À Sua Espera (Sukuita)

Capítulo 30

    Sukuna        

Deu dez e meia e Yuji ainda não tinha ligado, então resolvi ligar. Alguma coisa estava errada. Ele teria me ligado se estivesse tudo bem. O telefone tocou até entrar a mensagem de voz. Desliguei e tentei de novo. A mesma coisa.

Tentei dizer a mim mesmo para não entrar em pânico e liguei para Panda.

Ele atendeu ao terceiro toque.

- Alô…

- Você viu Yuji? - perguntei, sem deixá-lo terminar.

- Sim, ele estava indo para casa a pé mais tarde do que de costume e eu dei carona para ele. Ele disse que estava com dor de cabeça e que ia tomar um banho e dormir.

Dor de cabeça era normal. Eu não precisava entrar em pânico, mas, caramba, eu queria saber se ele estava bem. Não ouvir a voz dele não era aceitável para mim.

- Vá ver como ele está. Ele não está atendendo o telefone e eu preciso saber se ele está bem. Ele pode estar doente.

Panda suspirou.

- Suponho que esta ordem também me obrigue a continuar ao telefone enquanto cumpro a missão.

Não me importei que ele estivesse bancando o espertinho. Eu só queria saber se ele estava bem.

- Sim, exatamente isso.

- Maravilha. Mas, se ele estiver dormindo, isso vai acordá-lo.

Eu havia pensado nisso, mas não podia ficar sem saber. Fiquei imaginando ele no banheiro, fraco demais para chamar alguém ou desmaiado no chão. Meus medos iam ficando mais exagerados a cada segundo.

- Você é mesmo bastante protetor com ele. Daria para imaginar que os dois estão numa relação séria - provocou.

- Estamos numa relação séria e muito exclusiva. Ele não contou para você?

Panda pigarreou.

- Ele não estava seguro sobre o que você pretendia, mas disse que não poderia me acompanhar num encontro a quatro porque achava que você não gostaria disso.

É claro que eu não gostaria. O que Yuji achava que tinha sido tudo aquilo no fim de semana? Fui até lá apenas para impedi-lo de sair com outra pessoa. Deixei meu interesse muito claro, repetidas vezes.

- Ele achou certo. - Foi minha única resposta.

Essa não era uma conversa que eu precisasse ter com Panda.

- Acho que se você não está com nenhuma outra por aí, então…

- Panda, você está tentando descobrir se eu estou trepando com outras mulheres aqui no Texas? Porque, se for isso e você estiver tentando proteger Yuji, então saiba do seguinte: não quero ninguém mais, apenas Yuji. Jamais. Então pare de me perturbar e vá chegar se o meu garoto está bem. Agora.

Panda deu uma risadinha.

- Bem, então está certo. Posso fazer isso.

Soltei um suspiro de alívio. Ele não estava pensando em encontrar outras pessoas. Panda só queria ver se eu estava. Eu ficaria furioso com ele, não fosse o fato de ele se importar com ele. Panda só estava tentando cuidar de Yuji. Gostei disso.

Esperei enquanto Panda caminhava até o apartamento de Yuji e batia na porta.

- Yuji, querido. Se estiver acordado, pode abrir a porta? Estou com um cowboy furioso no telefone, me impedindo de ver novela.

Esperei enquanto ouvia Panda bater outra vez.

- Estou ouvindo a trança - disse Panda, e o pânico lentamente começou a se dissipar.

- Oi - disse a voz baixinha dele dentro do apartamento.

- Quer falar com ele? - perguntou Panda.

Escutei o som abafado deles sussurrando com uma mão tampando o microfone do celular. Detestei isso. Alguma coisa estava mesmo errada.

- Oi, desculpe. Eu estava dormindo. Foi um longo dia. - Era a voz de Yuji ao telefone, pesada de sono.

Ele não estava mentindo. Estava na cama. E ele estava bem.

- Você está se sentindo mal? Peça a Panda para medir sua temperatura - sugeri, ansioso.

- Eu estou bem. Sem febre, juro. Ligo para você amanhã. Só preciso dormir esta noite. Mas não estou doente. Não me sinto doente.

Tinha alguma coisa errada. Eu podia sentir.

- Está bem. Durma então, gato. Mas vou querer ouvir sua voz pela manhã. Não vou conseguir me concentrar até saber que você está melhor.

- Eu vou ligar - garantiu.

- Boa noite. Bons sonhos - sussurrei antes de desligar.

Merda, eu não ia conseguir dormir agora. Alguma coisa estava errada e ele não ia me dizer o que era. Tinha vendido o cavalo, mas precisava estar aqui quando o comprador viesse buscá-lo, amanhã. Ele também ia trazer o cheque para que pudéssemos terminar os trâmites burocráticos. Depois eu precisava ir aos estábulos e pegar algumas reses. Devia ter ido ontem. Agora eu estava atrasado.

Mas Yuji precisava de mim, e eu não podia estar lá. Outra razão para eu querê-lo aqui. Caramba, eu não podia dizer isso para ele ainda. Ele não estava pronto nem sequer para me deixar tocá-lo.

Larguei o telefone e fui ao refrigerador pegar uma cerveja. Tinha uma longa noite pela frente e, se começasse a pensar em Yuji daquele jeito, só ia ficar ainda mais longa.