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28. ANTI-NATURAL
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O jantar já havia acabado quando eles voltaram ao palácio, então Atsumu entregaria os presentes depois do café da manhã do dia seguinte. Foi direto para o quarto. Um olhar revelou as novas adições que Sua Alteza havia deixado ali, mas não deu atenção.

A raposa foi direto para o quarto de roupas. Ali havia um espelho. Atsumu o tinha coberto com um lençol. Puxou o pano branco e pela primeira vez em toda sua vida, se olhou no espelho.

Atsumu virou de lado e analisou suas três caudas. A terceira surgiu depois de tocar o Oceano. Todas eram douradas com as pontas brancas, mas as cores da do meio eram mais apagadas.  A do meio era sua cauda, a original. Ela era maior que as outras, menos cheia.

Ela era o reflexo de toda sua vida. E as outras duas eram a vida que ainda viveria.

A raposa ficou ali, olhando elas. Em algum momento, se sentou no chão em frente ao espelho. Em algum momento, por algum motivo, começou a chorar.

— Alteza — chamou fracamente e entre sussurros.

"Tudo bem? Posso ir aí?"

— Venha.

Sentiu o frio primeiro, depois sentiu o carinho atrás das orelhas e por fim veio o abraço reconfortante.

— Por que chora, raposinha?

Atsumu não respondeu, se apoiou totalmente em seu namorado e chorou.

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Minutos ou horas ou uma eternidade depois, Atsumu, com a cabeça deitada nas pernas de Sua Alteza e recebendo carinho nas orelhas, ainda sentia expasmos de soluços. Lágrimas finas ainda escorriam, apesar do choro ter cessado.

Sua Alteza ficou ali o tempo todo, sendo um apoio silencioso. Um pilar sólido ao qual podia se agarrar em meio ao turbilhão que seus sentimentos se tornaram. Ele não fez julgamentos ao fato de Atsumu nem saber o motivo de estar chorando.

— Eu jamais julgaria você. Sei melhor do que ninguém o quanto chorar pode ser libertador.

— Eu só... — Atsumu parou para respirar fundo e não voltar a chorar. — Só não consegui me controlar. Eu precisava externar essa bagunça de alguma forma e só...

— Shh, está tudo bem. Está tudo bem.

— É tão injusto. Por que eu tive que sofrer daquela forma? O que eu fiz para merecer tudo? Minha cauda é tão feia, completamente destruída. E as outras são bonitas e brilhantes. Não é justo.

— Ela não é feia, meu amor. Mas sim, ela foi destruída. Mas lembre-se que as outras só podem ser bonitas por causa dela.

— Eu sei, mas... Não é justo. Eu queria que você tivesse me encontrado antes.

— Eu também.

Atsumu se encolheu, querendo desaparecer e virar uma bolinha. Queria que Sua Alteza o guardasse em um potinho e não deixasse nada no mundo o atingir.

— Eu posso fazer isso. — Não obtendo resposta, continuou: — Por que decidiu se olhar no espelho hoje?

— Vi o quanto tenho de poder. Queria ver como era minha aparência. Mas comecei a olhar e, de repente, estava pensando que se eu soubesse antes eu poderia ter impedido todos eles de fazerem aquilo comigo. Poderia ter salvado meus amigos, e sei que eles estão mortos agora. Eu queria ter feito alguma coisa.

— As vezes não importa o quanto somos poderosos, não vai ser o bastante para protegermos aqueles que são queridos por nós.

Atsumu pensou na família do namorado. Na mãe e irmã brutalmente mortas e no professor amaldiçoado e desaparecido. Abraçou a cintura do príncipe mais forte e enterrou seu rosto nas roupas finas.

O Reinado da Raposa (AtsuHina)Onde histórias criam vida. Descubra agora