O Reinado da Raposa (AtsuHina)

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47. TORTURA
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A primeira coisa que Maisha percebeu ao acordar foi que o teto era azul. A segunda foi que não havia dor. Nada em seu corpo estava dolorido. Se não fosse a memória da violência, a raiva atrelada a ela, poderia pensar que houvesse sido um sonho ruim.

Ela moveu a cabeça devagar, lutando contra a vontade de voltar a dormir. O quarto parecia bem mobiliado, porém o que lhe chamou a atenção foi que não estava sozinha.

Haviam duas formas lhe encarando. Pareciam gatinhos, tinham a forma deles, mas eram ausentes de vida. Um era feito de luz, o outro, de sombras. Não tinham olhos, só o contorno deles. Sem íris e pupila.

Eles estavam no travesseiro dela, ao lado de sua cabeça, e miaram quando ela acordou.

Maisha reconheceu o gatinho de sombras. Parecia uma versão menor da gata do Governador, Maeve.

— Está acordada?

Maisha desviou o olhar para a dona da voz. Ou dono. O assistente do Governador Hinata, que ela sabia se chamar Elliot, estava ali lhe olhando. Ela já o havia visto de longe, sentido aquela sensação estranha que ele passava. Mas de perto era pior ainda.

Os cabelos ondulados dele estavam caindo no rosto, de modo a tentar esconder, mas um olho negro com veios roxos ainda estava visível.

— Estou.

Maisha se sentou, então fez uma careta. Não estava com dores no corpo, mas sua garganta estava tão seca que arranhava.

— Quer água?

— Sim... Por favor.

Ele lhe serviu um copo, entregando sem que eles se encostassem. A água estava morna, perfeita para sua garganta. Ela bebeu um copo inteiro e depois mais dois.

— Eu já notifiquei Sua Alteza que você acordou e em breve ele estará aqui.

Maisha capturou a mensagem escondida nas palavras. Elliot devia saber que ela estava desconfortável em sua presença, então logo sairia.

Isso aumentou o desconforto dela. Ele não tinha culpa de ser o que era. Ao mesmo tempo que ela não tinha cabeça para se preocupar com os outros agora.

Uma sensação gelada atingiu seu cotovelo e ela olhou. Uma patinha de luz foi colocada em sua pele.

— O que eles são? — perguntou em voz alta.

— São os gatos de Atsumu — respondeu Elliot. — O de luz se chama Suya, e a de sombras é a Siyo.

Maisha estendeu a mão para eles, hesitante. Esperou eles lhe cheirarem antes de fazer carinho.

E foi isso. Eles ficaram naquele silêncio desconfortável. Maisha tentou se distrair fazendo carinho nos gatos, mas a presença de Elliot era muito forte.

— Nós estamos no palácio? — perguntou, incapaz de suportar aquele silêncio.

— Sim.

Silêncio de novo. Então...

— Desculpe, eu não estou acostumado a manter diálogos com... Desconhecidos. Desculpe se eu tiver soado grosseiro — pediu Elliot. Maisha olhou para ele pela primeira vez em algum tempo, percebendo que ele não lhe olhava.

Ele era tímido.

— Tudo bem.

O silêncio ficou um pouco menos desconfortável depois disso.

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— Olá, Elli — cumprimentou Atsumu ao entrar no quarto em que Maisha estava.