Jisung*
Os dias começaram a passar, mandava regularmente mensagens para Minho mas ele normalmente não respondia, sequer visualizava, talvez apenas pra dizer que estava vivo, pois desde o ocorrido na praia, que já fazia mais de uma semana, ele e Felix não davam as caras aqui em casa, apenas Seung e Hyunjin continuaram a frequentar, os outros dois se comunicavam num geral apenas pelo grupo no chat e nada mais.
Lix eu via vez ou outra pelo campus, mas nossa relação não era mais a mesma, então nunca passava de apenas um sorriso e cada um indo para seu canto, já Minho, eu via todos os dias.
Pegávamos o mesmo ônibus de manhã e eu sempre me esforçava pra pegar o mesmo de noite, sempre tentando chegar a tempo de ir no n°23. No começo eu tentava ser ousado e sentava no lugar que nos vimos pela primeira vez, mas o rapaz apenas desviava o olhar e ocupava outro banco, então com o tempo, fui deixando o lugar vago e me sentando em outro que ainda pudesse admirar sua beleza de longe.
Após duas semanas dessa catástrofe, eu já começava a perder as esperanças, choramingando os acontecimentos para Hyunjin, que mesmo sabendo de tudo, não havia se afastado, o que dei graças a Deus.
— Você tem que pensar em como reconquistar o homem, não deve ser difícil, ele é maluquinho por você. – Hyunjin tentou ajudar.
Estávamos já no fim do intervalo, caminhando já para voltar para sala.
— É difícil e vocês não me ajudam, ficam nesse papo de que não querem se meter.
— Você consegue, amor. Escuta, você não vai escapar da festa desse final de semana, ouviu? É sua obrigação aparecer.
Emburrei ainda mais e recebi apenas uma risadinha como resposta, esperneando pela falta de vontade de querer sair de casa.
Deixo um beijinho na bochecha do loiro e sigo caminho para o prédio de meu curso, ainda chorando as pitangas por estar completamente sozinho e morrendo de saudades de ter um Minho grudadinho comigo.
— Achei você! – escuto do final do corredor, me assustando levemente e olhando pra quem era.
— Wooyoung! – o chamei, sorrindo ao que o rapaz parava de correr ao ficar na minha frente um pouco ofegante – Estava atrás de mim?
— Sim! Preciso da sua ajuda pra mais um festival, só que com uma coisa diferente.
— Claro, será apresentação de novo?
Woo apenas concordou com a cabeça. O garoto era diretor da nossa atlética de eventos, então estava sempre inventando festivais, festas e promoções pra que o curso conseguisse mais reconhecimento.
Eu sempre ajudava quando se tratava de textos, poemas e contos. Muitas pessoas tinham dificuldades de escrever mas queriam apresentar, ou até mesmo quando fazíamos parceria com as artes cênicas e teatro, sempre me prontificava em ajudar na parte de escrita.
Gostava de ficar atrás da cortina, nunca fui de falar em público, mas sempre que iam recitar, recriar ou qualquer coisa do gênero, de coisas que eu escrevi, me causava tanta ansiedade que eu nem via as apresentações, mas sempre recebia bastante elogio, já que me citavam nos créditos.
— Sim, preciso que você faça o de sempre, mas com o fato de que também vai ter que se apresentar também.
Dei uma risada alta e genuína com a frase do ruivo, negando com a cabeça e levando como piada, até perceber que o mesmo se mantinha sério.
— O que? Por que querem me torturar assim? Não vou participar.
— A coordenadora do curso disse que estão pedindo pra você aparecer e não ser só um nome. Já teve boatos de que pegávamos coisas da Internet e que inventamos esse tal de Han.
— Não vou participar!
— Você precisa!
— Não vou!
— Vai valer horas complementares.
— Okay, que dia que vai ser?
O sorriso vitorioso do rapaz me fez revirar os olhos, olhando o relógio e vendo que minha aula já tinha recomeçado.
— Sem ser esse final de semana, o próximo.
