Sukuna
_ Éum garoto - disse Major ao abrir minha geladeira e pegar uma cerveja. - Conheço os sinais. Você pode tentar me enganar com uma desculpa esfarrapada qualquer, mas eu já passei por isso, meu velho.
Major estava se tornando um pé no saco. Ele era sobrinho do meu padrasto e tínhamos crescido juntos como se fôssemos primos. Apesar de não sermos parentes de sangue, isso não fazia diferença. Eu havia precisado da ajuda dele com os cavalos, mas agora ele já podia ir embora. Yuji ia me ligar dali a pouco. E Major era a última pessoa que eu queria ter perto quando ele ligasse.
- Acabamos por hoje. Pegue a cerveja e vá para casa. Vou tomar uma ducha e me deitar. Estou exausto.
Passei pela cozinha e segui em direção ao meu quarto.
- Olhe aí. Estou dizendo. Aí tem coisa - alfinetou ele. - Coisa de Garoto. Já vi. Conheço bem.
Detestava que ele estivesse tão perto da verdade. Yuji estava nos meus pensamentos a maior parte do dia, todos os dias. Eu aguardava a ligação dele com muito mais ansiedade do que deveria. Mas, caramba, a voz dele me fazia sorrir. Ouvi-lo tão entusiasmado com seus progressos também me contagiava.
- Vá embora - respondi, batendo a porta do quarto atrás de mim.
Eu já estava tirando as botas quando meu primo decidiu bater na porta.
- Quem é? Não pode ser Uraume. Há anos você teria feito mais que transar com ela se estivesse mesmo a fim. Ela está mais do que disponível. Ei, espere... Japão. Você conheceu alguém por lá, não foi? Moço rico? Tem dinheiro? Tem irmã ou irmão? Não, pensando bem, não quero essa irmã ou irmão. Ainda quero uma chance com a sua irmã solteira e gostosa.
Por Deus, será que ele conseguiria ser mais chato?
- Vá embora, Major. Não vou cair nessa. Não tem garoto nenhum. Me deixe tomar banho em paz. Peste dos infernos.
A risada dele atravessou a porta.
- Quem não deve não tem. - Ele bateu na porta mais uma vez. - Tudo bem. Pode fingir então que não. Mas logo você vai admitir. Ou eu vou descobrir.
Não respondi. Esperei até que os passos dele se aproximassem da porta da frente. Quando a porta se abriu e fechou, soltei um suspiro de alívio. Olhando o relógio vi que teria 45 minutos antes de Yuji ligar. Podia tomar banho e comer alguma coisa.
Se Major soubesse de Yuji, comentaria com minha mãe. E então ela não me deixaria em paz. Eu amava minha mãe, mas ela faria perguntas. E eu ainda não estava pronto para responder a elas. Nem sabia ainda onde esse negócio com Yuji ia dar. Negar que eu estava atraído por ele não tinha sentido. Já que havia admitido isso para mim mesmo.
Cacete, eu não tirava aquela pinta que Yuji tinha embaixo da bunda desde a primeira vez que a vi. Mas agora era mais que só tesão. Eu gostava de Yuji. Gostava do garoto que ele era. De início, tive receio de que fosse pena e que meus sentimentos estivessem misturados com compaixão e vontade de ajudá-lo.
Agora eu não pensava mais assim. Yuji não queria pena. Não precisava disso. Ele era forte. Muito mais do que eu achava a princípio. Eu admirava sua capacidade de se defender dos golpes da vida e continuar lutando. Com um corpo daqueles, podia ter usado seus atributos para seguir outro caminho. Um em que sua aparência pagasse as contas. Mas não fez isso. Ao contrário, trabalhava duro fazendo faxina e tinha orgulho do seu trabalho.
