Lockwood & Co - Livro 1 - A Escadaria Gritante

II - Antes

Algumas pessoas afirmam que o problema sempre esteve conosco. Os fantasmas não são novidade, dizem eles, e sempre se comportaram da mesma forma. Há uma história que o escritor romano Plínio contou, por exemplo, há quase dois mil anos.

É sobre um estudioso que comprou uma casa em Atenas. A casa era supostamente barata e ele logo descobriu que era mal-assombrada. Logo na primeira noite ele foi visitado pelo Espectro de um velho magro e acorrentado. O Visitante acenou para ele e em vez de fugir, ele seguiu o fantasma até o quintal, onde o viu desaparecer na terra. No dia seguinte, o estudioso mandou seus servos cavarem naquele local. Com certeza, eles logo descobriram um esqueleto algemado. Os ossos foram devidamente enterrados e a assombração cessou. Fim da história. Um fantasma clássico do Tipo Dois, dizem os especialistas, com um propósito simples e clássico, o desejo de corrigir um erro oculto. Exatamente o mesmo que você tem hoje.

Então nada realmente mudou.

Desculpe, mas eu não compro. OK, é um exemplo decente de uma Fonte oculta em que todos conhecemos muitos exemplos semelhantes. Mas observe duas coisas. Primeiro: o estudioso da história não parece nem um pouco preocupado com a possibilidade de ser tocado por um fantasma e, assim, inchar, ficar azul e ter uma morte dolorosa. Talvez ele fosse apenas estúpido (para não mencionar sortudo). Ou talvez os visitantes nos tempos antigos não fossem tão perigosos quanto são agora.

E eles certamente não eram tão comuns também. Essa é a segunda coisa. A casa assombrada na história de Plínio? Provavelmente era a única em Atenas, por isso era tão barata. Aqui na Londres moderna existem dezenas delas, com mais surgindo o tempo todo, não importa o que as agências façam. Naquela época, os fantasmas eram bastante raros. Agora temos uma epidemia. Portanto, parece bastante óbvio para mim que o problema é diferente do que aconteceu antes. Algo estranho e novo começou a acontecer há cerca de cinquenta ou sessenta anos, e ninguém tem a menor ideia do porquê.

Se você procurar em jornais antigos, como George faz o tempo todo, poderá encontrar menções a aparições fantasmagóricas espalhadas surgindo em Kent e Sussex em meados do século passado. Mas foi mais ou menos uma década depois que uma série sangrenta de casos, como o Terror de Highgate e o Fantasma de Mud Lane, atraiu muita atenção. Em cada caso, um súbito surto de fenômenos sobrenaturais foi seguido por uma série de mortes horríveis.

As investigações convencionais não deram em nada e um ou dois policiais também morreram. Por fim, dois jovens pesquisadores, Tom Rotwell e Marissa Fittes, conseguiram traçar cada assombração até sua respectiva Fonte (no caso do Terror, um crânio emparedado e no do Fantasma, o corpo de um salteador em uma encruzilhada). Seu sucesso atraiu grande aclamação e, pela primeira vez, a existência dos Visitors ficou firmemente impressa na mente do público.

Nos anos que se seguiram, muitas outras assombrações começaram a surgir, primeiro em Londres e no sul, depois se espalhando lentamente pelo país. Desenvolveu-se uma atmosfera de pânico generalizado. Houve tumultos e manifestações; igrejas e mesquitas fizeram excelentes negócios enquanto as pessoas buscavam salvar suas almas. Logo Fittes e Rotwell lançaram agências psíquicas para lidar com a demanda, abrindo caminho para uma série de rivais menores. Finalmente, o próprio governo entrou em ação, decretando toque de recolher ao anoitecer e lançando a produção de lâmpadas fantasmas nas principais cidades.

Nada disso realmente resolveu o problema, é claro. O melhor que se pode dizer é que, com o passar do tempo, o país se acostumou a conviver com a nova realidade. Cidadãos adultos mantinham a cabeça baixa, certificavam-se de que suas casas estavam bem abastecidas com ferro e deixavam para as agências conter a ameaça sobrenatural. As agências, por sua vez, buscavam os melhores agentes. E como a sensibilidade psíquica extrema é encontrada quase exclusivamente nos muito jovens, isso significa que gerações inteiras de crianças como eu se tornaram parte da linha de frente.