Aracnofobia, términos e beijos

54 7 10
                                    

- Aracnofobia? De todos os medos possíveis, nunca imaginei que Sekke tivesse algo tão comum.

Segundo Liebe, Sekke tinha surtado mais cedo porque em seu dormitório havia uma aranha. Os gritos que aparentemente toda a Clover School ouviu mais cedo durante as aulas eram dele, exigindo uma detetização no seu quarto - coisa improvável de acontecer, já que a escola já tinha sido detetizada no verão.

- Não sei se atacar algo assim pode ser vantajoso para a gente. E se ele realmente for alérgico a picadas de aranha? — Repito pela décima vez meu ponto de vista. — Talvez estamos atirando no nosso próprio pé.

Bem, gostaria de dizer que eu me importa 100% com a fobia de Sekke e que estava preocupado por sua provável morte, mas aquela não era a verdade. Existe uma diferença entre maldade e malícia — A maldade era gostar de ver a desgraça alheia, a malícia era conspirar para que ela acontecesse enquanto manipulava acontecimentos e pessoas — e Bah-ha definitivamente não era esperto o suficiente para armar uma situação que nem a do ano passado. Francamente, ouvi ele dizer no refeitório alguns dias atrás que cuecas de algodão diminuem o número de espermatozoides consideravelmente, e como ele quer ter filhos, não usa nenhuma roupa intima a não ser nos jogos por baixo do uniforme.

Quem quer que tenha pensado nisso é esperto o suficiente para não ser escandaloso e não colocar um alvo em suas costas. Ano passado, quando eu fui atrás das câmeras para ver quem tinha saído da escola e tinha comprado cera, encontrei uma filmagem de Langris Vaude, o capitão de Spade saindo em seu carro particular. As regras das duas escolas eram diferentes e em Spade você pode sair em qualquer situação sem necessariamente precisar de uma autorização ou um dia destinado para isso, mas quando acusei langris de ter comprado cera para a sabotagem, ele me mostrou uma nota do supermercado que havia estado: tinha comprado um litro de refrigerante diet.

Isso era malícia. Não por comprar o refrigerante, mas pelo o que aquele gesto significava. Langris era meio irmão de Finral, meu veterano e ex colega de orfanato (por uns dois meses, mais ou menos). Finral foi fruto de um caso antes de um casamento de aparências. A família Vaude era muito conhecida por sua fortuna e envolvimento político em Clover, e Langris nasceu exatamente como sua mãe: Rico, mimado e orgulhoso. Finral tinha apenas 1 ano quando sua madrasta chegou, e 2 quando o irmão nasceu.

Posso afirmar que a vida dele nunca fui boa, mesmo como todo dinheiro. A matriarca o maltratava por o considerar impuro e quando o pai presenciava algum tipo de maus tratos, tomava aquilo como uma espécie de castigo e não como uma situação recorrente.

A madrasta, entretanto, nunca foi satisfeita em ser a esposa. Junto com um bando de políticos, ela armou uma acusação para que o pai de Finral fosse preso e fugiu para outro país. É claro que ele muito provavelmente não era inocente de tudo, mas a esposa fez questão de o prender por uns bons anos.

Nesse meio tempo, Finral foi encaminhado ao orfanato até que sua guarda fosse passada para os avós paternos. É aí que eu entro nessa história: Ele era um garoto mais velho que eu quando chegou no orfanato, mas era tão retraído que mal falava com a irmã Lily. Tudo o que ele sabia fazer era agir como um escravo de tudo que pedissem a ele, replicando os obvios maus hábitos que sua madrasta e irmão tinham.

Minha percepção de tempo dessa época ainda é bem falha, já que eu tinha mais ou menos uns 6 anos. Eu posso ter arrastado Finral para brincar comigo e com as outras crianças, obrigando a se abrir e o explicando que ninguém deveria ser tratado como inferior só porque nasceu com certa característica ou de certa situação. Ele ainda era bem envergonhado, mas estava evoluindo. Irmã Lily me disse, depois de eu já ser adolescente, que a madrasta dele tentou brigar por uma chance de guarda na justiça e tinha voltado de vez para Clover, porém o orfanato conseguiu provar que o garoto sofria algum tipo de pressão psicológica e que não havia vínculo emocional nenhum envolvido entre eles — ela o queria agora porque havia descoberto que tinha muito dinheiro no nome do garotinho, mas para usá-lo precisava provar que era sua responsável legal.

Talk To MeOnde histórias criam vida. Descubra agora