se com o braço ferido envolto em bolsas de água quente, olhando estupidamente pela janela.
George e eu ficamos perto dele em um silêncio amigável durante toda a tarde. Eu li um romance policial barato. George conduziu experimentos com o fantasma preso na jarra, usando um pequeno circuito elétrico para aplicar choques no vidro. Seja por protesto ou por algum outro motivo, o fantasma não respondeu.
Por volta das quatro horas, quando a luz já estava diminuindo, Lockwood nos surpreendeu ao pedir repentinamente nosso livro de registros. Era a primeira vez que ele dizia alguma coisa em horas.
— O que temos para fazer, George? — perguntou ele, quando o livro preto foi trazido. — Que casos temos pendentes?
George virou as páginas para as últimas entradas.
— Não é grande coisa. — disse ele — Recebi um relatório, no começo da noite, de uma "forma negra aterrorizante" vista em um estacionamento sem licença. Pode ser qualquer coisa, desde um Espectro Negro até uma Névoa Cinzenta. Íamos visitá-lo hoje à noite, mas liguei para eles para adiar. . . Também ouvimos um "som sinistro de batida" em uma casa em Neasden. . . Possivelmente Stone Knocker ou até mesmo um Poltergeist fraco, mas novamente não há informações suficientes para ter certeza. Depois, há uma "sombra escura e imóvel" vista no fundo de um jardim Finchley, provavelmente um Lurker ou um Shade. Ah, e um pedido urgente da senhora Eileen Smithers de Chorley. Todas as noites, quando está sozinha de madrugada, ela ouve...
— Espere aí. — disse Lockwood. — Eileen Smithers? Não trabalhamos para ela antes?
— Nós fizemos. Daquela vez, foi um "uivo horrivelmente desencarnado" ressoando em sua sala e cozinha. Achamos que poderia ser um espírito gritando. Na verdade, era o gato do vizinho, Bumbles, preso dentro da parede da cavidade. Lockwood fez uma careta.
— Oh, Senhor, eu me lembro. E desta vez?
— Um 'lamento estranho, infantil' ouvido em seu sótão. Começa por volta da meia-noite, quando...
— Vai ser o maldito gato de novo. — Lockwood tirou a mão esquerda de debaixo das garrafas de água e flexionou os dedos com cuidado. A pele estava ligeiramente azul. — Em suma, não é o programa mais emocionante da história da detecção psíquica, é? Lurkers, Shades e Bumbles, o tom ruivo. O que aconteceu com os bons casos, como o Horror de Mortlake e o Espectro de Dulwich?
— Se por 'bom' você quer dizer um fantasma poderoso e desafiador. — eu disse — O último ontem a noite foi muito bom. O problema era... não esperávamos isso.
— Como a polícia da Scotland Yard repetidamente me disse. — resmungou Lockwood — Não, por 'bom', quero dizer casos que podem nos render algum dinheiro. Nenhuma dessas coisas é exatamente importante.
Ele afundou de volta em sua cadeira. Era raro Lockwood mencionar dinheiro, não era bem a sua motivação habitual. Houve um silêncio incômodo.
— Curiosamente, George descobriu um pouco sobre a nossa garota fantasma. — eu disse alegremente — Conte a ele sobre isso, George.
George estava morrendo de vontade de desabafar o dia todo. Ele tirou o artigo do bolso e o leu. Lockwood, que raramente tinha muito interesse na identidade dos Visitantes, mesmo quando eles não o feriram, ouvia com indiferença.
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Lockwood & Co - Livro 1 - A Escadaria Gritante
Teen FictionEssa é uma tradução em Português do Brasil do primeiro livro de Lockwood & Co de Jonathan Stroud. Um problema sinistro ocorreu em Londres: todos os tipos de fantasmas, assombrações, espíritos e espectros estão aparecendo por toda a cidade e não são...