Havia muito mais em Yuji do que eu presumira de início. Muito mais do que eu poderia ter esperado. E ele estava mexendo comigo, me conquistando aos poucos, e nem sequer percebia isso. Mas eu precisava encarar o fato de que talvez ele não quisesse nada. Era muito provável que ele só se interessasse em mim como amigo. E talvez fosse melhor assim. Para começar, havia uma distância de vários estados entre nós. Por si só, isso já era um problema. Decerto ele não se mudaria de lá apenas para namorar comigo, e levar minha fazenda para o Japão era impossível. Eu tinha um trabalho e um futuro no Texas.
Entrando no chuveiro, decidi que não pensaria nisso naquele momento. Não fazia sentido. Isso precisava ser tratado aos poucos. Minhas fantasias em relação a ele continuariam a ser apenas fantasias.
×××
Trinta minutos depois, meu telefone tocou. Eu estava de pé na varanda, terminei uma cerveja, ainda pensando nele.
- Oi - falei, atendendo ao primeiro toque.
- Oi. Liguei mais cedo hoje. Espero que não seja um problema.
Ele parecia animado. Sorri.
- Tudo bem. Não estava fazendo nada. Só esperando sua ligação.
- Ah - foi a única resposta dele.
- Como foi esta noite? - perguntei.
Astor Munroe também me mandava relatórios completos uma vez por semana, por e-mail. Ele concordara em não dizer a Yuji que eu estava pagando pelas aulas. Achei que ele perderia a motivação de soubesse. Queria que sua cabeça estivesse completamente livre de qualquer coisa que o distraísse de aprender.
- Ótimo. Li para ele um capítulo do livro que ele me deu na semana passada. Não era um livro ilustrado. Foi meu primeiro livro de texto. Não li rápido nem nada assim, mas li sem entrar em pânico e sem errar nenhuma palavra. Também fiz um ditado. O primeiro em que "passei" - acrescentou, parecendo extasiado.
A ideia de ele nunca ter sido capaz de passar num teste ortográfico partiu meu coração. Odiava pensar naquele garotinho que sofria e era ignorado.
- Isso é maravilhoso. Estou orgulhoso de você, mas sabia que seria capaz. Nunca duvidei de você - assegurei. - Ainda estou esperando você ter coragem suficiente para ler para mim.
Aquilo sempre o fazia ficar em silêncio. Ele ainda estava com medo disso, mas, caramba, eu queria que ele confiasse em mim. Queria que ele se sentisse confortável com aquilo. Saber que ele havia lido para Astor me fez ficar com ciúmes do sujeito. O que era ridículo, mas era um fato.
Comecei a dizer que ele não precisava fazer isso se não estivesse pronto, mas Yuji falou primeiro.
- Está bem. Hã, vou pegar o livro que li esta noite - disse ele baixinho. Talvez fosse egoísmo fazê-lo ler quando era óbvio que ficava tão nervoso, mas eu queria muito.
- Vai ser uma honra - admiti.
Uma risada leve veio do telefone.
- Fico dizendo para mim mesmo que você já me viu cantar, e que minha leitura não é tão ruim quanto aquilo, e que portanto posso fazer isso.
Só esse garoto era capaz de me fazer sorrir feito bobo num maldito telefone.
- É verdade - concordei, provocando.
Ele riu outra vez.
- Não é uma leitura profunda nem nada assim. Diga quando você tiver ouvido o suficiente. Não vou ficar chateado. Isso pode matar você de tédio.
Deixaria que lesse o livro inteiro, se ele quisesse.
- Pode deixar. Leia para mim.
Pelos trinta minutos seguintes, fiquei sentado na cadeira de balanço na varanda da frente com as pernas apoiadas no parapeito, escutando a voz doce de Yuji ler para mim o telefone. Ele só tropeçou umas poucas vezes, e eu o ajudei rapidamente para que não ficasse nervoso por minha causa.
Foram os melhores trinta minutos que tive em toda a semana.
VOCÊ ESTÁ LENDO
À Sua Espera (Sukuita)
Fanfiction!!A conta que essa fic estava postada era minha, mas eu não consegui mais entrar!! Sukuna sempre havia preferido a vida simples em seu rancho no Texas à agitação do mundo do pai no Japão. Na verdade, ele quase nunca visita o famoso astro do Rock. ...