Suspiro mais uma vez e concordo com a cabeça, recebendo um abraço caloroso do outro e logo o vendo se afastar, esperneando pela quinta vez no dia e seguindo finalmente pra sala. Incrível como estava topando tudo por hora complementar.
Ao final da aula, ando em passos apressados até a saída, começando a correr para pegar meu querido ônibus, agradecendo aos céus por chegar a tempo, entrando no transporte, dando boa noite ao motorista e acalmando a respiração aos poucos.
Levantando o olhar, percebo que Minho estava em seu conhecido banco, porém dormia pesadamente, posso até dizer que de maneira fofa ao ver os lábios um pouco entreabertos.
Pelo sono pesado, crio a coragem de sentar ao seu lado, talvez nem por só a própria saudade, mas um tiquinho de ciúmes de alguém sentar e ele encostar a cabeça sem perceber, jamais deixaria isso acontecer!
Com cautela e no maior silêncio possível, me acomodo no banco e coloco meu fone, observando cada traço do rosto alheio, puxando minha máscara pra cima e sentido o ônibus começar a andar.
Olhando Minho, percebo que Hyunjin estava certo, não posso desistir do rapaz, simplesmente tenho que fazer a maior prova de amor possível, só não sabia exatamente como.
Em meio aos devaneios, puxo meu caderno de poemas e uma caneca, de primeiro desenhando apenas alguns detalhes de seu rosto, até mesmo me aventurando por partes de seu corpo, que logo me ocorreu uma ideia.
Minha melhor demonstração de arte, são meus poemas e, mesmo escrevendo pra Yeji, nunca sequer cheguei a mostrar ou ler (a maluca lia escondido, mas isso não vem ao caso), então talvez seja assim meu modo de conquistar o moreno, o único problema é meu medo e vergonha, não do que eu sinto, mas de tudo que escrevo.
Já estou me expondo demais ao aparecer no festival, sem contar que meu plano é ler duas frases, mandar um tchauzinho e ir embora, como que posso fazer algo grande para Lino? Bom, de algum lugar tem que começar.
Ao fazer toda uma folha completa de Minho, sinto o próprio encostar a cabeça em meu ombro, não querendo saber se estava dormindo ainda ou não, no mesmo instante que uma ideia aparece no meio de pensamentos nublados.
Aproveito o resto do caminho pra já colocar em prática o que planejo, escrevendo um poema simples, pequeno para o tempo que levo, já que tínhamos acabado de virar para a rua de nossas casas.
"nessa madrugada fria
em meu corpo
tu se aninha.os olhos fechados,
sonhando com algo mágico.enquanto pra mim
magia é conhecer vocêe, como se torna lindo
te ver adormecer."Releio aquelas linhas fazendo careta, odiando cada palavra, mas era o melhor que podia fazer pelo momento.
Rasgo o pedaço de folha e deixo por cima do colo alheio, próximo de suas mãos, o cutucando de leve pra que acordasse e saindo do banco antes que abrisse de vez os olhos, apertando o sinal e descendo antes do que seria meu ponto, apenas para que o mais velho não me visse.
Me arrependendo um pouco por causa do frio, vou caminhando pra casa, sorrindo por de trás da máscara ao vê-lo descer um pouco mais pra frente, tendo o papel em mãos, me observando chegar em meu portão. Não me dou o luxo de até mesmo acenar pra ele, só entrando de vez, correndo pra sala com o coração 100% acelerado.
Era a primeira vez que mostrava diretamente meus poemas pra alguém e era o primeiro passo para o plano "Conquistar Meu Vizinho Gostoso... De Novo".
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Sempre no 23 !¡ minsung
FanfictionTodo dia, Jisung pegava ônibus pra voltar para casa e se sentia privilegiado por poder escolher entre o n° 15, 20 e 23, mesmo que (quase) sempre optasse pelo n°20. Ou Onde Minho amava pegar "seu" n°23, já que o motorista parava de frente ao portão...