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Sete meses depois

Quando desci do Uber, eu me sentia exausta e desejava apenas um banho e a cama. Esses últimos meses têm sido uma loucura, o trabalho aumentou bastante no escritório, fiquei feliz com a boa aceitação de todos quando fiquei no comando, estou conquistando o respeito tanto dos clientes como de toda a equipe graças ao meu esforço e dedicação, tenho tentado dar meu melhor todos os dias, não quero ser vista apenas como favorita da família Russel e que por causa deles ganhei esse cargo, estou fazendo por merecer. Caleb também têm estado bastante ocupado com a construtora, Stanley vem deixando claro sua intenção de se aposentar no próximo ano e com isso, está colocando tudo nas mãos de Caleb e um engenheiro amigo deles.

Apesar de toda essa alegria e satisfação com o trabalho, minha vida pessoal não anda muito boa, mal tenho tempo para encontrar a Britt e Angel, as duas únicas amigas que consegui fazer em Charleston desde a minha volta, consegui sair algumas vezes com todo o pessoal amigo da Britt, mas não consigo sempre, quando a noite chega só quero curtir um pouco com Caleb, quando ele consegue um tempo livre. Ficar com Caleb nesses meses têm sido uma montanha russa de emoções, a nossa felicidade sempre tem a sombra da Melanie.

São poucas as noites que conseguimos ficar juntos sem todo o drama da gravidez. Melanie vai ter um menino, na semana passada ela fez o chá de bebê e sequer teve a consideração de me convidar, não que eu fizesse questão de ir mas afinal, eu faço parte da família Russel, ou pelo menos é assim que me sinto. Quase todo dia acontece algo e ela precisa que Caleb vá encontrá-la, sempre com os motivos mais aleatórios, o bebê chutou, ela está com desejos, o quarto do bebê que precisou ser decorado, ela está enjoada, ela está indo ao médico... Enfim, Melanie sempre consegue ter a atenção de Caleb só para ela.

Nesses sete meses, a carga emocional está tão pesada que sinto que nossa relação está por um fio. Caleb diz sempre que vai dar um jeito mas não está conseguindo fazer isso, sinto como se eu tivesse virado algo secundário em sua vida. Mal saímos pra jantar juntos, Caleb está sempre atrasado, ou sempre me deixa no meio de um programa para ir salvar a Melanie. Estamos vivendo em um ciclo cansativo: Marcamos algo para nós dois, acontece alguma coisa com a Melanie, Caleb me deixa para ir socorrê-la, quando volta nós discutimos, Caleb me pede desculpas, eu perdoo, ficamos bem e então o ciclo recomeça.

Uma de nossas maiores brigas aconteceu em seu aniversário, pouco mais de um mês atrás. Eu preparei, uma festinha em casa, estava tudo pronto, seus amigos animados, sua família e eu o esperamos mas Caleb só chegou quase uma da manhã porque estava no hospital com Melanie que teve falsas contrações. Foi horrível ter que tentar explicar aos convidados a demora do meu namorado chegar em casa no dia do próprio aniversário, ainda lembro do olhar de pena que seu amigo me deu quando eu percebi que Caleb não iria aparecer.

Brigamos feio naquela madrugada, dormi no quarto de hóspedes, chorei por me submeter a tudo isso, só porque eu o amo demais. Na manhã seguinte, ele tinha preparado um café da manhã para se desculpar por tudo, foi lindo e romântico, fizemos amor como dois apaixonados, não resisto aos seus olhos lindos principalmente quando diz que me ama, porque sei que apesar de tudo isso, Caleb é sincero.

Ao me afastar do carro do Uber, estranhei ao ver o carro de Caleb parado no meio fio e não estacionado na garagem como de costume, andei pelo jardim, até entrar em casa. Ouvi Rufus latir agoniado e andei até a porta de vidro da cozinha que estava fechada, ele chorava para entrar.

- Oi amigão! Quem te deixou aqui fora? Papai não faria isso com você.

