Entro no escritório e fico surpresa ao ver Caleb em sua mesa, não o vejo há dois dias mas parece que faz um mês, ele estava desenhando um esboço, havia papéis e plantas por toda a mesa, Caleb quando está tendo ideias para seus projetos sempre desenha a mão, e ele assim todo concentrado me deixa encantada.
Foram dois dias exaustivos, eu estou triste, choro antes de dormir e não consegui descansar e nem deixar de me sentir culpada pelo término mesmo sabendo que foi melhor assim. Fiquei o observando mais um pouco, sua barba, seu rosto lindo, as mangas de sua camisa dobradas até os cotovelos e sua testa franzindo quando fica concentrado assim, ele é lindo e eu o amo demais.
- Se continuar me encarando eu vou até aí beijar você. - ele falou com os dentes trincados e ainda sem me olhar.
- Desculpa... Fiquei surpresa de te ver aqui hoje, achei que fosse ficar com o Stanley.
- Meu pai me expulsou da construtora hoje porque eu estou insuportável.
- Você parece mesmo irritado... - falei e ele me olhou feio - Desculpa.
Me aproximei da sua mesa e sentei em uma cadeira a sua frente. Ele me encarou e depois respirou fundo, ficamos nos olhando por alguns instantes até que eu desviei o olhar.
- Consegui fechar a venda da casa... Vou encontrar os novos donos hoje pra entregar as chaves.
- Que bom. - Caleb esfregou o rosto e voltou a me olhar - Você não vai fingir que nada aconteceu, não é?
- É claro que não... Eu estou sofrendo, sinto sua falta mas você é meu amigo também, é pra quem eu quero contar tudo primeiro.
- Emilly... - ele falou meu nome como uma súplica e meu coração se apertou.
- Tem outra coisa que eu queria contar.
- O quê?
- Vou pra Nova Jersey, nesse fim de semana.
- Por quê?
- Preciso me afastar um pouco, esfriar a cabeça, colocar tudo em ordem e além disso é aniversário da mamãe semana que vem.
- Isso quer dizer que você está me deixando de vez? - ele falou com os dentes cerrados de novo.
- Não... Eu não vou embora de vez, você me deu uma ótima oportunidade aqui, apesar que eu sinto que vivo a sua sombra.
- Eu não entendi...
- Eu só vou passar umas três semanas e volto.
Caleb ficou de pé de forma brusca, começou a andar de um lado para o outro, nunca o vi tão irritado e desnorteado assim, o sentimento de culpa voltou com força me deixando nervosa.
- Você veio pra cá de forma temporária e resolveu ficar, porque lá em Nova Jersey não pode acontecer o mesmo? - ele perguntou me encarando.
- Porque não quero mais morar lá, não sinto como se fosse meu lar... Fiz amigos aqui, amo sua família e o meu trabalho.
- Como vai ficar tudo?
- Estou adiantando o que posso e o restante estou delegando para o seu pessoal, você tem excelentes profissionais aqui.
- E quanto a mim? Quanto a nós?
- Caleb... Eu não sei te responder isso, só o tempo vai dizer, sua situação com a Melanie não vai mudar e estou muito magoada agora... Quero mais de você e do nosso relacionamento do que eu tive até agora.
Um silêncio pesado se formou entre nós e ele ficou de costas para mim, uma vontade de abraçá-lo me tomou mas eu me segurei, é uma situação complicada e difícil para nós dois, mas sei que foi necessário. Quando se virou para mim, Caleb tinha os olhos marejados e meu coração afundou dentro do peito.
- Sinto dor física Emilly, só me senti assim com você, quando se mudou anos atrás, fiquei dias doente porque sabia que tínhamos nos separado e agora sinto isso de novo e é até pior porque agora eu sei como é minha vida com você e me imaginar nunca mais tendo isso de novo me deixa louco.
- Eu sinto muito... - sussurrei sem saber o que dizer.
- Eu te amo mais do que tudo... - ele disse e eu fiquei de pé e me aproximei dele.
- Você vai ser pai, vai experimentar algo novo, vai viver uma experiência impactante e vai iniciar uma etapa que vai durar a sua vida inteira... Vai amar esse bebê demais e vai ser um ótimo pai. Aproveite cada segundo.
- Mas não é do bebê que estou falando... É de você, de nós dois... Estou dizendo que te amo.
- Eu também te amo, Caleb...
- Você vai voltar, não vai?
- Vou sim, são só alguns dias... Quero visitar o túmulo do meu pai também e preciso descansar.
- Ter um pouquinho de você e saber que você ainda trabalha comigo é melhor do que não ter nada.
Caleb se virou me dando as costas, saí de sua sala e andei até a minha. Tentei me concentrar no trabalho mas foi um pouco difícil com Caleb do outro lado do vidro, no horário de almoço entreguei as chaves de seu carro e saí do escritório.
Fui até a minha casa, andei cômodo por cômodo, tudo ficou lindo e comecei a lembrar um pouco da minha infância, de como eu gostava de brincar no jardim e de fugir para a casa dos Russel. Lembrei dos meus aniversários, das histórias que meu pai me contava antes de me colocar na cama, eu tive uma infância maravilhosa mas que acabou quando eu me mudei, por isso não tenho apego a essa casa, há muito tempo ela deixou de ser meu lar. O casal que comprou, casaram há pouco mais de um ano, são jovens e estão felizes, fiquei contente por serem eles a morarem na casa, entreguei as chaves e os desejei muitas felicidades.
Decidi dar uma passada na casa dos Russel, Morgan me deu um abraço apertado e depois me olhou carinhosa.
- Sinto muito querida, eu torcia muito por vocês dois.
- Eu sei... Obrigada.
- Nunca tinha visto Caleb tão feliz. - ela comentou de forma melancólica.
- Mas ele vai ficar bem, tem um bebê a caminho.
- Eu também fico preocupada com você, nós te amamos, Stanley também não ficou nada contente com o término.
- Eu sinto muito por isso, não queria deixar ninguém chateado, eu juro que tentei, amo o Caleb mas cheguei no meu limite.
- Você tentou por tempo demais Emilly, eu como mulher, no seu lugar, teria deixado essa situação muito antes, mas eu entendo que você ame meu filho e que tenha suportado essa carga.
- Obrigada, Morgan.
Ficamos conversando mais um pouco, até perto do anoitecer, depois Britt chegou e nós duas também conversamos. No final da tarde, fui para o café, Angel estava me esperando e enquanto ela me ouvia falar sobre a conversa com Caleb, comi um delicioso croassaint. Ela me convidou para ficar em seu apartamento mas não quis incomodar e fiquei no hotel mesmo, quando voltar de Nova Jersey, decido o que fazer. Preciso desse momento sozinha, estou muito esgotada e triste, passar uns dias afastada vai ser bom pra mim e tenho certeza de quando essa poeira baixar, tudo vai voltar ao seu lugar.
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Construindo o Amor
ChickLitEmily King e Caleb Russel foram vizinhos durante a infância mas o destino os separou quando Emily tinha doze anos e Caleb dezesseis. Ambos cresceram, Emily agora recém formada em arquitetura tenta arrumar um emprego, enquanto Caleb também arquiteto...