Maldito Sejas, Padre!

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   Terça-feira (28), oito da manhã e cá estou eu com minha roupa de coroinha a caminho da imensa catedral católica da cidade.
  Me chamo Paulo, tenho 18 anos de idade, um nada notável garoto de 1,60cm, lisos cabelos castanhos, olhos claros e uma pele cheia de pintinhas na região das bochechas.
  Desde muito pequeno fui ensinado o que era certo e errado segundo a Bíblia, tendo medo de ultrapassar quaisquer que fossem os limites impostos a mim. Com o tempo passei a questionar muita coisa e aos poucos, por mais irônico que isso possa soar, me libertei de inúmeros dogmas.
  Atualmente me entendo como gay, e não pense que esse foi um processo de rápida solução e aceitação pessoal. Para mim, tudo bem, mas para os meus pais já é outra história.
  Semana passada alguém da igreja que frequentamos me flagrou durante um date romântico a noite na praça do centro, acompanhado pelo garoto que havia conversado no grindr. E é óbvio que fui fotografado, já que as imagens chegaram até minha mãe antes mesmo do encontro sequer ter acabado.
  E por isso estou acordado cedo rumo a uma conversa bastante séria com o padre Miguel em relação ao meu suposto pecado. Contra minha vontade claro.
  Enfim chego até a entrada da enorme igreja, sua escadaria de mármore branco com aquelas enormes colunas paralelas davam a ela um ar de magnitude muito grande. Respiro fundo, tentando fazer minhas mãos pararem de tremer antes de subir e entrar lá dentro.
  O ar cheirava incenso de mirra, fileiras de bancos amadeirados percorriam todo o espaço interno, iluminado pelos feixes de luz solar que brilhavam em espectros atravessados nas enormes janelas mozaicas, onde imagens de santos importantes se mantinham reluzindo o tempo todo.
  Em passos lentos e respeitosos sigo andando pelo tapete rubro que me leva diretamente ao púlpito, onde essa manhã estava o tão falado confessionário matinal.

- Bom dia, padre Miguel. - Me sento na estreita cadeira dentro daquela caixa, fechando a porta e batendo os pés contra o chão.

- Bom dia Paulo, meu filho. Como posso ajudá-lo hoje? - Ecoa a voz grossa porém aveludada do outro lado da parede coberta de minúsculos furinhos.

- Perdoe-me, Padre... - Cerro os punhos, precisava fazer aquilo. - Pois eu pequei...

   "Sinto um cheiro inebriante no ar. Um cheiro... Excitante..." - Penso brevemente.

- Todos pecamos. E está tudo bem, desde que seja da nossa vontade buscar a real redenção perante Deus...

- Mas...

- Afinal, lembre-se, Jesus Cristo ama o pecador, mas não o pecado. - Conclui sua frase calmamente.

- Mas padre, e se para mim o que fiz não foi um pecado?

  Por alguns instantes que mais pareceram horas o silêncio toma conta da situação. Quando estou prestes a abrir meus lábios na intenção de dizer alguma coisa ele enfim responde.

- Conte-me mais.

- Não acho que o amor genuíno, em nenhuma das circunstâncias, possa ser fruto de Satanás. Isso sequer faria sentido.

- Prossiga.

- Me relacionei com outro homem, sou gay e não alimento vergonha, culpa, arrependimento ou algo do tipo a cerca disso. Acha que estou errado? Acha que estou... Pecando?

- Filho, saiba que jamais podemos buscar perdão se não for de coração. Portanto, se acha que não fez nada que desagrada ao senhor volte para sua casa, está bem? Os ensinamentos lhe virão, sejam eles por mim, por Deus, dentro ou fora desta igreja.

- Não sei como agradecer as suas palavras, me reconfortou bastante!

- Só há mais uma coisa.

- Sim?

- Você é coroinha da minha igreja, Paulo. E acredito fielmente no poder da penitência para aqueles que são membros importantes desse templo.

- O que quer dizer, Padre? - Começo a suar frio, entrelaçando os dedos.

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