Não posso!

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Eu cheguei em casa com a sensação de que o destino estava sendo bom comigo e eu deveria aproveitar.
Sim, eu sempre soube do que eu gostava, isso não era algo que me deixou confuso. E, não, ninguém sabe sobre mim. E um detalhe: eu nunca beijei um cara. Pois é sou 100% virgem.

Talvez, por nunca ter tido uma experiência ache isso tudo tão assustador.

Minha mãe não estava em casa, meu pai, como sempre, também não. Era engraçado, seu Joaquim, meu pai, ficava quatro vezes por semana na nossa cidade e eu só o via peka manhã quando ele me levava para escola ou pelos corredores da casa quando acordo de madrugada e dou a sorte de encontrá-lo. Minha mãe trabalha, mas chega cedo. Ela é minha referência de família.

A tarde se passou e Derek não saiu da minha cabeça, nem por um instante. Quando chegou à noite, Vera, minha mãe, me chamou para jantar e o papai já havia chegado. O prato de hoje, como toda segunda-feira, era bolo de carne, que eu adoro.

Sentamos a mesa e sabe aquelas perguntas chatas que algumas famílias fazem na hora do jantar? Pois então, minha família é dessas!

- E como foi seu dia filho?

- Não foi nada demais, mãe. Não usei nenhuma droga, não roubei nenhum carro, não matei aula e não engravidei ninguém. Então, foi um dia normal, para uma vida sem graça.

- Respeita a sua Mãe, Stiles, e respeite a mesa onde esta sentado.

- Calma querido, já me acostumei com o humor diferente do nosso filho.

- Obrigado Mãe! - É... ela me entendia como ninguém, pra falar a verdade, sou bastante feliz de ser o filho dela!

- E o senhor, pai, como foi seu dia?

- Bem, foi cansativo. Tive que mandar um caso para um outro advogado. Muita burocracia burocracia.

- E por que você não pegou o caso, querido?

- Não era nada importante!

- Pai, o senhor vive falando que tudo é importante, então deveria ser algo importante sim! - Eu gosto de irritar meu pai, essa é minha brincadeira preferida!

- Veja bem, Stiles, devemos dar importância a casos de real importância! Não a um simples processo de adoção de uma criança!

- Eu achei que você era a favor da ideia de adoção, Joaquim? - Mamãe se pronunciou.

- E sou, quando é uma família normal.

- Vai me dizer que o casal tinha piercing, tatuagens e cabelos vermelhos? - Meu pai detesta as pessoas que expressam sua personalidade.

- Não, eram simplesmente duas mulheres. Onde já se viu isso? duas mulheres querendo adotar um garoto de 4 anos! Imagine a cabeça dessa criança, Vera? Imagina se for adotada por essas mulheres... Vai acabar virando maricas. Que absurdo

- Pai, como o senhor tem coragem de dizer isso, de recusar um caso por que são pessoas homossexuais? - Me intrometi. - Entenda, elas são pessoas! Como qualquer um de nós! - Com isso ele se levantou da mesa.

- Não, elas não são normais, elas nunca serão iguais a mim ou construirão uma família como a nossa.

Me levantei também, assim como a minha mãe que se colocou do lado do meu pai e que não estava nada calma nesse momento!

- É! - Afirmei - Eu realmente espero que elas não sejam iguais ao senhor. Com essa ideia mesquinha de o que é certo pra você é certo para o resto do mundo.

- Cale a boca Stiles, você não faz ideia do que está falando, seu moleque! Eu sou um advogado de respeito, meu escritório não pode manchar a reputação!

- Por favor, querido, se acalma, o nosso filho não disse por mau, né Stiles?

Os olhos aflitos, da minha mãe eram o grande contraste daquela sala de jantar.

- Desculpa, senhor meu pai, o senhor está certo, sempre certo aliás.

Sai da mesa e estava indo em direção as escadas que davam para o meu quarto.

- Aonde você vai, filho? Ainda não terminou seu jantar!

- Desculpe mãe, seu bolo de carne está delicioso, mas eu perdi a fome - Com isso, subi as escadas e a cada degrau imaginava um detalhe que tinha visto em Derek, nessa manhã: o cabelo meio bagunçado, o casaco preto, um sorriso no canto da boca...

Me tranquei no quarto e a noite custou a passar, meus pensamentos, não faziam nenhum sentido até que acabei adormecendo e tendo um sonho, na verdade, um pesadelo.

Eu estava entre minha mãe e meu pai, ela estava no sentada chão da sala de casa e meu pai terminando de colocar suas coisas em uma bolsa. Tudo estava muito confuso, o clima não me parecia agradável .

Minha mãe pedia para ele voltar, suas lágrimas escorriam pelo rosto, mas ele nada respondia, nem se abalava com a tristeza dela. Eu não estava entendendo nada, porém, compreendi quando ele parou na porta e falou com os olhos cheios de ódio.

- E quando esse ai chegar com um homem dizendo que está levando-o lá para cima, você não me venha reclamar dos altos gemidos deles, nem poderá chorar no meu colo dizendo que não terá netos. Não quero ter que dizer que te avisei, nem muito menos quero ver o homem que colocamos no mundo se entregar como uma mulherzinha para qualquer indivíduo que passar pela rua e oferecer uma foda.

- Por favor, não fale assim com ele. É o nosso filho, Joaquim!

-Não, ele é seu filho! Não tenho filho gay! - Minha mãe correu atrás dele dando de cara com a porta que ele bateu com toda a força, fazendo um grande barulho.
Se escorando pela madeira ela sentou no chão ainda escorada na porta, suas lágrimas não paravam de escorrer e eu não consegui ficar ali parado.

O casamento da minha mãe tinha acabado e com isso minha família também, tudo por minha culpa. Eu não podia ficar ali apenas a observando, corri para abraça-lá.

Acordei.

Não consegui ignorar aquele sonho, não consegui pensar em mais nada, apenas no que sentia pelo Derek. Isso era errado, o que eu estava sentindo era tudo fora do comum e isso iria prejudicar a todos.

Mas eu não estou fazendo nada de errado, estou amando. Sozinho, mas amando, e não vejo nenhum mal a isso.


Aquele Garoto (REVISÃO 08/17)Onde histórias criam vida. Descubra agora