Rufus começou a me lamber e balançar o rabo frenético, comecei a alisar seu corpo peludo mas paralisei quando ouvi vozes, depois percebi que era a voz de Melanie. Fiquei ereta e saí da cozinha, meu coração batia rápido, quase saindo pela boca, andei pelo corredor, as vozes vinham do quarto que vai ser do bebê, Caleb têm se dedicado a isso também, a decorar o quarto do filho. Parei na soleira da porta e foi como levar um soco no estômago. Os dois estavam no meio do quarto conversando, Caleb estava com as duas mãos na enorme barriga de Melanie, parecia uma cena de filme e eu estava sobrando ali. Caleb me olhou e rapidamente se afastou de Melanie surpreso pela minha presença.

- Espero não estar atrapalhando... - falei e cruzei os braços.

- Oi, amor... - Caleb falou e se aproximou de mim aos poucos.

- Você prendeu o Rufus do lado de fora? - perguntei e ele me encarou.

- Sim... É, ele estava latindo pra Melanie e ela também é alérgica.

- Ele estava chorando e estressado lá fora... Você nunca fez isso com ele Caleb.

- Como Caleb disse, eu sou alérgica e foi só um tempinho. - Melanie falou com uma voz irritante.

Ela tinha um sorriso cínico na cara, eu estava perplexa e completamente arrasada. Me afastei e andei em direção ao quarto, comecei a me despir, peguei uma legging preta e uma camiseta, estava calçando o tênis quando Caleb entrou.

- Emilly... Eu... Não é nada do que você está pensando. - ele começou e eu fiquei de pé.

- Não estou pensando nada, só consigo sentir...

- Fala comigo... - ele pegou agoniado.

- Eu acabei de encontrar você, no quarto do bebê com Melanie lá, vocês pareciam uma família feliz... Eu sinceramente não tenho nada de bom pra dizer agora.

- Me desculpa...

- Estou extremamente cansada de ouvir essa palavra... Ela não tira a mágoa que eu sinto toda vez que você a usa, ela não apaga da minha memória a cena que acabei de ver... Suas desculpas não me servem para nada agora.

Caleb dá um passo para trás sentindo o golpe das minhas palavras duras, andei para fora do quarto, senti que ele me seguia, peguei a coleira de Rufus e coloquei nele, puxei o cachorro para fora e antes de fechar a porta, o encarei.

- Vou levar Rufus para passear, ele está estressado por ter ficado abandonado lá fora, na volta a gente conversa, ele não é o único precisando esfriar a cabeça.

Corri com Rufus até chegarmos na praia, o sol estava quase totalmente escondido no horizonte, diminui o passo até parar de andar e então me sentei na areia, fiquei olhando um tempo as ondas do mar, Rufus parecia sentir que eu estava prestes a desmoronar pois se sentou quase no meu colo e eu sem aguentar mais comecei a chorar.

Chorei até sentir minha cabeça latejar, eu estava destruída, comecei a repassar os dias que vivi com Caleb, é inegável o quanto nos amamos, nosso banhos juntos, nossas conversas bobas antes de dormir, planos e sonhos, cada sorriso, cada declaração, tudo era sincero, parecíamos feitos um para o outro, mas foi sempre uma alegria pela metade, porque ele vai ser pai, porque Melanie sempre esteve conosco e porque Caleb por melhor que seja, não conseguiu conciliar essas duas partes de sua vida e conseguiu me magoar mais do que qualquer outra pessoa.

Sempre soube que ao aceitá-lo desse jeito, seria difícil mas não imaginei o quanto seria desgastante e o quanto exigiria do meu emocional. Sequei as lágrimas e respirei fundo, Rufus choramingou perto de mim e também parecia triste. De repente, me senti vazia, só queria deitar e acordar longe desse pesadelo, passei mais um tempo contemplando o mar e pensando na minha vida, na decisão que tenho que tomar. Quando a noite chegou, levantei da areia e tomei o caminho de volta pra casa, ao abrir a porta Caleb surgiu na sala e parecia com medo do que viria a seguir, quando nos olhamos nos olhos, nós dois sabíamos o que iria acontecer.


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