Minho*
Ando em passos apressados até a saída, não enxergando direito tanto pela luz, quanto pelas poucas lágrimas que queimavam em meus olhos.
Não sentia exatamente raiva, sabia que ela o beijara por ter me visto, porém por que ele falou com ela? Por que deixou que se aproximasse? Cadê ele agora? Ele a segurou? Eram tantas perguntas que eu não sabia se realmente queria as respostas.
Já na porta voltada pra rua, tenho o pulso segurado, fazendo meu corpo parar bruscamente, quase tropeçando nos próprios pés, agradecendo aos céus por nem ter dado tempo de ter bebido algo.
— Por favor não vai embora!
— Não tenho motivos pra ficar aqui, Jisung. – respondo um tanto rouco e baixo, não tendo a coragem de levantar o olhar.
— É sério, Minho! Aquilo não foi real, eu nem respondi, ela me pegou de surpresa e foi na mesma hora que você estava perto. – o rapaz segurou minhas duas mãos, fazendo-me olhar para ele, observando seu rosto desespero e os olhos arregalados – Por favor, acredite em mim.
— Acredito em você... Em partes. – a mesma esperança que o fez sorrir, foi arrancada em segundos – Eu sei que a gente não tem nada oficial, mas é difícil de absorver a informação. Quem vai me garantir que você não sentiu nada com isso? Ou que te refez pensar sobre ela? Eu também já fui traído, Han. Eu confio em você, ou ao menos quero tentar, então eu preciso de um tempinho agora.
— Me deixe explicar...
— Por favor. – o interrompo, me soltando de suas mãos – Só um tempo.
Sussurro baixo, mais pra mim mesmo do que pra ele, logo saindo de vez daquela residência, limpando o rosto e seguindo para a casa, não demorando a chegar.
Em passos ainda desgovernados, caminho para o quarto que deixei minhas coisas, pegando o que estava jogado e deixando outras para que os meninos levassem.
Coloco uma calça jeans preta e um tênis da mesma cor, pois viajar de shorts e chinelo não parecia uma boa ideia. Demoro mais do que o esperado pra fazer tudo isso, ouvindo barulho na porta, praguejando mentalmente, pois se eles já tivessem chegado, minha saída seria mais complicada.
Com a mochila nas costas, vou até a entrada da casa e avisto apenas um Changbin bem acabado e não de bebida. Claramente o rapaz havia chorado muito mais do que eu me permiti.
Fico parado e ele também, não tínhamos tanta intimidade, porém estava com o ar de alguém que precisava desabafar e nessas ocasiões, xingo terrivelmente todos os filósofos e velhotes que tiveram a ideia de criar meu curso e me xingo mais ainda por tê-lo escolhido.
Suspiro pesadamente e deixo a bolsa encostada perto do sofá, caminho mais um pouco e o abraço. Dito e feito. O moreno desabou de vez, me abraçando de volta e chorando tão alto e de forma tão sofrida que minha única maneira de ajuda, foi fazer carinho em suas costas e cabelo, balançando um pouco nossos corpos no abraço firme, apenas esperando que se acalmasse.
Cerca de uns cinco minutos, Chang já respirava com mais calma, se afastando aos poucos e limpando as bochechas, pedindo leves desculpas e olhando ao redor, ainda um pouco perdido.
— Olha... Eu não sei o que aconteceu mas algo me diz que envolve o Felix. – o observo desviar o olhar – Então sei que não vai querer falar comigo, porém, o que posso oferecer é companhia pra viagem...
— Como assim?
— Coisas aconteceram e você também não é a pessoa ideal pra quem eu quero contar, então eu estou indo embora agora, pode ir junto, se quiser.
— Quero... Pode só esperar eu pegar minhas coisas? É rápido.
— Claro, vou esperar aqui.
Binnie concordou com a cabeça e deu uma corridinha até o quarto, também não demorando muito a voltar, vestido de calça e sapato, trazendo a mala nas costas.
Pego minhas coisas de novo e caminho ao lado do rapaz para a saída, pedindo um uber até a rodoviária mais próxima, olhando ao redor de forma tão vazia quanto a forma que Changbin também aguardava.
(...)
Depois de longas horas, chegamos na rua de nossas casas, descendo do primeiro n°23 do dia e suspirando até mesmo em conjunto, sendo por volta das cinco da manhã. Nos olhamos em silêncio e acenamos com a cabeça da mesma forma, cada um seguindo para a própria residência.
Chang e eu não conversamos muitos, ele apenas soltava frases desconexas, basicamente se sentindo idiota em alguns momentos, outros se achava traído e na maior parte, sabendo que estava fodido por "ter se apaixonado pelo maior cafajeste" que já conheceu, palavras dele.
Mando mensagem no grupo de amigos, onde só haviam os que moravam comigo avisando que cheguei, tendo a resposta estranhamente de Seungmin, que apenas pediu pra que eu dormisse e que eles iriam sair de lá perto do almoço.
Tranquei a porta ao passar pela mesma e andei até o quarto, deixando a bolsa perto da cama e só colocando a roupa suja no cesto, resmungando sozinho pela preguiça de tomar banho mas ainda assim o fazendo.
Desvio do espelho do banheiro o máximo que posso, não querendo ver as consequências da manhã anterior, até mesmo sentindo minha respiração um pouco mais acelerada pelo pensamento, contraindo um lábio contra o outro. Sei que pedi um tempo mas também não deixo de ficar tristinho por não ter recebido sequer uma mensagem de Jisung.
Balanço a cabeça em negação ou aquilo abriria mais espaço para imaginar que o rapaz decidira voltar pra mulher.
Entro por baixo do chuveiro e sinto meu corpo inteiro relaxar, soltando um arfar cansado e tomando um banho demorado e calmo, pondo uma roupa tão confortável quanto, não demorando a chegar em minha cama.
Não estava com um pingo de sono, pois dormi metade da viagem (e a outra metade, tinha um Changbin que chorava encostado em meu ombro), então fiquei apenas relaxado, cochilando e acordando várias vezes seguidas, aproveitando do silêncio que a casa estava.
Entediado até mesmo com aquilo, pego o celular de novo, vendo algumas mensagens do grupo da sala, alguns colegas de trabalho e no grupo da atlética, xingando este último.
Praguejando contra mim mesmo por ter entrado na liga, vejo que haverá mais eventos nas próximas semanas, um sendo uma festa pelo fim próximo do semestre e o outro seria em parceria com a atlética de letras e de artes cênicas. O destino era uma grande vadia, isso sim.
Como valia hora complementar e eu precisava mais do que nunca, acabei colocando meu nome para fazer parte da organização. Ia demorar um pouco para o evento acontecer, porém ainda mantenho a torcida de não esbarrar com Han por lá, pois pelo que sei, ele não se envolve com eventos da própria atlética, então creio que estarei a salvo.
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Sempre no 23 !¡ minsung
FanfictionTodo dia, Jisung pegava ônibus pra voltar para casa e se sentia privilegiado por poder escolher entre o n° 15, 20 e 23, mesmo que (quase) sempre optasse pelo n°20. Ou Onde Minho amava pegar "seu" n°23, já que o motorista parava de frente ao portão...